26 dezembro 2007

Uma nova melodia

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Chegar ao fim do ano com a festa do Natal é começar sempre algo novo, uma companhia que nos transforma, pouco a pouco, em horizontes maiores.

Os propósitos de novo ano não são ideais de querer mudar tudo de uma vez. Há um saborear cada semente depositada nos vasos dos nossos desejos. Para que cresça em novos sons.

Muitas coisas são sempre as mesmas, nada de novo debaixo do sol, mas existe esta suave melodia que faz crescer cada uma das nossas notas. Que o Ano Novo seja um caminho de descoberta e alimento de coisas essenciais, marcado por um desejo de céu já concretizado e sempre mais colorido.

Vou estar fora até depois do Ano Novo, continuação de Bom Natal, a crescer com a força do recomeço!

25 dezembro 2007

O céu e(´) o coração

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Ontem fui à Missa do Galo a S. Pedro, onde celebrou o Papa. É sempre uma experiência bonita, de um Natal diferente, muito solene, mas que tem um lado de universalidade muito grande e que me faz sentir em comunhão com tantos cristãos que celebram o Natal de Jesus.

Na sua homilia, ele disse uma frase que me tocou muito e ficará para os próximos tempos: "O céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração". Pensar o céu não é ir além dos nossos próprios limites, superiores às montanhas dos nossos desejos ou dos nossos cansaços. O céu é a presença de Deus no coração de quem se sente e sabe habitado por Ele.

E este coração vive na humildade, a mesma que Deus vive quando é pequenino e nasce numa gruta. Há sempre um caminho a fazer para o mais alto de nós, que nasce do mais fundo. Se a nossa fragilidade é a nossa Terra, o nosso desejo de Deus e sermos com e como Ele, é o nosso céu.

Feliz Natal a todos os meus amigos, família e os que me acompanham por aqui! =)

24 dezembro 2007

Feliz Natal! =)

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Temos um corpo. Somos imagem de eternidade. Divinahumanidade. Tudo por nos ter sido dada uma promessa realizada.

Se houver um sol que nos consola, depois de um dia de viagem fatigante, uma montanha dourada entre nuvens. Onde adormeço e me deixo ficar na quietude.

Onde encontrar uma árvore com raízes que cheguem ao outro lado do Mundo. Onde perceba no vento as vozes que me construíram nos desejos. Onde me molhe com a chuva dos meus erros e perceba que o deserto se transforma em jardim.

Não há caminho tão pleno como a aceitação do que somos. E a nossa imagem é uma carne desenhada por uma Palavra que é o dom perfeito. Para mim e para o que vier de hoje em diante. Deus fica entre nós para sempre e os nossos olhos viram-nO, as nossas mãos O tocaram. Ficámos d'Ele.

23 dezembro 2007

O que acontecerá?

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A celebração de momentos como o Natal é sempre uma oportunidade óptima para nos perguntarmos o que podemos fazer de novo na nossa Vida. É importante, durante estes dias, poder ter um tempo de paragem, entre as compras, fazer doces, preparar a casa, para acolher o acontecimento que dá sentido a tudo isso.

Ontem tive a oportunidade de ir a Assis, num dia frio e muito tranquilo, para rezar e perceber que Deus chega sempre à nossa casa e é o único que ilumina as nossas festas. Não foi por acaso que um homem como S. Francisco percebeu na simplicidade e pobreza da sua vocação, o que significa o nascimento de Jesus em Belém. Por isso, foi ele o inventor do presépio!

O Natal põe-nos em contacto com algo tão simples e pequeno que até parece insuficiente e, por fora, tendemos a fazer mais que por dentro. As decorações e as músicas devem ser a expressão de um grande milagre nas nossas Vidas, e continuarmos em tudo os gestos mais simples que Deus Menino nos inspira.

21 dezembro 2007

Vida de origens

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Há alturas em que sinto mesmo necessidade de ir ao campo, depois de muito tempo no meio da cidade. Por ser esta a minha origem, uma terra de cultivo e rebanhos.

Há um simplicidade que começa com o nascer do sol, onde não se ouvem os carros, mas uma vida calma, com rituais precisos. É fácil encontrar as mesmas caras à mesma hora e tudo corre com um tempo que tem tudo de completo. Vivo tanto de mim em memórias destas...

Este Advento pode ser uma descoberta de um tempo simples, levado por dentro, em contacto com a terra que pisamos. Além disso, é na vida de pequenos pastores que surge a notícia de que o Céu está entre nós. Talvez não fosse, por isso, uma surpresa demasiado grande. Havia espaço e tempo para acolher qualquer coisa incompreensível, mas que leva o selo da eternidade.

20 dezembro 2007

Andamos assim...

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É tão bom viver com gestos simples. Não é suficiente ficar pelas ideias, as coisas sonhadas como grandes projectos são motor e são ilusão.

É preciso termos cada vez mais noção de que aquilo que é importante e decisivo toca-nos a alma e a pele. Uma ideia não muda o nosso mundo, mas sim o que fazemos com ela.

E andamos assim, na velocidade de ideias perseguidas. Mas é um correr cansado, não faz sentido não sentir os pés molhados na areia do mar, nem a dureza da pedra onde nos sentamos quando acabámos por subir um monte impossível.

Há uma ideia de Deus para o Homem. E como genial e divina criatividade, podemos tocá-lo e vê-lo, ficou entre nós para sempre. Se fôssemos menos alma e mais corpo quando temos ideias bonitas... e são os gestos simples que mostram o quanto gigante é uma alma.

19 dezembro 2007

O nascimento das coisas secretas

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Há uma vitória definitiva sobre a nossa espera. Tudo o que de maior podemos imaginar torna-se acessível e pertence ao nosso regaço.

