26 fevereiro 2009

Fim de tarde

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Muitas vezes temos a noção que o tempo é demasiado breve e tudo acontece rapidamente. São raros os dias em que chegamos ao fim e podemos dizer que conseguimos fazer tudo o que estava planeado. Mas começo a ter dúvidas sobre o facto de querer dominar o tempo. Porque me dou conta que o motivo principal de perder o tempo destinado ao que estava previsto se chama surpresa.


É como escolher ir a pé em vez de apanhar o autocarro. Demora mais e cansa mais. Mas é melhor em tantos sentidos. Entram na minha vida pequenas histórias com as quais não poderia contactar se corresse a olhar para o relógio. E estas histórias são depois motivos de boas conversas e anedotas entre amigos... uma parte da vida não prevista, mas à qual dou cada vez mais importância.


Ao mesmo tempo, sinto-me com isto na fronteira de uma certa irresponsabilidade, que para não acontecer, me obriga a estabelecer prioridades e a ganhar o tempo da maneira certa. O fim da tarde é um tempo que pessoalmente prefiro para me surpreender, é quando o dia já me deu bastante que fazer, agora é tempo de viver mais profundamente o que acontece e sentir mais concretamente o pulsar de emoções, desejos e sonhos.


25 fevereiro 2009

Porquê converter-se?

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(sugestão de Nélson Faria)


A sugestão dizia mais respeito aos motivos porque uma pessoa se poderia converter ao cristianismo. Hoje começa a Quaresma, e um dos termos chave deste tempo é precisamente a conversão. Creio que não será errado falar disso, porque mesmo um cristão precisa de se converter; ser cristão não é uma espécie de carimbo para mostrar no passaporte, é muito mais que isso. Apresento o que tenho visto serem, para mim, os principais chamamentos à conversão e como estes são os motivos principais para ser cristão.


Conversão a Deus - A história do pensamento humano sempre se debateu com as questões de provar a existência de Deus. Eu próprio tenho dificuldade em racionalizar a fé, com argumentos que, mais tarde ou mais cedo, se é constrangido a dizer: "até aqui podes pensar, agora ou acreditas ou não acreditas". Não é isso. Converter-se a Deus é admitir que o Amor tem uma palavra definitiva em mim e na minha história. Que não sou eu que domino o amor, mas sou escolhido por Ele. Que o máximo das aspirações humanas é amar e ser amado, a impossibilidade de viver sozinho. E como esta força é tão potente que tem de estar além de mim, e que tem de ser Alguém, com um Nome e um Rosto. E que no cristianismo esse Alguém é uma pessoa, Jesus, que mostra o modo de funcionar de Deus e acho-o fascinante e irresistível.


Conversão de mim mesmo - A nossa raiz situa-se no facto de estarmos vivos. É dinamismo, criatividade, altos e baixos, sonhos e desilusões. Temos em nós uma consciência que o amor é melhor que o egoísmo, que o bem é superior ao mal. Mesmo que a Vida nos mostre o contrário. Mas a Vida vale pelo que se acredita e como me posiciono de frente a ela, em todas as suas dimensões. O cristianimo é exigente, porque me mostra um caminho de amor autêntico, que me faz rever a qualidade do meu amor, o compromisso com o bem, o querer superar-me cada dia em bondade e alegria. Acho que muitas pessoas não se atrevem a ser cristãs porque têm medo de amar completamente, com liberdade, responsabilidade, compreensão. E os cristãos não se atrevem, pelos mesmos motivos, a serem-no completamente.


Conversão aos outros e ao mundo - Sou fascinado pelos olhares de grandes horizontes. Quando o meu mundo são 5 amigos especiais, uma casa, um carro e um trabalho de sonho, tenho um mundo minúsculo. Fecho-me em casa com as coisas que gosto e não vejo o pôr do sol. Um olhar grande é capaz de ver as coisas que tem, de modo relativo, a não ficar preso a elas, mas sabendo amá-las do modo certo. Normalmente confundimos liberdade com desprezo. Mas não se identificam, porque quando amo alguém ou qualquer coisa, amo intensamente no espaço e no tempo que tenho para isso, de todo o coração. E não deixo de amar intensamente por partir para outras paisagens, mas sou chamado a um compromisso novo, a acrescentar o meu mundo.


Conversão à Igreja - Ser cristão não se vive sem uma comunidade. Por ser uma religião em que o amor ao próximo é tão importante como o amor a Deus, a Igreja é parte essencial do cristianismo. E tantas vezes sinto incompatibilidades e incoerências no corpo da Igreja, exactamente como as sinto em relação a mim mesmo. É uma instituição com tantas leis, tradições, coisas pesadas... mas da qual me sinto parte. Nunca me senti impedido, por parte da Igreja, de ser livre no bem e no amor. Sempre me considerei previligiado por exprimir a minha autenticidade no ambiente em que estou, e como a Igreja me ensinou a fazê-lo. E a minha autenticidade é também a minha inteligência, que me diz de não conseguir estar de acordo com tudo, mas não sou capaz de falar desde fora, como se a Igreja fosse qualquer coisa diferente de mim. Devo-lhe demasiado para a criticar desta maneira, e posso criticar porque estou comprometido com ela. Se a base for um desejo de bem, e o conseguir realizá-lo, é impossível não haver diálogo.


