28 fevereiro 2008

A subir

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Acho mesmo curioso, quando penso e estudo estas coisas, de perceber que há coisas comuns em todas as culturas, mesmo as da Antiguidade, espalhadas por diversas partes do planeta e em alturas em que o contacto entre elas era impossível.

É qualquer coisa de estrutural no ser humano que expressem o seu olhar para Deus ou para o Transcendente, olhando para cima... também por ser óbvio que o céu é o lugar por excelência do impossível de chegar e conhecer. Mas o que fazemos instintivamente quando olhamos Deus é tirar o olhar do chão e das coisas que estão à nossa volta, e entreter o coração com a impossibilidade... que, todavia, se pode ver.

Tem a ver com a humanidade nossa o esforço de subir além de todos os acontecimentos interiores e exteriores. Como uma espécie de nostalgia de uma única realidade, em que o mais profundo e o mais eterno são a mesma coisa. E nós estamos aqui no meio, entre liberdade e prisão, mas sempre com imensidade por cima das nossas cabeças.

27 fevereiro 2008

Contrastes

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Apesar de sabe e rezar tantas vezes que a profundidade das minhas raízes é o que alimenta aquilo que sou e vivo, a minha palavra verdadeira que procuro que resuma os desejos e as coisas conseguidas, a Vida no seu dia-a-dia é sempre mais complexa.

Acontecem dias em que os estados de alma mais ou menos positivos, de alegria e consolação se sucedem a outros mais cinzentos e parados... e às vezes acontece que vários estados se sobrepõem e tentar roubar espaço uns aos outros.

É o equilíbrio entre o que quero conseguir já e não consigo ainda, entre o que sou capaz e a verdade de saber que poderia fazer muito mais... E tudo isto entra no mundo interior como agulhas que pretendem ferir um espaço que entendo que deve ser perfeito e imutável...

Talvez devesse ser mais transparente com o que faço e sinto e deixar iluminar tudo com uma luz absoluta que dissesse também a mesma verdade sobre coisas diferentes... que fizesse ganhar distância e ser realista, sem perder a capacidade de sonhar com enormidades.

25 fevereiro 2008

O que perguntas?

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Pergunto o que queres hoje... se pudesse dar-te o que mais precisas. É sempre difícil acertar com os estados de alma... às vezes acerta-se em cheio e outras ficam surpresas em corpos vazios.

Há uma gratuidade no querer bem, e inventam-se mil viagens de palavras para dizer um mundo de coisas bonitas... é bom completar-se com poesia e pincéis de muitas cores. E depois, há algo de nós que parte para outro lado, alguém fica mais completo.

A vida oferecida a quem se gosta é bonita. Ainda mais se é recebida por quem é capaz de guardar certos quadros em lugares especiais. E perguntas...

Dirias palavras assim a um vento que traz nuvens cinzentas e desperdiça a beleza que pões nas coisas? Gostaria de o fazer mais vezes... trago gestos que só existem para quem acho que não tem direito... e esses são mesmo grandiosos.

24 fevereiro 2008

Vontade

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O desejo comanda muito daquilo que somos. De facto, muitas das nossas acções livres são determinadas por um determinado objectivo que se quer alcançar. Desde as coisas mais pequenas e comuns até às que caracterizam aquilo que somos e fazemos na Vida.

Há tantas coisas ao nosso alcance, que basta estender a mão para as tocar e trazer para casa... não são precisos grandes sacrifícios para ter aquilo que é fácil.

Mas há uma vontade que me faz desejar espaços interiores que marquem o meu modo de estar, onde eu existo como árvore serena e onde os outros procuram abrigo. Esta vontade avalia a minha persistência, porque não se constroem casas firmes em pouco tempo.

A vontade de dizer e fazer o que sou, nasce de uma profundidade que me é comunicada. Aqui não serve tanto um voluntarismo, porque ser autêntico dá trabalho e implica sacrifícios, e tantas vezes desânimos. É uma vontade minha e ao mesmo tempo, vontade tocada... mas suavemente, imperceptivelmente... a vontade de Deus em mim... o que seria de mim se não a quisesse encontrar?