Vivemos entre o concreto e aquilo que acreditamos um dia vir a ser nosso. Por isso nos esforçamos, e a Vida faz-se de uma motivação multiplicada em abraços dados ao vento, ou cheiros de rosas de um país longínquo.

A espera de algo Absoluto não nos pode fazer esquecer que nasceu o imenso poder de sermos Filhos de Deus. Em alguém tão pequeno que, numa noite fria, coube numa manjedoura, numa gruta de uma país que ninguém conhecia.

É este o sinal de um Amor infinito. Ser dado no segredo. Se soubéssemos quanto da nossa Esperança está num choro de criança...


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18 dezembro 2007

O meu espaço

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Ontem perdi muito tempo a arranjar um espaço de oração no meu quarto. E ainda não acabei mas, pouco a pouco, vai ficando completo. Estou a gostar do que vai sendo construído.

Há um santuário dentro de cada um de nós, o espaço inacessível a todos, mesmo os amigos mais íntimos. Ao qual só Deus tem acesso. Mas isso acontece quando deixamos abrir a porta e surgir uma palavra completa que signifique esperança, paz... e às vezes verdade que faz mover montanhas e muralhas dentro de nós.

Um espaço de oração devia ser obrigatório na casa de cada pessoa que reza. É um tornar visível a disposição que temos para encontrar Deus. Os olhos, o tacto, os ouvidos precisam de saber que estamos dispostos a viajar algum tempo até a um desconhecido infinito. E a conseguir acreditar que é possível mudar cansaços e rotinas em ondas do mar.

16 dezembro 2007

Só eu sei

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As crianças ensinam tanto. Gosto mesmo de as ver brincar às escondidas, em dias de sol. Lembro-me de, há uns meses atrás, o palco do esconde-esconde ser o largo de uma igreja, cheio de gente. E lá estavam eles, a correr por detrás de muros e troncos de árvores, em fila. O primeiro espreitava e os outros esperavam. Depois, assustava-se e gritava, e todos gritavam e corriam num salve-se quem puder, para chegar ao lugar marcado.

Eles eram os escondidos-vistos-por-toda-a-gente. =) E tantas vezes somos assim.

Porque vivemos neste risco ténue entre o mostrar e o esconder. Queremos ver o que está à nossa espera, detestamos ser surpreendidos. E quando somos apanhados gritamos e fugimos. Mas seria tão bom que as surpresas, boas e más, fossem mais parecidas com este correr a gritar. Porque não é medo, é companhia veloz debaixo do sol e nas pedras do chão. O ser apanhado desprevenido não é o fim do jogo, dá vontade de jogar outra vez, desta vez mais atento.

15 dezembro 2007

3...2...1... =)

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Vivo nesta fronteira entre a alegria e o medo do que me é confiado, ao viver os momentos em que percebo claramente que tudo me é posto nas mãos e ao mesmo tempo me lanço no infinito.

Lembro-me que sempre disse que nascemos para ser grandes. E descubro na minha pequenez uma força inacreditável de amar com todo o sentido. E sinto-me feliz, muito feliz.

Hoje, num passeio, vi uma frase de Goethe a propósito de um aqueduto romano que ligava duas montanhas e duas torres, e estava de tal modo metido no vale e nos declives que parecia que sempre esteve lá!

"E agora percebo com quanta razão sempre achei detestáveis as construções feitas por capricho... tudo coisas nascidas mortas, pois aquilo que verdadeiramente não tem em si uma razão de existir, não tem vida, e não pode ser grande nem vir a ser grande".

E o nosso coração é a fonte mais preciosa de Vida... não temos alternativa à nossa grandeza.

14 dezembro 2007

Até ao fim

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O que é a sabedoria?

Podia ser uma biblioteca cheia de livros, onde acaba por se acumular o pó quando estou fora de casa e não deixo a janela aberta para proteger os meus tesouros literários... sabemos tanto de tantas coisas...

Podia ser uma viagem onde cada passo soubesse de cor a paisagem, onde nada fosse novo, as coisas de sempre, já conseguidas, controladas, feitas minhas.

Podia ser ter respostas imediatas, estar sentado numa cadeira, no alto de uma coluna, onde dominasse o universo das perplexidades do mundo.

A sabedoria está num gosto de laranja, num café da praça, no silêncio da catedral. Ou quando um mundo amado me pergunta até onde quero chegar. A sabedoria está nas dúvidas mais radicais, nas surpresas vividas, na capacidade de me encontrar em tudo o que estou.

Talvez porque temos certezas trazidas por corações que viajam desde sempre e nos fazem sentir pequenos e frágeis. E caminho com toda a sabedoria misturada em papéis coloridos com surpresas coladas. Atravesso túneis com a minha música, cheia de sabores.

13 dezembro 2007

Consolação

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Estive estes dias a ler a nova Encíclica do Papa (Spes Salvi), que aconselho, pela profundidade que tem, apesar de algumas passagens um pouco mais difíceis, mas que no geral é bastante acessível.

E li uma coisa que me chamou imenso a atenção e nunca me tinha dado conta, ou nunca me tinha sido dito. Que consolação - o estado de espírito tocado pela graça do futuro que Deus quer para nós - vem do latim con-solatio. Ou seja, estar-com na solidão. E precisamente esse momento deixa de ser solidão.

É o grande medo de todos nós, sentirmo-nos sozinhos, ou afectivamente, ou nas várias situações da Vida em que gostaríamos de ter o suporte de alguém ao nosso lado. Mas há momentos na Vida em que a solidão é a nossa mais pura verdade, é o espaço onde percebemos a radicalidade da nossa fragilidade. E a consolação surge como uma luz intensa que não nos afasta simplesmente de situações menos confortáveis, mas toma conta de nós quando tomamos decisões que apenas nós podemos tomar.