São estes os motivos que me fizeram e fazem ser cristão. Sinto-me maior por isso, e com consciência que posso fazer sempre mais. A principal exigência é o compromisso de cada dia, autêntico e responsável, mas não é uma luta, é sobretudo uma experiência de compreensão, perdão e confiança, nos momentos em que não sou eu próprio, mas aos olhos de Deus, sou sempre o mesmo, único no mundo.


Boa Quaresma!

22 fevereiro 2009

Quem sou

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(ainda sobre o auto-conhecimento)


No post anterior falei sobre aquilo que fui percebendo ser, de alguma maneira, uma boa descrição da nossa interioridade e o pano de fundo para podermos saber quem somos. Mas gostaria de acrescentar alguma coisa...


Sou um mistério para mim mesmo, e talvez seja possível que os outros me conheçam melhor que eu próprio. Talvez porque tenho espaços em mim dos quais penso que tenho o direito absoluto a ser o único explorador. Triste e iludido. E estes espaços são tantas vezes quartos escuros, fechados à chave. Tornei-me dono das minhas próprias prisões. Acredito que damos uma importância excessiva à pouca luz que temos, comparada com a dos outros. Ou ao modo pouco brilhante como estamos perante a Vida, quando sabemos bem que ela nos exige que sejamos sóis luminosos.


Conhecer-me é abrir os olhos e os braços ao que está em mim e fora de mim. Mas às coisas sérias e bonitas, no fundo, as únicas que são realmente... É ser capaz de abrir os lugares escuros e perceber que os monstros são formigas... é deixar que um fogo aqueça a casa. É olhar pela janela da alma e ver que estou na proa, e tenho diante de mim aquela paisagem que nunca pensei ver. Porque estamos continuamente a pensar que estamos bloqueados, traumatizados, condicionados?


Quando aquilo que sou é vento que enche as velas de um barco, a cor onde o artista mergulhou o pincel, a música que faz chorar alguém de consolação. É entre a coragem e a luz que me situo e existo... as minhas sombras são marionetes ridículas, só fazem aquilo que eu faço quando olho o sol... não têm um mínimo de vontade própria.

19 fevereiro 2009

Auto-conhecimento

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(sugestão da Leonor)


O tema do auto-conhecimento é muito vasto, e admito que também é um dos meus preferidos. Tenho pensado e rezado muito sobre o conhecer-me a mim mesmo e como isso tem sido fonte de compreensão, perdão, desejo de me aventurar e de ser melhor. Conhecer-se a si mesmo não é apenas uma questão de fazer uma lista de qualidades e defeitos, ou fazer algum teste de personalidade. Estas coisas ajudam, mas correm o risco de permanecer à superfície e não nos faz cair na conta daquilo que verdadeiramente somos. Cada pessoa é um mundo diferente e estaria a perder-me se quisesse falar de tudo, pelo que resolvi apontar algumas coisas que fui lendo e pensando, e acho que se podem aplicar a cada pessoa, ao menos como início de um caminho para se conhecer melhor.


A própria expressão "conhecer-se a si mesmo" indica que existe uma distância entre o eu que conhece e o eu que é conhecido. Vamos conhecendo partes de nós, sem nunca conseguir conhecer-nos completamente. Acredito que sou um mistério para mim mesmo, e este é inesgotável, perigoso, fascinante, digno de todo o amor. Este mistério encontra-se dentro de nós, o espaço meu onde realmente sou aquilo que sou. E como posso chegar lá?


Uma descrição do homem interior que sempre me interpelou é a seguinte: eu sou homem psiquico, homem racional e homem espiritual. Ou, em termos mais complicados, e mais personalizados, mas que explicam a mesma coisa: animus, anima e spiritus. Estas três coisas não são três partes diferentes, como se me pudesse dividir em estratos, mas são modos de funcionamento daquilo que sou, a minha origem e para onde quero caminhar.


Animus é a parte que conheço de mim todos os dias, como vejo que me comporto, como leio a minha história, os meus defeitos e qualidades óbvias. É o que, de algum modo, me faz agir, a minha parte mais consciente, a que estámais imediatamente em contacto com o mundo à minha volta.


Anima é a parte de mim que responde ao bem, que me move para as coisas bonitas, que me faz sair de mim. Entre animus e anima, existe muitas vezes conflito. Sei o que é bem, e não o faço, sei que estou a fazer mal e não deixo de o fazer. Li num texto que a anima é como a dona de casa que procura cuidar e arrumar as coisas. Animus entra em casa e toma posse dela, é muitas vezes egoísta, e vence anima com palavras bonitas e boas justificações. Temos sempre justificações para fazermos o que queremos, mesmo que saibamos que não é bom.


Spiritus é a parte mais interior de mim, aquela que anima contempla e onde arranja forças para suportar, acolher, cuidar e transformar animus. Spiritus é tudo o que nos arrasta para o amor, que nos faz livres, não esperar recompensa, de nos dar sem medida e encontrar nisso a maior alegria. E é no spiritus que encontramos a parte mais débil e, ao mesmo tempo, mais poderosa de nós. É débil porque o amor não existe sozinho, e quando a anima é incapaz de encontrar spiritus e de o amar e ser amada por ele, perde força para ajudar animus a abrir-se também ele ao amor. E é a parte mais poderosa, quando eu percebo que o amor que tenho é mim é um dom, dado em medida inesgotável. Amo porque sou amado e tenho consciência que nunca poderei dar tanto amor como aquele que recebo. Mas procuro corresponder com todas as minhas forças, no fundo amar é o que há de mais natural em mim. E é neste movimento e neste lugar onde Deus está.