21 fevereiro 2008

A caminho da liberdade

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A liberdade está em relação com a humildade. O nosso tempo é muito dividido, não só entre coisas agradáveis e desagradáveis, mas também dividido nas suas intenções e motivações.

A humildade faz cair na conta de que somos sempre a mesma pessoa que faz muitas coisas diferentes. E acabamos por construir coisas válidas e preciosas, que pomos como bandeiras no cimo dos nossos castelos. E também é preciso que seja assim, nós, os outros e o mundo ganham tanto com isso.

Mas o tempo que se repete sempre é o mesmo que me vê em todas as coisas. Como se nos horizontes do meu tempo houvesse um limite e, para além dele o infinito. O tempo que sou mais profundamente leva-me a ir para onde não sou capaz de programar. A liberdade está em situar-me neste tempo que é o de Deus, que não está no futuro, mas está no meu presente impossível de imaginar. E a humildade faz-me sair do centro do meu tempo, para saber que a importância vital dos gestos da alma é tão eterna quanto presente no mais íntimo meu.

20 fevereiro 2008

Encontro

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Se fizesse a história dos meus encontros, daria para escrever um romance. De vários tipos: de aventuras, viagens, descobertas, sentimental, espiritual. E depois faria resumos e escolhas de capítulos, para ter na mesa de cabeceira...

Finalmente, ficariam poucas páginas. Que decido pintar para pôr na parede. Cada vez é mais difícil exprimir com palavras as realidades vividas em encontros significativos. E quando as palavras não chegam, procuro imagens e paisagens. Os encontros transformam-se em estados de espírito, e fazem-se silêncio.

Agradecimento, paz, certeza de ser amado e ter feito pontes entre o céu e a terra. E é num silêncio agradecido que as palavras tomam conta de mim, ao ritmo da respiração, fazem o meu corpo e transformam a vida, dia-a-dia. Os encontros levam-me para dentro de mim, mas não me fecham, nasce um desejo irresistível de ser autêntico em tudo.

19 fevereiro 2008

A possibilidade de amar

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Uma das dimensões mais difíceis de viver no amor é a paciência. Inconscientemente, quando falamos de entrega, temos a noção de que damos para vir a receber. A meta é a gratuidade, dar sem esperar em troca. Um ideal que é possível, e está presente nas decisões importantes que marcam etapas fundamentais da vida, em relação a pessoas ou a situações.

Já a paciência tem a ver com o tempo, com a espera, com a frustração de não ver frutos no que se entrega. A paciência purifica a entrega, desafia a renovar o sonho antigo, quando prometi aquilo que me abria os maiores horizontes.

É companheira de caminho, é a visão que vai mais longe, é a força da perseverança. Convida a confirmar cada dia os propósitos e a confiar, mesmo na escuridão. Sobretudo, ajuda a perceber que o Amor ultrapassa todas as previsões, vem de longe e, por isso, não depende só de mim.

17 fevereiro 2008

Os lugares do pensamento

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Vou onde quero, num segundo percorro o mundo. Poder estar em paisagens exóticas, onde cores e perfumes fazem parte de mim e, de repente, encontrar-me só no meio do mar. Depois paisagem ruidosa de carros e pessoas.

Os cartazes da publicidade são atractivos, custa um silêncio de luz de velas e uma imagem à minha frente que me diz para parar. Sou este mundo confuso de sentidos e apelos, palavras que passam depressa, para não me deixar encontrar numa única, sempre a mesma...

Se houvesse um som que me dissesse totalmente e decidisse parar de ser outra coisa que não um carro a alta velocidade que passa por entre as montanhas da lua. Impossibilidade que me faz, esta capacidade grandiosa de poder ser tudo.

Mas o que quero é uma unidade, integridade, solidão completa, a flor perdida entre a areia... colhida e levada a decorar os altares de todas as casas.

16 fevereiro 2008

O que estiver além de mim

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Hoje pensava acerca de ser perfeito e dava-me conta de uma coisa... tem sempre algo a ver com as lutas interiores e o desejo de querer mudar coisas na minha Vida, para ser aquilo que acho que devo ser. A Quaresma é um tempo próprio para isso, e este esforço recebe o nome de conversão, que não é mais que um caminho de decisões autênticas, traduzidas em gestos...