E as consequências de uma decisão solitária, mas consolada, são caminhos de plenitude, os abraços possíveis que temos para dar e para receber.

12 dezembro 2007

Debaixo do céu

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Hoje não estava para escrever nada. Passeando agora pelo terraço da casa, numa noite mesmo fria de céu estrelado, fiz uma experiência de silêncio acompanhado que me fez cair na conta de como se vive imensamente.

É bom estar bem, em que os dias passam como palavras de um poema, às quais falta dar alguma força de Vida. E nos gestos aparecem consequências de entregas inexplicáveis, vividas por dentro.

Cada dia passa por mim uma multidão de sensações e estados de espírito dos que estão à minha volta. E maravilho-me com a diversidade de pessoas cansadas, ou felizes, ou com ideias novas, ou com sentidos encontrados.

Recebi hoje uma boa notícia de alguém que chegou a uma etapa completa, por causa de ser ela própria. E senti uma alegria como se fosse minha, um espaço que ganhou cor e certeza de caminho percorrido. Há sempre tanto para agradecer! =)

11 dezembro 2007

Amor e medo

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Cada vez me convenço mais da utilidade de trazer sempre comigo um caderno no bolso, onde posso tomar nota de coisas que ouço ou vejo no dia e que trazem uma espécie de luz. Acho difícil que, em cada dia, não aconteça uma mão cheia desses momentos.

E ouvi hoje: "Quem tem amor, não tem medo".

Quando tenho medo de alguma coisa, será que é porque não tenho amor? O medo significa mudanças não desejadas na nossa Vida. Mas às vezes são inevitáveis, e sofre-se com isso. O Amor pode ser então a capacidade de transformar o que não desejo, amar dores e desilusões não é fácil. Mas é um caminho possível...

Quem ama, fica mais simples, e sabe que as coisas são passageiras. Quem ama sabe esperar e ser verdadeiro com os acontecimentos da alma e do corpo. Amar é não ficar agarrado às coisas que passam, é tomá-las como certeza de caminho percorrido e coragem de continuar.

10 dezembro 2007

Amigo

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A experiência da amizade é das mais construtoras que temos na Vida. O outro, que é próximo, funciona como um espelho, no qual reflectimos a nossa história.

É precioso poder partilhar com alguém os acontecimentos da Vida, os desejos, as alegrias, as preocupações e os momentos menos bons. O que é mais bonito numa relação de amizade é a verdade e a liberdade.

Por experiência própria, tenho as minhas melhores amizades como as mais livres. Talvez porque se desenha um espaço comum entre duas vidas onde acontecem as mesmas coisas. Porque não se precisa medir palavras e se vive um acontecimento único onde virtudes e defeitos são amados e transformados. Porque o tempo decide o que fazemos na vida uns dos outros e há coisas que têm a marca da eternidade.

07 dezembro 2007

Imagina que tudo será perfeito

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Para todos por quem rezo*


PS: Título e foto de Sónia Cristina Carvalho

06 dezembro 2007

Gigantes

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Hoje fazia algumas reflexões sobre problemas mais gerais do mundo e senti-me muito pequeno. Pensava o que se pode fazer, a nível pessoal, ou de Igreja, ou mesmo de instituições, para mudar as injustiças no mundo.

É difícil viver entre o possível que está ao meu alcance e a consciência que o que se fará de bem para mudar o mal, é uma gota no Oceano das possibilidades. Os teólogos poderiam dizer que há uma esperança na vitória do Amor sobre todas as coisas e que isso move a Caridade. Também acredito nisso, mas não é fácil quando me dou conta que a fé não tira a fome nem dá casa a quem teve de a deixar, ou nunca a teve.

São problemas que às vezes os sinto como esmagadores. Fazer o que se puder já é muito, desde que não seja um exercício de voluntariado só para acalmar a consciência. Apesar de já ser algo.
Vivemos num mundo confuso, que tem tanto de luz arrebatadora como de escuridão desarmante.

Se fôssemos mais capazes de tocar os corações de quem pode ajudar... aproximar-se de quem sofre é essencial, mas precisamos de muitos mais sorrisos e abraços.

05 dezembro 2007

Sem medos?

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De onde vêm os meus medos? Creio não errar muito se disser: de coisas que nos assustam; das nossas inseguranças. E tenho-me dado conta de algumas coisas:

Que tenho medo daquilo que está fora de mim, ou uma pessoa, um momento, uma circunstância. Normalmente algo que virá a acontecer num futuro mais ou menos próximo.
E tenho medo das coisas que sei que me vão abalar, porque vão mexer em lugares meus poucos seguros: críticas, desprezo, falta de paz, ficar sozinho...

Acredito que em nós não temos fontes de medos. Temos é espaços abertos ou feridas que podem ser tocadas por uma coisa que nos afecta. É quando nos expomos ao que está fora, que os nossos vazios se podem ressentir, ou, pelo contrário, encher-se completamente.

Há um espaço dentro de nós que é semelhante à comunicação de um abraço. De mim para mim mesmo, do que sou sem saber e do que conheço de mim mesmo. Amo o que conheço, maravilho-me com o que vou conhecendo de mim. Neste abraço que me revela quem sou e me dá esta raiz que agarra os meus vazios e não os deixa sem fundo.

03 dezembro 2007

Gestos simples

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Há sempre algo a fazer no caminho de nos encontrarmos a nós mesmos. É uma consequência do deixar-se levar na confiança; naturalmente as coisas desprendem-se de nós e vão ficando arrumadas no coração como momentos de Vida plena, ou como partes de nós deixadas pelo vento da saudade e de memórias felizes.