Procurando simplificar: O auto-conhecimento, ao menos como eu o percebo, está em olhar estas três dimensões e ver aquelas que têm mais força. Sabendo que a minha autenticidade está no amor, que passa pelo querer fazer o bem, e fazê-lo de facto. Quando spiritus, anima e animus trabalham no mesmo movimento, sou aquele que sou. Se a determinado ponto se quebra esta corrente, posso perguntar-me onde está a raiz disso. Encontrá-la, percebe-la, ama-la e recomeçar...



PS: Que engraçado ter encontrado esta foto,de Marta Ferreira. Animus e anima de mãos dadas, os corpos a fazer um coração e a olhar o mundo através de janelas imensas.

17 fevereiro 2009

6 coisas sobre mim

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E hoje respondo ao desafio do Nuno Branco para dizer seis coisas sobre mim! Foi um exercício engraçado, temos coisas mesmo próprias de cada um :). Aqui vai:


1 - Quando ouço pela primeira vez uma música que gostei muito, ouço-a muitas vezes seguidas, independentemente do estilo.
2- Demoro cerca de uma hora e meia a acordar. Preciso de banho, pequeno almoço e café. Se alguém falar comigo durante esse tempo, é provável que não responda ou que diga "sim" sem estar a ouvir o que me estão a dizer.
3 - Gosto de ler aquilo que escrevo.
4 - Uma tarde bem passada é estar com amigos numa esplanada ao sol a beber minis com tremoços.
5 - Odeio que me metam os dedos nas lentes dos óculos ou lhes atirem água para cima.
6 - Agora não tem acontecido muito, mas gosto mesmo muito das longas noites à frente do computador a preparar actividades de oração.


E passo o desafio! Para a Te, a Carolina, a Diliana, o Missé, a Susana e a Mariana! Fico curioso... =)

16 fevereiro 2009

Já está!

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Acabei agora de classificar os 525 posts que fui publicando aqui... quando comecei o Blog, ainda não havia as etiquetas =) Até eu me surpreendo com a produção e imagino que é fácil repetir-se, apesar de irem sendo descritas perspectivas diferentes. De todos os modos, assim deixo à diposição as pequenas reflexões que fui fazendo, para uso pessoal, orações, algo que venha a calhar em qualquer momento da Vida...


Rever estes textos foi uma experiência de consolação. Visitei estes três anos em Roma e fui identificando situações e pessoas muito concretas. Foi um exercício bonito de memória e agradecimento.


A outra coisa que achei curioso, foi ver como fui mudando o estilo, apesar de manter a mesma tonalidade, a linguagem e a profundidade é diferente. Sem nos darmos por isso, vamos mudando e ficando diferentes... crescemos em coisas importantes, avançamos e recuamos... e é esta a nossa Vida, o tesouro mais precisoso que temos entre mãos! Bom proveito =)

15 fevereiro 2009

Cristianismo e outras religiões

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(sugestão da susana)


A questão da multiculturalidade religiosa e o diálogo da Igreja com as outra religiões é um tema que hoje tem muita força, porque em muitos países o convívio diário com outras culturas religiosas é uma realidade, com as suas riquezas, mas também com os seus desafios. Falando do contexto mais português, onde a religião católica é maioritária e a própria cultura é tradicionalmente ligada a ela, as outras religiões e confissões cristãs, se bem que existem, acabam por não ter uma expressão muito grande e nisso até podemos dizer que vivemos num ambiente bastante tranquilo e respeitoso, comparando com outros países onde isso não sucede.


Antes de mais, talvez seja uma informação desnecessária, mas pode ajudar a esclarecer algumas coisas que talvez não se saibam. Da parte da Igreja, há duas vertentes de diálogo com outras tradições religiosas. Uma é o Ecumenismo, o diálogo entre várias Igrejas cristãs, entre a Igreja católica e as Igrejas protestantes (mais presente nos paises do centro da Europa, ou países anglosaxónicos), a Igreja anglicana (sobretudo em Inglaterra) e as Igrejas ortodoxas (sobretudo na Europa de Leste, Grécia e Médio Oriente). Há outras Igrejas cristãs não católicas, mas apontei as mais numerosas e conhecidas. Todas têm como principais elementos em comum a fé em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição, a Bíblia, o batismo e a celebração da Eucaristia.


A outra vertente de diálogo é o diálogo inter-religioso, com as outras religiões não cristãs: Judaísmo, Islamismo, Hinduismo e Budismo, falando das mais representativas. Estas religiões têm em comum a crença no Divino, quer como Deus, quer como um pricípio de Unificação, etc.


Quando se fala destes temas, imediatamente vêm à memória a história passada de guerras e violência, a inquisição, cruzadas, colonização, excomunhões mútuas... É evidente para nós que continuam a haver infelizmente guerras e violência a vários níveis, motivadas por algumas visões da religião mais extremistas, que acabam por ser o maior contratestemunho daquilo que a religião pode trazer à humanidade que é a paz, fraternidade, ajuda aos desfavorecidos... Também devemos ter em conta que, muitas vezes, em muitas situações de guerra e necessidade, são as organizações religiosas as primeiras a entrar no terreno. Tudo isto para dizer que não é bom nem sensato rotular imediatamente a religião, seja ela qual for, como promotora de violência ou que aliena as pessoas dos problemas concretos da vida. Porque, de facto, não é assim. Se há muitos cristãos, muçulmanos, judeus, budistas ou induistas que fazem violência, e que por isso têm mais publicidade, não quer dizer que haja um número bastante maior de cristãos, muçulmanos, judeus, budistas e induistas que são empenhados nos compromissos com o seu Deus e com os outros, nas circunstâncias em que vivem.