Continuo, porém, a achar que fazemos o nosso sucesso depender de actos possíveis... afinal de contas, a nossa genialidade acaba por ser escrita dentro das nossas páginas pessoais, em papel de vários tipos e formatos, consoante o tipo de personalidade e os dons que se têm.

No Evangelho fala-se de amor aos inimigos, cuidar aqueles que nos fazem mal e de quem não gostamos... é bonito de ouvir... mas é fácil achar que não é uma coisa urgente... afinal, o bem que fazemos a quem amamos parece sempre insuficiente...

Mas este tipo de amor é indicado como caminho de perfeição, não a minha, de ser o melhor amigo dos meus amigos (porque esses podem sempre dizer que o sou). A perfeição do modo de Deus está num amor que tenho dificuldade em querer que seja também o meu modo... não chegam pequenas formas de amor, serei capaz de me converter a outras maiores?

14 fevereiro 2008

À noite

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A noite é um tempo misterioso... de algum modo, parece que sempre nos ultrapassa, é algo que não conseguimos dominar. Temos muito mais de luz do que de sombras. A noite permite esconder-nos, e também nos desafia a ser atentos, a não nos deixar surpreender. Assustamo-nos com sombras...

É por isso que, precisamente nos momentos de escuridão, precisamos de ter as maiores seguranças. De dia sabemos por onde ir, mas de noite, é preciso que alguém nos indique caminhos e nos dê pistas.

A noite pode ser, por isso mesmo, o lugar para pensar que não nos bastamos a nós próprios. E, por um lado, é consolador pensar que somos feitos para andar às claras, e por outro, que precisamos uns dos outros. A noite é o lugar de descoberta do nosso mistério, a possibilidade de abertura às coisas que nem sempre temos coragem de conhecer.

13 fevereiro 2008

Ser pleno?

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Acredito firmemente que a nossa Vida é tocada de eternidade. Temos todos na nossa história pessoal aqueles momentos que resumem anos de procura e conhecimento. Em que podemos dizer que foi o dia em que me tornei uma outra pessoa, ou que mudou a minha vida. Também os momentos que marcam definitivamente pela negativa, que impuseram rupturas e decisões dolorosas. Em tudo isto há uma dimensão de qualquer coisa de definitivo que pode ser tão libertador, iluminador ou tão destruidor.

Por isso temos sempre atrás e à nossa frente um caminho complexo. Que procuramos que seja pleno, em que tudo seja linear e óbvio... e descobrimos que o que não abunda são as respostas fáceis.

Uma vida plena, não é uma vida cheia...aliás as nossas agendas super preenchidas falam-nos mais de vento do que de mar. A plenitude está em pôr uma cor dentro dos meus espaços vazios, ou cinzentos. Que ainda por cima são espaços que nem sei como os preencher. Talvez seja este o desafio e a surpresa: de deixar que sejam pintados por Outro que sabe muito mais de mim e da minha Vida que eu próprio... E a confiança assim gratuita não é fácil, porque teimo sempre em ser dono de mim.

12 fevereiro 2008

Ver como por um espelho

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Esta é uma expressão do hino da Caridade, da 1a Carta aos Coríntios, que expressa aquela que é a nossa condição presente, de termos uma imagem de nós e de Deus que é marcada pela falta de certeza do conhecimento.

Por ser falta de certeza, não quer dizer que não haja nenhum tipo de conhecimento, mas sim uma intuição que se leva por companheira de viagem. Que tende a ser esclarecida ou escondida. A riqueza da Vida está no progresso que fazemos ou, ao menos, no desejo de progredir para uma luz mais total sobre nós próprios. Talvez seja este o grande desafio da Quaresma.

É inevitável olhar a Quaresma como um tempo incompleto, às vezes cinzento... porque também somos assim. Mas pergunto-me tantas vezes quando serei capaz de me entregar completamente à luz de Deus sobre mim... de deixar que seja Ele a dizer-me a minha imagem... porque Ele pode dizê-la, e só Ele.