Não serve para nada guardar mágoas antigas... o que aconteceu teve a sua necessidade e o seu caminho, e o coração tem tempo para as agradecer e sorrir com elas.

O que daria eu para poder dizer que está perto de nós o poder de abraçar o próprio coração e ficar maravilhados por sermos assim, mais sós que nunca, mas rodeados da nossa mais intensa Verdade.

Quem ama nunca está só, porque percebe a Palavra que cria todas as relações e confunde as nossas classificações e os nossos egoísmos. Sou como sou, deixado cair à terra na maior liberdade e esperando o dia em que abrir os olhos quando a chuva me molhar a cara.

02 dezembro 2007

Advento

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Se houvessem mensagens mais claras para ter a certeza do que vem, então a espera perderia muita da sua capacidade de nos transformar. Imaginemos que estamos à espera de alguém que nos vem trazer uma surpresa. Uma coisa é não saber o que é, outra é já nos ter sido dito.

Há uma espera que é original, uma luz nova aos nossos dias. Há outra espera que é um momento em que se passa a ter nas mãos aquilo que já se sabe.

Deus tanto tanto de original como de pessoa que não sabe fazer surpresas e acaba sempre por contar! Se sabemos que Deus vem às nossas Vidas, esperamos aquilo que já conhecemos. Mas é uma parte de Deus feita nossa, não é a imensidão do que Ele nos tem preparado.

O Advento é viver entre o que conhecemos e aquilo que esperamos. Para o conhecimento, temos a certeza do Amor, para a esperança temos a abertura a este inacreditável modo de ser amado, sempre de novo.

01 dezembro 2007

As minhas mãos

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Não resisti a escrever hoje mais uma vez. Estive a trabalhar até agora numa coisa nova que decidi fazer, arranjar tábuas para fazer uns ícones para o meu espaço de oração pessoal.

Não fiquei tanto impressionado com esta ideia - bem gira, por sinal =) - mas pelo trabalho que fiz. Desde o escolher a madeira, cortá-la com a medida certa, lixá-la muito bem e depois envernizar. E fico com as mãos magoadas com a lixa e sujas da tinta...

E ao ver o trabalho terminado, custa acreditar o que era um pedaço de madeira e que agora está preparado para rezar com ele. Como as nossas mãos trabalham com amor os dons que temos à nossa frente! E fiz uma experiência bonita de ir trabalhando em oração e ir vendo como, do trabalho das mãos e da imaginação sai aquilo que desejava.

É preciso meter o coração nas coisas simples que fazemos, rezar com os nossos gestos, maravilharmo-nos com as nossas obras. Viver um presente que construímos a cada instante, deixando para trás tábuas arrumadas em salas cheias de pó e colocando na parede os futuros cheios de Luz.

Ps: Foto de Teresa Lamas Serra. E acho que é a minha mão! =) Se não for, diz, Te*

Sobre ser frágil

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Ontem, um comentário a um dos meus últimos posts fez-me pensar mais seriamente numa questão que tenho sempre presente mas que nunca falei explicitamente.

O tom do que escrevo parte de um optimismo radical perante a Vida, os projectos de Deus para cada um e a bondade essencial do ser humano. Às vezes fico com a impressão que mostro um optimismo talvez ingénuo, ou de quem não partilha o sofrimento de milhões de pessoas que não têm o mínimo para sobreviver ou que são vítimas das maiores injustiças morais e sociais que se possam imaginar. Dói-me cada vez que assisto a estas coisas sem poder fazer nada de notável, apenas o possível ou gestos que parecem uma gota de água no oceano.

Mas o que me fez pensar é esta sensação de julgar, por vezes, que estamos inevitavelmente condenados a não ser plenamente felizes, ou a não conseguir ser coerentes com aquilo que achamos ser bem. Ou por culpa nossa e das asneiras que fazemos, ou por causa das circunstâncias que inevitavelmente nos tiram a paz.

Apesar de sentir e me questionar com estas coisas, acredito firmemente numa capacidade nossa que nasce de um dom. Como dom, encerra algo de gratuito e que deve ser esperado e pedido. É o facto de, algum dia na Vida, ter percebido o que mais quero ser, quando penso em mim no expoente máximo da felicidade.

E não me vejo como uma pessoa sem problemas e sem desgastes... vejo-me naquilo que sou mais fundamentalmente, amado e capaz de amar. O movimento de lidar com a fragilidade é um acreditar continuado na capacidade de recuperar o amor que tenho e, por outro lado, de ser capaz de relativizar - tarefa às vezes quase impossível - aquilo que não é nunca o absoluto. A tristeza nunca será a nossa última palavra.

30 novembro 2007

Feliz ano novo!

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Estes são os últimos dias do ano litúrgico, quer dizer, no próximo Domingo começa o tempo do Advento, um tempo muito bonito e especial de preparação para o Natal.

Normalmente, começamos qualquer coisa nova porque se celebra um determinado acontecimento. A Igreja, pelo contrário, começa o ano com a espera. Isto tem-me feito pensar numa série de coisas, ligadas a coisas que tenho vivido nos últimos tempos.

Que os grandes acontecimentos ficam guardados tantas vezes com o carimbo da surpresa, algo desejado quase inconscientemente que acontece repentinamente e nos dá um olhar tremendamente novo sobre a Vida. Há outros, porém, que são celebrados em pleno, porque se esperaram, com ritos, sinais, mensagens, tempos de espera mais ou menos ansiosa. Vestir o coração...

E quando acontece, uau! =) Era isto que estava à espera, e muito mais acontece.... o excesso de uma presença que chegou finalmente é algo tão especial. Porque devemos viver num presente conseguido, mas é tão importante a espera amorosa...