Em 1965 foi o final, na Igreja Católica, de uma reunião de todos os bispos do mundo, que acontece muitas poucas vezes, (21 em 2000 anos de história). Foi o Concílio Vaticano II, onde a visão acerca das diferenças de religião foi radicalmente mudada. Antes poder-se-ia ter a ideia de que quem não é cristão, se não se converte vai para o inferno, ou não se salva. Mas o Concílio afirma o segunte: "Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida recta". Sei que aparecem aqui termos mais difíceis de perceber: graça, vontade de Deus, Providência, salvação eterna". Se for preciso, posso falar depois destes temas e explicar o que significam, se não escrevo hoje um tratado!


O que a Igreja refere em relação aos não crentes na fé cristã, é que o mais importante e que realiza o homem é levar com compromisso uma vida de bem, e que procura o bem dos outros, do mundo e a Deus, com sinceridade de coração. A Igreja não condena um bom muçulmano, ou um bom judeu ou um bom anglicano. Na sua própria religião, cada um deve viver de coração aquilo que lhe é transmitido. As religiões têm em comum, apesar das diferentes linguagens e culturas, o amor a Deus, o respeito e o serviço aos outros, sobretudo os pobres e necessitados, e a construção da paz. Acho muito bonito que o espírito humano tenha sempre associado a relação com Deus com um compromisso com o próximo, na paz e no bem. Não há religiões do egoísmo ou da guerra, mas sim leituras erradas dessas religiões.


Nos últimos anos, tem havido, por isso, um esforço de diálogo entre igrejas cristãs e outras religiões, não para se converterem uns aos outros, mas para partirem de bases comuns, a fim de ajudarem a promover a paz e a justiça e a tornar visível o amor de Deus pela humanidade. Creio que todos se foram dando conta que é impossível o regresso ou a existência de uma única religião, mas que é a partir das diferenças que se pode dar o maior sinal de unidade, rezando juntos e trabalhando juntos pela paz, pelo perdão e pela justiça. Algo se começa a fazer, mas ainda se poderia fazer muito mais.


Existe também um enriquecimento mútuo que vem sendo aprofundado. Dou alguns exemplos: no âmbito cristão, os estudos protestantes sobre a bíbila ajudam muito as outras igrejas a percebê-la e a lê-la. A religião cristã tem uma fortissima parte prática, que nasce do amor ao próximo, e isso também desafia outras sensibilidades religiosas mais voltadas para a interioridade. O budismo e o hinduismo podem ajudar muito o tipo de oração cristã, com métodos de usar o corpo, a respiração e a concentração. As igrejas ortodoxas priveligiam muito o uso dos sentidos nas celebrações (música, perfumes, imagens), transmitindo uma presença do divino mais tocável, e que desafia também o modo algo triste com que, por vezes, os católicos estão na missa. Estes elementos vão já aparecendo, mas ainda se poderia fazer mais.


Há, por fim uma questão, que talvez se tenham posto. Se o essencial é o bem, a paz, a boa consciência e a ajuda aos outros, como é que a Igreja diz ter a religião verdadeira? Não são todas iguais? E o mesmo em relação às outras religiões que se afirmam verdadeiras. É sempre uma questão de entender o que quer dizer a Verdade. A Verdade é que todos os homens são amados por Deus e chamados a amá-Lo. Quando isto acontecer plenamente, acontece o chamado Reino de Deus, que se está a construir, mas não está completo. A Igreja é o sinal que expressa, de forma humana - e por isso também contraditória, como todos nós - esta união que há-de acontecer. Não há coincidência entre Reino de Deus e Igreja, mas a Igreja é e deveria ser cada vez mais o referente desta Verdade que está entre nós.


Fui muito longo, mas era difícil resumir mais, peço desculpa e agradeço a paciência =) Se algo não for claro, estou disposto a esclarecer! Boa semana!



14 fevereiro 2009

Pequenos milagres

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Normalmente entendemos os milagres como coisas extraordinárias que mudam o acontecer nosrmal dos nossos dias e que recuperam em nós algo que tínhamos perdido. Por causa de um trabalho que estive a fazer, dei-me conta que a nossa Vida contém pequenos milagres constantes e que as mudanças que estes podem fazer em nós não são mais pequenas que os "grandes" milagres.

Depende muito da forma como situamos o nosso olhar sobre o mundo. Cada coisa, pelo facto de acontecer e existir, chega até nós através dos nossos sentidos exteriores. Porém, o eco que nos fazem toca a nossa interioridade. Acredito que cada coisa acontecida em nós é uma extensão da sua própria bondade. Mesmo as coisas que aparentemente não são boas e nos ferem, temos também a experiência a longo prazo como nos fizeram descobrir e crescer em coisas que nunca tínhamos imaginado. E dizemos: foi bom que isto tivesse acontecido...