29 novembro 2007

?

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O que daria em troca da felicidade?

28 novembro 2007

Hoje acredito

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Onde posso encontrar os sinais de caminho certo? Discernir entre sentimentos confusos não é nada óbvio.... Mesmo que viva de certezas já conseguidas, chega um tempo em que somos levados a crescer mais.

O maior inimigo do bem-estar é a instalação de pensar que momentos menos bons já não deviam acontecer. Um olhar mais positivo sobre aquilo que se consegue ajuda a não desanimar. Sobretudo quando as coisas são menos claras, é que somos chamados a acreditar.

Que há um fundo de nós radicalmente bom e amado. Que desejamos sempre fazer o melhor que está ao nosso alcance. Que fazer coisas menos bonitas às pessoas de quem gostamos não é ser verdadeiro connosco mesmos. Que os dias de sol sempre virão.

Não é um optimismo ingénuo.... devíamos aprender cada vez mais com a Beleza que somos e fomos capazes de construir.

27 novembro 2007

Identidade

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Hoje num aula, das mais interessantes que tenho, dei-me conta de uma coisa, durante a discussão do tema que estávamos a tratar.

Que há papéis que desenvolvemos nos vários níveis da nossa vida que têm a ver com as nossas escolhas. Ser padre, ou ser casado, ou trabalhar em determinado sector, ou com determinadas pessoas. Porém, aquilo que está por detrás das nossas escolhas fundamentais acaba por ser a coisa mais radical de tudo: nós próprios.

A nossa identidade leva-nos a uma determinada escolha de vida, que se traduz depois noutras escolhas mais pequenas. Mas às vezes, essas pequenas escolhas ocupam o tempo e o espaço da nossa identidade. Perdemo-nos em coisas que fazemos, queremos ser mais aquilo que mostramos aos outros do que aquilo para que a Vontade de Deus nos escolheu.

No fim, não ficamos muito diferentes de um estilo de vida normal, mesmo que seja cheio de coisas interessantes e bonitas. Faltamos nós.

26 novembro 2007

Deste pouco

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Somos pouco nos nossos gestos e entrega, se compararmos com o Dom do mais fundo de nós. Há qualquer coisa de tesouro insuficiente mesmo nos nossos ideais mais completos.

Tenho descoberto, ao longo destes últimos tempos, em como aquilo que considero perfeito em mim, e no que sou capaz de fazer pelo Mundo e pelos outros, é um reflexo pequeno desta extraordinária capacidade de amar que me constitui no mais fundo.

Porque é fácil fazer de mim um estado acabado e dou daquilo que faço. Mas sou pequeno quando me ponho na origem dos gestos amorosos. Que podem fazer tanto, mas não vêm do meu espaço original.

Entre a humildade de gostar dos meus castelos de cartão e a maravilha de saborear as minhas rochas de liberdade, sinto-me grande nesta minha pequenez... é ser conduzido a algo que recebi e não construí.

25 novembro 2007

A Promessa

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Há coisas que dizemos que nos ligam para sempre. Às vezes nem nos damos conta... Dizem-me muitas vezes, assim como digo também, que estou contigo, que gosto de ti, e coisas semelhantes.

Disponibilizar-me para alguém exige ter espaço em mim para essa pessoa. Que não está disponível só quando tenho tempo ou me lembro. Há coisas que prometemos quando dizemos que estamos de coração. E nem sempre precisamos de estar a repetir isso, apesar de saber bem e ser bonito.

Aprendi o que quer dizer Jesus quando diz que está connosco sempre. Este sempre é muito para além do que nos apercebemos. Muito para além que a nossa maior e mais atenta fidelidade. E sinto este desafio de também ser igual nisto... faz parte da liberdade estar simplesmente, sem esperar resposta... e lembro-me das vezes em que devia estar mais.

Prometo estar no que digo, sobretudo em relação às coisas essenciais... e isso deve sair-me em gestos e lembranças... em entregas felizes!

24 novembro 2007

Olhar

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Estes dias tenho vivido numa tentativa de alimentar uma dimensão que acho que nunca está completa. Procuro viver através de um olhar mais profundo em direcção ao meu mundo.

É importante lidar bem com os sentimentos e os estímulos que vão mexendo comigo. A grande maioria das coisas que nos acontecem não são escolhidas por nós. Se chove, tenho que me adaptar a isso e renunciar a um passeio bonito ao sol, mesmo que fosse a melhor coisa que me poderia acontecer. Da mesma maneira, olhar a fotografia de alguém querido ou de um momento especial, faz pensar em como tudo o que aconteceu foi tão bonito e acabou por me ajudar a fazer o que sou agora.

O gesto de olhar em profundidade as minhas escolhas, às vezes forçadas, nascem de algo que se chama contemplação. Em que me distancio para amar, e percebo as histórias por detrás dos acontecimentos. Para agradecer no fim de tudo, percebendo a Vida que acontece em cada instante.

23 novembro 2007

As fontes da alegria

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Hoje em Roma sopra um vento quente... estranho em Novembro. Mas parece um sopro do deserto, que vem de longe. Há dias em que aquilo que está à nossa volta entra inexplicavelmente. E traz uma sensação qualquer de viagem, de desejo que vem do outro lado do mar e que quer transformar algo em mim.

Sinto um vento feliz, enorme e completo, quando me dou conta de coisas fundamentais como ser amigo, saber perdoar, esperar sem pressa. Surgem encontros que trazem luz e cor a tantas expectativas. Se verdadeiramente me desse conta de como sou construído em cada dia a partir dos meus desejos realizados e das minhas faltas de firmeza.

Mas vivo na paz de quem sabe que foi escolhido para algo grande. Isto traz uma alegria enorme, faz-me ser poeta do vento e viajante de raios de sol e lua. Até onde puder esta indescritível liberdade arrancada do mais fundo, e tão completa....

22 novembro 2007

O dia da Visita

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Sou capaz de viver os dias em grandes horizontes. A minha experiência da Cidade Eterna foi muito enriquecida com alguns dias de visita, de pessoas muito amigas. =) Percorrer as ruas e os monumentos como não faço habitualmente. Captar o ritmo da cidade e as belezas escondidas. Há um olhar para além do que se vê. Que não se faz sozinho, joga-se em partilha e alegria.

E hoje reconheço o dia da Visita. E vou percebendo que acontece em cada dia...perco tanto por viver num olhar mediano.

Encontro-me com uma coragem de superar os limites, apesar de cada dia fazer aquilo que não quero e deixar de fazer o bom que me prometi. Entre Amor e Paciência, abro as mãos e entrego aqueles a quem tenho o dom de amar.

Abrindo o coração num gesto de respeito e liberdade, de ajuda e sentido de eternidade.

20 novembro 2007

Entrar

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O mundo dos outros é fascinante. Não há nada tão bonito como, de repente, ser acolhido num coração sincero e aberto. A primeira sensação é de quase invasão, é tudo tão gratuito.

Nunca sei o que hei-de fazer quando se me abrem tesouros. Sinto-me pequeno perante quem dá tanto mais que eu. E sinto a importância do que me dizem, aliás, vejo-me como num espelho, e tantas vezes as respostas que dou são as que serviriam para mim.

Ou porque já as consegui, ou porque desejo alcançar o que prometo. Cada vez tenho mais noção de que sou tanto daquilo que me é dado. Sobretudo nos gestos de amor e confiança, às vezes mal percebidos, mas que mudam sempre o que existe em possibilidades de ser mais completo...

19 novembro 2007

Serenidade

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É importante não deixar perder a cor fundamental. O pano de fundo da Vida, onde cada dia desenho o que acontece e trabalho com os sentimentos.
Um dia de sol e frio traz oportunidade de estar sentado a enriquecer a imaginação. Trazendo pedaços do passado e transformá-los em desejos presentes.

A serenidade não se assusta com o que acontece, mesmo que doa. Os desafios do dia a dia às vezes são extremamente bloqueadores. E custa pensar que a Vida não é só esta cor. De repente, mergulham-se todos os pincéis na mesma cor escura.

E é nesta altura que nasce o desejo de trazer cores novas e misturar o que acontece com aquilo que há-de vir. E o quadro é tão mais completo....

18 novembro 2007

Uns pelos outros

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O que fazemos na vida uns dos outros... alguma vez nos daremos suficientemente conta da dimensão deste poder de transformar?

Não é em todas as nossas relações que acontece assim, aliás até são poucas. Algo de nós fica, mas há alturas em que se chega a perceber que alguém não seria a mesma pessoa se não me tivesse conhecido. Ou porque se casa,ou porque se namora, ou porque se dão diversas e variadas oportunidades que marcam um caminho.

A minha experiência é esta, de ter conhecido e conhecer pessoas que me fazem diferente, para melhor. E eu ter conhecido e conhecer pessoas que ficaram diferentes, para melhor. Mais importante... não fico dono disso, é qualquer coisa fora das palavras e dos gestos.

Agradecemos o que somos uns para os outros.

15 novembro 2007

Agradecer

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A atitude que nasce da consolação é um agradecimento pela Vida. Fazer a experiência da simplicidade, de estar unido ao essencial, de ser capaz de transformar os gestos em perdão e acolhimento.

Tudo o que aconteceu, assim como tudo o que acontece é muito importante. Os mundos outros que fazem parte da Vida ajudam a ganhar experiência e a olhar para tudo com um sentido sonhado. Mas eu não sou aquilo que me acontece, venho de mais longe e mais fundo, pertenço a uma história que sou chamado a construir e a viver com fidelidade e esperança.

Agradecer tudo, mesmo as mãos vazias e um coração pobre. Sabendo a riqueza que se tem por estar vivo e poder ser para os outros.

14 novembro 2007

Pedro Arrupe

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Celebra-se hoje o centenário do nascimento de Pedro Arrupe, sj (1907-1991), jesuíta espanhol, de Bilbau, médico de formação, missionário no Japão e testemunha da bomba atómica em 1945, e eleito superior Geral dos Jesuítas desde 1965 até 1981, quando uma trombose o fez ficar bastante incapacitado até à sua morte, dez anos depois.

É uma das personagens que mais me fascina. Superior Geral dos Jesuítas na altura em que terminava o Concílio Vaticano II e teve a grandiosa e difícil missão de levar a Companhia de Jesus a viver os novos desafios que a Igreja agora tinha à sua frente.

Há momentos na história das instituições, como também nas nossas vidas, em que o Espírito sopra através de corações e inteligências que percebem o mundo a partir de um esquema completamente novo. O grande exemplo de Arrupe, além da riqueza da sua vida espiritual que tanto me acompanha na vida e na oração, é sobretudo a coragem de pensar de novo.

Partir de coisas antigas assimiladas e amadas, mas, ao mesmo tempo, por-se a caminho entre o risco, a liberdade e a certeza. Que vem da confiança fundada no Amor... são exemplos de estabilidade confiada, para todos os dias.

13 novembro 2007

Por enquanto

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As coisas que nos acontecem ou estão para acontecer vivem-se de acordo com as nossas expectativas. Tudo é importante, os momentos de glória e encontro, e os espaços vazios. Tudo serve para crescer e dar frutos.