Tenho a certeza absoluta que o mundo é bom, as coisas são boas e as pessoas são boas. É uma bondade fundamental que fala e toca a nossa bondade. Quando temos a capacidade de as olhar e aceitar, acontece o milagre de as fazer falar e torná-las gesto e expressão: um abraço, um sorriso, perdão, compreensão, autenticidade, agradecimento e verdade. Temos um poder enorme entre mãos, somos um centro iluminado, um lugar de chegada e partida.

11 fevereiro 2009

Trabalho contínuo

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(sugestão de antrópico)


Falar do modo como rezo. É sempre um modo de me expor, mas acredito não ser suficientemente íntimo para o não partilhar. Falar da nossa vida interior, para além de uma prudência necessária,por vezes é algo que nos devíamos sentir quase obrigados. O trabalho que Deus faz em nós é luz, e essa não se pode esconder. Transparece em gestos e modos de estar, mas também na forma e no conteúdo daquilo que podemos dizer. E assim, poder ser luz para alguém é colaborar com o desejo de Deus de estar com cada um.


Há diversos tipos de oração, que faço conforme as circunstâncias, mas um deles é o mais habitual. Todos os dias rezo a Liturgia da Horas, a oração oficial da Igreja, de manhã e à tarde, que consiste sobretudo na leitura orante de alguns salmos, um pequeno excerto da bíblia e rezar pelas intenções do mundo, juntamente pelas pessoas e intenções que tenho presentes no meu dia. Mas não é só isto.


Sinto que sou sempre pouco merecedor do que Deus faz em mim e por mim. E como o Amor dele por mim me supera infinitamente e não tenho realmente consciência do que isso é. Com o passar do tempo, fui descobrindo que o Espírito trabalha em nós continuamente. É a minha frase espiritual que me define: "O meu Pai trabalha continuamente, e eu também", no Evangelho de João. E tenho disso a certeza mais absoluta. O que fica da minha parte é abrir a porta do tempo, do espaço e do coração para que Ele esteja e trabalhe, como Ele quiser.


Faço uma oração de presença, sem palavras e sem pensamentos, durante pelo menos meia hora, em que dirijo as minhas energias para Deus, dispondo-me à sua vontade. Ponho aquilo que sou diante dele, sabendo que Ele sabe o que preciso para o momento que vivo e esperando e confiando que me dará a graça para o fazer. Não espero milagres, nem visões místicas, quero apenas estar e preciso de estar assim. O que tenho de mais precioso é a Vida, e é isso que procuro oferecer em liberdade todos os dias. Se eu ofereço e me confio, Deus não pode deixar de aceitar, e assim me vai transformando, iluminando aquilo que sou e aquilo que faço.


É apenas isto... continuo a ser teimoso e a não deixar mudar muitas coisas em mim. Mas o amor é paciente, e esta paciência de Deus é também exigente, não gosto de ficar sempre igual ao dia anterior. =)

10 fevereiro 2009

Tempo de Deus

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Partindo da base que escrevi no post anterior, que penso ser uma forma bastante visível de perceber a minha relação com o mundo e a forma como faço parte dele, gostaria ainda de dedicar alguns pensamentos ao modo concreto como poderei no meio de um tempo ocupado, encontrar tempo para olhar a Vida com Deus.

O tempo de oração não é apenas um momento de paragem e dedicação exclusiva à meditação. É sobretudo uma atitude que posso - e devo - transportar nos momentos do dia a dia. Especialmente os seus frutos. Porém, temos necessidade de um tempo exclusivo para a oração, como o corpo precisa de respirar a plenos pulmões para se encher de maior vida e energia. E sabemos bem como é importante respirar profundamente.

Às vezes, chego a ser duro comigo mesmo, dizendo que para aquilo que realmente quero, encontro sempre tempo. De facto é assim, coisas urgentes podem esperar quando aparece improvisamente aquilo que mais quero fazer no momento. Se o que mais quero é estar no silêncio, eu e Deus, então consigo estar. Se quero mais ou menos, ou só alguns dias, então raramente estarei.

Cada pessoa encontrará no seu dia o tempo e o modo de rezar. É essencial que o queira e que precise dele como de ar para viver. O exercício que propus no post anterior é um bom início, partir do dia concreto, e amar-me enquanto o amo, perdoar-me enquanto o perdoo, ser melhor amanhã. Os frutos da constância vão surgindo e, da mesma maneira, a vontade de continuar e aperfeiçoar. Um ciclo virtuoso, rezar bem, faz querer rezar melhor. Mas só experimentando cada dia se poderá verificar como isto acontece.


PS: Este é um dos muitos modos de rezar, amanhã falarei de outro, que pessoalmente sigo, como me foi sugerido! Por hoje ficam estes conselhos, espero que ajudem. =)

09 fevereiro 2009

Interno e Externo

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(sugestão de Cláudia Pinto)


Temos uma vida agitadíssima, cheia de compromissos com a família, os amigos, o trabalho. E pensamos que não há tempo para pensar nas coisas, saboreá-las e rezá-las. Ficamos à espera de dias mais tranquilos, das férias, ou do tempo oportuno em que finalmente arrumo a casa por dentro. Quando chega o momento de parar, é tanta a aceleração interior e os problemas são tão vivos no pensamento, e o corpo não consegue estar quieto. Não foi o tempo que afinal tinha desejado, descansei, mas o meu interior ficou igual.