É consolador encontrarmo-nos nas nossas raízes, ver que alcançamos os nossos projectos possíveis e somos capazes de amar sempre. Liberdade... é tudo tão óbvio quando vivemos dentro desta Presença que está ali, tão real, que explica os meus mundos e abraça os meus laços.

Nem tudo é perfeito... há sempre que ser melhor. Mas percebo a minha música, não tenho medo de a fazer soar até ao fim. Para quem a quiser ouvir e perceber que há sentido nos gestos entregues, em cada dia.

11 novembro 2007

Amor de Sal

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Porque de Deus fica uma história sempre completa desde o início... e deixo-me levar na memória de um amor imenso e da Sua bondade em mim.

10 novembro 2007

Faz frio

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Há muitos motivos pelos quais gosto do mês de Novembro... é o coração do Outono, e uma tarde de sol tem uma luz muito especial, a cor dos dias é diferente.

Olhar à minha volta e perceber aquilo que me é dado em cada dia enche-me de uma alegria enorme. Tenho sorte, muita sorte com aquilo que Deus faz em mim. Se é um dom percebê-lo, maior ainda é vivê-lo.

E hoje está sol e faz muito frio. Apetece estar em espaços quentes que acolham intimidades. É um momento de estar em casa e saborear laços e frutos. E penso tanto em quem não tem a mesma sorte que eu... que sente o frio e não o sol, que não tem casa ou frutos para saborear.

E, no meio do dom, sente-se esta incompleta fragilidade de partilhar mais do que aquilo que existe para todos. E gostaria tanto de chegar a outras intimidades e levar algo do meu calor...

09 novembro 2007

As pessoas são bonitas

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Já há algum tempo que queria escrever sobre uma coisa que reparo tantas vezes. As cidades têm os seus ritmos e rituais. Sobretudo nas coisas que fazem parte do quotidiano, como picar o bilhete quando se entra no metro, ou fazer determinado percurso para ir trabalhar.

E, às vezes, as coisas mudam, ou o sistema de controlo dos bilhetes, ou cortam uma rua porque vai acontecer qualquer coisa. E as pessoas fazem o que aparece de novo, talvez protestando nas primeiras vezes, mas depois é um novo hábito.

O que reparo e me encanto é esta espécie de solidariedade anónima em que tantas pessoas fazem os mesmos gestos todos os dias. Porque está mandado, ou porque tem de ser para que as coisas funcionem. Mas sinto-me no mesmo barco, a partilhar os acontecimentos comuns.

Talvez devesse estar um cartaz ou alguém a chamar a atenção para o quanto somos iguais em tantas coisas. E isso uniria as pessoas, pelo menos faria olhar com simpatia para quem passa ao nosso lado.

08 novembro 2007

As emoções

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Não sou nada emotivo, ou pelo menos não o transpareço. Até há quem se queixe... Tem a ver com maneiras de ser, precisar de guardar cá dentro, ou não ser movido a expressar-me em qualquer circunstância.

As emoções existem e fazem parte do nosso dia... aliás, são as que acabam por fazer que um dia seja diferente dos outros.

Tal como a expressão das emoções precisa de tempos, ritmos e espaços, também é preciso olhar o terreno onde elas caem. Esse é o mesmo, ou muda muito lentamente. No meu coração encontro um fundo de paz e identificação com um desejo de Deus, que me leva a oferecer tudo com alegria.

Assim, espero com imensa alegria uma visita, fico feliz comigo por reagir livre a pequenos contratempos, sinto-me movido a sair de mim quando é preciso. O terreno acaba por fazer crescer as emoções de uma forma diferente, dependendo do Jardineiro que ali tenho deixado trabalhar. =)

07 novembro 2007

Pergunto-me

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As perguntas sobre o acontece comigo e com o que está à minha volta acompanham-me continuamente. A grande dificuldade às vezes está em encontrar as perguntas certas e as que produzem um resultado que me leve a abrir horizontes.

Há perguntas que sinceramente me trazem respostas surpreendentes, sobretudo aquelas que andei a evitar muito tempo, por medo ou por preguiça. Há outras que são desnecessárias e me fazem insistir em coisas que já passaram e só gastam energias.

A pergunta mais importante tem sido: E agora? Parte de uma contemplação da minha realidade que é amada. Um olhar tocado por uma sensibilidade que acolhe o que sou é a que possibilita a pergunta construtiva. Não faz perder tempo, faz querer avançar em gestos maiores.

06 novembro 2007

Humildade

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Cada vez descubro mais a força que está escondida na humildade. Não é que a tenha atingido, acho que estar a caminho disso, ou desejá-lo, me vai fazendo perceber como é importante nunca estar satisfeito.

Temos uma ideia de humildade que tem qualquer coisa de frágil, ou de dar pouco valor a nós mesmos. Quando é o contrário, precisamente é construir uma ideia excepcionalmente grande das nossas capacidades.

O humilde é aquele que reconhece o outro e se sente movido a acolher, a receber uma Vida fora dele. Entre o dar e o receber, não há uma forma de cálculo ou comércio; a sua forma de se dar é receber. A fronteira entre o dar e o receber é aquela parte de nós que quer ficar com algo próprio. Superar essa fronteira é passar para um nível onde há apenas comunicação gratuita.

Porque cresço quando me dou e o outro cresce na minha gratuidade, por ter em mim um espaço onde possa encontrar alguma verdade sobre a Vida.

05 novembro 2007

Thinking about you

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Às vezes olho perdido para coisas longínquas... trago-As comigo.


Foto e título de Daniel Camacho.


04 novembro 2007

De cor

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Decorar é um verbo cheio de significados. Pode ser gravar na mente, ou memorizar... a origem da palavra diz que é gravar no coração. Somos muito mais rápidos a pensar que a sentir, ou pelo menos pensamos que seja assim, porque tendemos a pensar mais sobre os sentimentos do que propriamente deixá-los falar por si.