Creio que muitas vezes temos tendência a pensar que uma coisa é a vida do dia-a-dia e os seus acontecimentos, e outra é a minha vida interior e as suas necessidades incompletas. Todos dizemos que o tempo do dualismo alma-corpo já é passado, mas continuamos a viver isto como pressuposto e a criar uma divisão em nós que não devia existir. Uma forma nova de falar de alma-corpo seria interno e externo. Mas com uma diferença fundamental. O interno e o externo não são duas dimensões separadas com as quais tenho que combater para dar espaço uma à outra, mas são eu próprio, completo. O interno é minha memória, inteligência, sensibilidade, emoção, vontade e liberdade.O externo é a minha pele, que faz parte de mim e me acompanha para onde quer que vá. Na pele estabelece-se o contacto com o mundo, as carícias e os golpes, o frio e o calor, a água e o sangue. Todo eu sou interno e externo, que se comunica, tal como a pele precisa do vasos e dos nervos para comunicar com o corpo e ter a sua função de toque e defesa.


A vida e as suas ocupações tocam-me do exterior e fazem parte de mim. Sou o que me acontece, tal como sou aquilo que sinto e penso, exactamente da mesma forma. Por isso, a vida acontece quando eu estou presente nela e levo à vida aquilo que tenho em mim. Seria preciso amar tudo, como me amo a mim próprio.


Se cada dia for capaz de ter um tempo para estar atento à vida tocada na pele, dar-me-ia conta de que não posso fazer outra coisa que agradecer por ter chegado ao fim mais completo, de pedir perdão por não ter amado tudo o que acontece e, logo, tudo o que sou, de querer melhorar já amanhã o que hoje não foi meu. Tocar a minha pele, agir internamente, partir completo para um novo dia. Três passos, alguns minutos, uma vida mais autêntica.

07 fevereiro 2009

Eutanásia e cristianismo

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(sugestão de Nelson Faria)


Não é muito hábito deste blog fazer apresentações mais "teóricas" de certos temas, mas sim proporcionar algumas reflexões sobre a Vida e o dia-a-dia, de um modo mais pessoal. Porém, aceito o desafio de escrever sobre este tema, até porque estes dias, aqui em Itália, tem sido a notícia do dia. É também invulgarmente longo, mas não queria deixar coisas importantes de fora.

A Congregação para a Doutrina da Fé, na declaração sobre a Eutanásia, apresenta a seguinte definição: "uma acção ou omissão que, por sua natureza ou nas suas intenções, provoca a morte a fim de eliminar toda a dor". Por sua natureza, quer dizer, uma acção ou omissão que provoque directamente e imediatamente a morte; e essa acção ou omissão é intencional , isto é, alguém quer provocar directamente a morte, a si mesmo ou a outro. A eutanásia é, por isso, eticamente inaceitável, pois viola a dignidade da vida humana e a indisponibilidade da pessoa. Quer dizer, ninguém, nem sequer o próprio, tem o direito de decidir quando a sua vida tem de chegar ao fim.

Como há tempos também reflectia: nós temos uma vida, mas não somos a nossa vida, esta supera-nos infinitamente, pertencemos a ela, mais do que ela nos pertence. Tudo isto é fácil de falar, mas na realidade, as situações em que se põe a questão de acabar com o sofrimento, acabando com a vida, são terrivelmente marcadas pela angústia e desespero, do próprio e dos familiares, o qual se deve respeitar acima de tudo, muitas vezes no silêncio e na incapacidade de fazer ou dizer algo. A morte é um momento que nos põe enormes questões sobre a vida e o seu sentido, e não conseguimos ficar indiferentes a isso.

A eutanásia decorre também num ambiente em que acabar com a vida parece ser a única solução para um sofrimento atroz e prolongado, que se deve eliminar, mesmo que seja eliminando a pessoa. Existe aqui uma capa de "bem", mas que no fundo esconde algo que não se pode iludir: mesmo no sofrimento mais incompreensível e inaceitável, é uma Vida que está em questão, a qual não pode terminar de forma artificial e provocada. O magistério da Igreja, porém, considera lícito que se possa administrar medicação para aliviar o sofrimento, mesmo que isso implique o encurtamento da vida. Do mesmo modo, deve-se acompanhar o doente de uma forma humana e integral, em todas as suas necessidades: são os chamados cuidados paliativos.




O exemplo que estes dias ocupa as páginas dos jornais é o caso de Eluana Englaro, que desde 1992, está em coma e à qual, ontem de manhã, por ordem judicial que acolheu o pedido do pai de Eluana, se começou a reduzir a alimentação e hidratação, que conduzirá à sua morte por inanimação. A justificação é que é uma situação irreversível, e que mantê-la seria cair no outro extremo da eutanásia, que é a distanásia, ou seja, manter a vida a qualquer custo.


O magistério da Igreja condena a distanásia. E afirma em relação a isso que é lícito e também um dever moral reconhecer que a vida chega ao seu fim e que deixar morrer não equivale a provocar a morte. A mesma Congregação da Doutrina da Fé refere-se assim à não aplicação da distanásia: "é permitido interromper a aplicação dos meios de que dispõe a medicina avançada quando os resultados não correspondem às esperanças neles depositadas" e "na eminência de uma morte inevitável, apesar dos meios usados, é lícito tomar a decisão de renunciar a tratamentos que dariam somente um prolongamento precário e penoso da vida, sem contudo interromper os cuidados normais devidos ao doente em casos semelhantes".


É precisamente aqui que o caso de Eluana é inaceitável, porque lhe estão a ser negados os cuidados normais, a alimentação e a hidratação, que a fará morrer de fome e sede. Isso choca-me e não devia acontecer assim. Poder-se-ia interromper o tratamento, como situação irreversível que é, mas dar de comer e beber, mesmo que de modo forçado, é algo básico que não se pode tirar a um ser humano.


PS: Só algumas observações laterais a este caso, que fui reflectindo. É muito triste ver como uma situação de sofrimento de um pai que pede ao tribunal para acabar com a vida da filha, já que a lei não o permitia, está a ser explorada indecentemente a nível político. Como as máscaras de bem e de defesa da Vida escondem tantos interesses mesqunhos de popularidade.
Não me sinto no direito de julgar o pai de Eluana por ter pedido isto, são 17 anos de uma situação terrível, de ver a filha sem possibilidades de ter uma vida normal e não suportar isso, mesmo que não concorde com a sua decisão.
Outra coisa que me faz confusão é a facilidade com que o presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, classifica de "assassínio abominável" o que está a acontecer, mesmo referindo-se de forma muito humana ao contexto de dor que envolve esta situação. Concordo que matar alguém à fome e à sede é abominável, mas é muito pesado o título de assassino para um pai que lida há tantos anos com esta situação, preferia outro tipo de linguagem.
Por último, há uma questão de fundo que não aparece muito nestes debates, nem sequer no pronunciamento oficial da Igreja: a qualidade de vida. O que se entende por isso no contexto do fim da vida? Como reflectir de modo mais abrangente, teologicamente, antropologicamente, cientificamente, sobre esta questão? Creio que aqui se devia reflectir mais. Ao menos, vou procurar fazê-lo.


05 fevereiro 2009

Dependência

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(sugestão de m)

A liberdade nas relações é daqueles temas que mais mexe comigo. Precisar de alguém, querer muito bem a uma pessoa é algo tão natural nas relações que são importantes na nossa Vida. De certa maneira, é o modo espontâneo de dar aquilo que se recebeu. E assim, preocupamo-nos, cuidamos, perdoamos, conhecemo-nos e admiramo-nos naquilo que somos.


O que está na base de uma relação deste tipo é o amor, nas suas diversas formas. O amor é comunicação e gratuidade, damos o que somos e temos por causa do outro, para o fazer feliz. Contudo, há um mecanismo muito escondido em nós que procura receber algo em troca do que dá. Esse mecanismo existe e é importante que sejamos conscientes dele e da forma como pode agir. Sempre que uma relação começa a ter como referência o eu e não o outro, podem surgir problemas.


Começamos a cobrar, a desconfiar, a querer mais atenção, a fazer jogos de silêncios... Obrigando o outro a ter-me no centro do seu mundo. O critério que me pode fazer pensar sobre a liberdade em determinada relação é o que sinto quando penso nela: se confiança, alegria, estima, ou tensão, medo e angústia. Se as últimas coisas acontecem, é porque não estou livre e estou mais preocupado comigo. E isso não é bom.


É possível dar-se com limites? Depende dos limites que são, cada relação é uma história única. Mas quando faz sentido, o dar-se sem limites tem a cor da confiança absoluta e da abertura para falar sem medo. Se não, podemos começar a fazer violência, que é a outra face do amor, como há dias escrevi numa outra reflexão.


04 fevereiro 2009

Relações humanas

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(sugestão da sarita)

Nas minhas experiências de amizade, tenho descoberto algo que me fascina sempre mais. Cada pessoa é uma paisagem completamente nova. E completamente diferente. Conheço melhor quem sou quando me dou conta das diferenças: que os outros pensam, são e fazem de outra maneira. Aprendo com isso muitas formas novas de estar na Vida.

Há relações humanas que fazem parte da nossa vida, que não pudemos escolher, a nossa família, colegas de escola e de trabalho. Mas nem todas estas relações poderão vir a ser significativas para mim. Há um passo inicial que começa com uma conversa, uma sintonia, uma coincidência. Se algumas relações não as posso escolher, outras tenho a impressão de ter sido escolhido por elas. As relações significativas são aquelas de amizade ou de estar apaixonado, e isso percebe-se quando o meu dia é marcado por uma intenção, de me lembrar de alguém muitas vezes, ou de ter uma pessoa como critério das minhas escolhas, mesmo as mais pequenas. Estas relações acabam por fazer parte de mim, de uma forma que não posso iludir.

É aqui que surgem duas perguntas. Quem és para mim? Quem sou para ti? E a resposta pode ser juntar paisagens tão diferentes e fazer um mundo cheio de novas cores: mar e montanha, deserto e oásis, planície e cidade. Onde há partilha, alegria, crescimento, perdão, compreensão. Onde um não deixa de ser quem é, mas busca continuamente espaço para o outro construir a sua casa.

Mas outra resposta poderia ser uma só paisagem, onde não houvesse diferenças, ou um bosque onde não soprasse o vento, e o pólen não pode fecundar as plantas: Um peixe no oceano, uma árvore num jardim, um quarto numa casa. Onde o outro estivesse num espaço que eu tivesse já determinado, e do qual ele não poderia sair. Ou vice-versa.

A primeira resposta é liberdade, a segunda é dependência. A amizade e o amor perdem a força se são demasiado apertados entre abraços que não deixam brilhar a força e a beleza. E com isso, podemos acabar por perder tudo.