Os sentimentos são as cores de contacto entre o coração e o mundo. Não penso Beleza, sinto-a, não penso Amor, entrego-me. O pensamento ajuda a ver a autenticidade do sentimento. Arrumar uma cor no sítio certo.

E, assim, faço o gesto de decorar o meu espaço, encher de cores a Vida, viver em harmonia com o que sinto e com o que se revela a mim próprio como autêntico. Decorar a vida é gravá-la com sentimentos completos, que me unam naquilo que sinto e naquilo que penso, no que quero ser e no que quero fazer.

02 novembro 2007

O meu nome

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Há palavras certas para dizer aquilo que somos? Não é mesma coisa que descrever um estado de ânimo. Descobrir o nosso nome e o modo de o expressar às vezes pode ser um exercício que requer tempo, dias ou mesmo meses.

Qualquer coisa parecida com uma referência. Ou um nome divino de nós, ao qual regressamos cada dia e nos encontramos com esta linha que une a nossa história. As certezas acerca de nós próprios podem iludir-nos tantas vezes. A experiência de nos ser dado um nome que não escolhemos, como quando nascemos, é algo que nos acompanha sempre.

Quando Deus nos diz o nosso nome, percebemos uma força que alimenta os nossos modos de estar e de agir para com o mundo e as outras pessoas. O meu será coragem, ou vento, ou chuva... será aquilo a que fui chamado, como algo que tem uma missão única e completa.

31 outubro 2007

Simpatia

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As lições de catequese fazem-me sempre bem. Hoje fui, como todas as quartas-feiras, dar catequese a um grupo de meninos e meninas que se preparam para a primeira comunhão, na escola dos jesuítas aqui de Roma.

Uma das coisas que mais me fascina é a capacidade de eles exprimirem o que sentem com toda a simplicidade. Normalmente fazemos teorias para que o nosso discurso sobre nós próprios seja perceptível, mas é fácil colocarmo-nos acima de uma sintonia de coração que é mais básica.

Entre o cuidado de nos expormos e o bem que fazemos em falar daquilo que somos, tendemos por vezes a esconder tesouros simpáticos. Fazer a experiência de ser mais autêntico em dizer e fazer o que somos, é um dom enorme.

30 outubro 2007

Sinais

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Aquilo que conhecemos bem faz parte de nós e serve para classificar o que acontece à nossa volta. São as nossas seguranças e, ao mesmo tempo, as nossas propostas de Vida para os outros.

Sempre me questionei muito com uma pergunta que me fizeram um dia: "Mas como é que Deus te fala?" De facto, não é fácil explicar. Fala através de sinais.

E estes sinais são coisas estranhas à minha classificação e às vezes bastante surpreendentes. É uma outra proposta de Vida, que me ultrapassa mais do que sou capaz de perceber. E as minhas seguranças jogam-se em algo novo e na abertura a outras possibilidades. Que não me fazem deixar de ser eu mesmo, mas fico, sem dúvida, transformado em muitos aspectos.

Mais santo, talvez, ou pelo menos com maior vontade de o ser...

29 outubro 2007

Mundos outros

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Existe uma espécie de fascínio por paisagens que não encontramos muitas vezes. Em viagens que amigos meus fazem a lugares exóticos, de África, Àsia, falam sempre de uma característica que os toca muito, sem excepção.

São as ruas cheias de cores, cheiros e sabores. As nossas não são assim... Mesmo as cores e os cheiros bonitos estão organizados em jardins ou ruas preparadas para o efeito, em ocasiões especiais. Por aqui, as cidades são muito racionais... há um modo de medir as coisas e classificá-las no sítio certo.

Uma explosão de cor desorganizada, faz-nos cair na conta de como nos falta deixar falar os sentidos e viver com eles de forma harmoniosa. Contactamos mais radicalmente com uma Beleza fora de nós, que ainda não nos habituamos completamente a fazer nossa.

28 outubro 2007

Acho graça...

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No Domingo, fecham algumas ruas do centro da cidade para que as pessoas possam passear por lá, ou andar de bicicleta, há jogos para crianças e muitos espectáculos de rua. E parei num sítio onde estava muita gente. Eram duas raparigas, presas uma à outra por uma fita, e faziam uma espécie de dança com acrobacia. Era uma música alegre e as expressões delas eram muito engraçadas.

Ao meu lado estava um pai com a filha ao lado... e ele só se ria! A um certo momento, a filha pergunta: - Mas do que é que estás a rir? E ele diz: ah, não sei... acho-lhes graça!

Quem seria ali mais criança? É bom encontrar pela rua os motivos que desconstruam a nossa seriedade habitual e nos façam mais descontraídos. Há momentos que podem ser tesouros preciosos em atitudes que levamos para a rua, quando os carros voltam a andar por lá.

27 outubro 2007

Disposições

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O que quero de mim? Aquilo que nasce de uma força maior, que tantas vezes não é clara. Fujo de mim em tantos gestos e pensamentos... Porque o que está a minha volta é tão chamativo... e procuro não me perder, mantendo sempre uma ideia de fundo: que há muito mais para além do que percebo.

A imaginação pode ser um lugar mais real do que supomos. O que nos move não são tanto as experiências passadas, mas as linhas que estas desenharam no nosso caminho. E o resultado é uma imagem, que tenta ser um sonho possível.

A grande descoberta da realização pessoal é a capacidade de viver entre o desejo e uma imagem de felicidade. E o desejo faz-se gesto, e a imagem faz-se uma casa onde me dou conta que já cheguei, mesmo que não pareça.

 

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