PS: No site essejota, foram já publicados duas reflexões sobre relações humanas, que gostei muito. Podem ver aqui e aqui. =)

03 fevereiro 2009

Resistência

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(Ainda sobre a questão da ausência de Deus nas contrariedades da Vida)


A Vida não é fácil, não só por causa das nossas próprias experiências de desilusão, solidão, desencanto, medo, mas também pelo panorama devastador que cada dia é posto diante de nós nas notícias. A ponto de nos deixar sem palavras e perguntarmo-nos como é possível que o mal tenha uma força tão grande, parecendo capaz de orientar e controlar a própria história.


No fundo, todos percebemos o que é o bem e o amor que podemos fazer e que poderia acontecer. Mas é um facto que isso não acontece. Somos quase desafiados ou constringidos a acreditar no bem acima de toda a razoabilidade, até haver forças... até ao momento em que não resistimos mais e atiramos a toalha ao tapete.Ponto final. Mais vale preocupar-me com um equlíbrio de vida possível sem utopias. O meu mundo tem fronteiras muito bem marcadas, onde só entra quem e o que eu quiser. Mas não sou impermeável ao mundo, tudo toca e molha a minha pele, e de repente estou diante de um castelo cheio de brechas na muralha, sem me poder defender. Podemos viver assim toda a vida...


Um professor meu descrevia a vida de hoje como um gigantesco labirinto. E a grande questão não era como encontrar o caminho para sair dele, mas sim encontrar o modo de o habitar, fazendo dele a minha casa. Aprender a perder-me, mais que procurar desesperadamente saídas irreais. Acredito que não podemos olhar o facto de experimentarmos dificuldades como algo que não deveria acontecer. Estaríamos a iludir-nos. A questão está em colocar-me na dificuldade e fazê-la minha, num exercício de verdade que pode doer. Mas só posso mudar aquilo que conheço profundamente, é a dificuldade que me fará crescer em criatividade e serenidade. Olhando a nossa história, vemos que as crises foram momentos essenciais para sermos o que hoje somos. Mas não nos lembramos disso muitas vezes...

02 fevereiro 2009

Ver, sentir, confiar

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(sugestão da Carolina)

Se escrevesse num diário os sentimentos de cada dia, certamente iria visitar muitas vezes as páginas mais coloridas. Temos a necessidade de regressar aos tempos em que um dia ouvimos claramente o nosso nome e encontrámos a nossa casa perfeita, arrumada, na paisagem que criámos. Porém, à medida que passa o tempo, vamos escrevendo páginas com canetas gastas e as cores vão perdendo força, sem percebermos porquê.

A Vida faz-nos crescer, somos cada vez mais completos e mais complexos; e o que um dia seria óbvio acontecer, hoje é uma miragem, ou uma saudade. Temos nas mãos uma possibilidade de escrever cada dia a nossa história. Mas o que já existiu, não serve para escrever o que hoje sou e me acontece. Simplesmente vamos virando páginas... sucessivamente.

Acredito que aquilo que uma vez foi dado e conquistado não se perde nunca. É esta a nossa marca de eternidade, o poder criar a partir da matéria que são os nossos dias, mesmo que seja terra seca e vasos quebrados. A força que um dia moveu as minhas mãos não deixa de as fazer mover agora. O que tem de ser construído é mais exigente, mas confio que o resultado será uma obra mais perfeita do que posso imaginar.


PS: A questão da ausência de Deus, tenho-o sentido muito pessoalmente, aparece nas alturas em que as coisas se complicam. E quando mais precisaria de Deus, mais encontrei um silêncio incapaz de responder às minhas perguntas. Mas fui-me dando conta de que fui eu que mudei e deixei de estar atento à minha profundidade, sem a fazer crescer comigo. Entretanto a vida muda, mas as raízes permanecem pequenas e com pouca força para me agarrar quando há vento forte. Regressar à profundidade ajudou-me a descobrir respostas que nunca tinha pensado. E percebi que Deus falava, mas de um modo que eu já não conseguia ouvir. Falava-me daquilo que me assustava e preocupava, precisamente aquilo que evitava pensar. E Ele foi paciente comigo e eu fui paciente comigo. Amei o hoje. E as raízes cresceram...

01 fevereiro 2009

Nova cara

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Como devem ter reparado, acabei de mudar mais uma vez a cara do Cidade Eterna, num intervalo que estou a fazer entre exames!

O motivo principal é que me dei conta de que, ao longo destes três anos, escrevi mais de 500 posts, que acabam por ficar guardados no arquivo, sem grande possibilidade de voltar atrás para procurar um texto especial. Assim sendo, visto que este blog tem como opção fazer pequenas reflexões sobre a Vida, a partir dos acontecimentos do dia-a-dia, ou de aspectos da existência, coloquei uma lista de temas onde poderão ser facilmente encontrados textos a propósito. Ainda não estão todos classificados, apenas cerca de metade =O, mas nos próximos dias irá aumentando a escolha!

Introduzi também, do lado direito, uma caixa de sugestões, onde vos proponho que pudessem sugerir temas e situações da Vida que eu estivesse à altura de dizer qualquer coisa, e que não tenham encontrado em reflexões anteriores. São muito bem vindas!

Mas continuarei a partilhar com vocês aquilo que vou pensando, rezando e fazendo meu do mundo que me acontece... no fundo, a escrita para mim é um abrir caminho dentro das minhas paisagens diárias, para perceber melhor a mão de Deus naquilo que sou e faço. E se o meu caminho ajuda outros caminhos, fico muito feliz por isso! =)
 

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