Se for assim, um salto no escuro de um conhecimento que fala de mim, quando não percebo tudo o que sou... encho o desejo de algumas certezas e ainda maiores surpresas, e isso é muito iluminador.

11 fevereiro 2008

As imagens de mim

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O que poderia pôr como modelo de mim mesmo, para o qual olhasse quando me quisesse construir ou mostrar ao meu futuro?

O que tenho já presente daria para pintar um mundo inteiro... de facto, somos complexos e não paramos de nos associar com tantas histórias e lugares. Sobretudo com pessoas, aí novos mundos às vezes tão impossíveis de alcançar. Não dominamos o que somos, a nossa história é muito vasta.

Isto acontece se fizer uma paragem séria no meu presente e olho para o que sou... cores bonitas, acima de tudo... e agradeço. Para a frente ainda é mais complicado. Se sou capaz de prever muito dos meus programas, não tenho certezas absolutas do minuto que vem já a seguir. Há um tempo futuro que faço, mas outro, o mais importante, é-me dado, com todas as suas circunstâncias... a esse posso reagir, ferido, admirado. agradecido, revoltado...

O tempo não cabe nas minhas medidas... porque tem um outro Senhor que assiste de sempre e para sempre... se alguma programação há na minha Vida, faz todo o sentido que seja pensada amorosamente... as provas depois de tudo o que acontece fazem-me viver nessa esperança.

10 fevereiro 2008

Tentação

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Tentação é uma palavra que nos traz sempre algum medo... talvez por ser a nossa experiência de fragilidade e saber que tantas vezes fazemos e sentimos aquilo que não queremos. Tem a ver com o facto de sermos incoerentes com os ideais e isso por vezes cansa-nos e desgasta-nos.

Mas não nos devemos desanimar, aliás, por sermos frágeis é que podemos buscar as oportunidades de sermos fortes até ao limite de nós próprios. E porque somos feitos assim, temos de viver com isso de uma forma transformada.

Classicamente, também a partir do Evangelho, há três fundos de tentação: o ter, o ser e o poder. Talvez a história da criação seja o reflexo dos nossos gestos, de estender a mão e querer apanhar um fruto que não nos pertence: e tentamos ser outros diferentes de nós, tentamos ter aquilo que não precisamos e não nos completa, e tentamos ter poder e dominar sobre os outros e as situações.

Mas devemos aprender a ser simples, a ter confiança e a poder servir. Isso é o que mais está ao nosso alcance. Desenvolver num sentido positivo o impulso da tentação, realiza-nos mais do que tentar completar-se com ilusões e frustrações de curto, médio, ou longo prazo.

07 fevereiro 2008

Fazer com alegria

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É bom rodear-nos de coisas bonitas e alegres... que não servem para esquecer sombras, mas para lembrar que estas não são tudo.

Hoje pensei em últimas palavras, e nas coisas que posso dizer que tenho como definitivas... são muito poucas, ou talvez nenhumas... Há uma parte da nossa experiência de ser completos, de verdadeiras formas de amar e ser amado, de certezas de caminhos a percorrer. Mas isto tem qualquer coisa de tão definitivo como sentir o vento.

É uma experiência de liberdade e confiança. É belo sentir o vento no alto da montanha, cheguei ao topo das minhas considerações e à resolução dos grandes dilemas da Vida. Mas passa depressa, fica o regressar de coração cheio as coisas de sempre, com uma nostalgia de ter voado para longe.

Porque o meu definitivo tem uma parte eterna, que nunca posso considerar minha... alguns chamam sorte, fado ou destino... Prefiro dizer que é uma eternidade presente. Vivo no meio de cores que atravessam transparências, e com as quais vivo feliz.

06 fevereiro 2008

Quaresma

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A Quaresma começa com uma celebração bastante particular, que é a imposição de cinzas, como sinal de conversão e penitência. É um gesto muito antigo, que vem já da tradição judaica e que se fazia em momentos de dor ou de arrependimento.

O sentido da cinza hoje tem a ver sobretudo com a humildade. De reconhecer que, no meio de todas as nossas possibilidades, por vezes fazemos coisas que não nos deixam bem e reconhecemos que acabamos por não ser completos.

As cinzas fazem-nos ter consciência de que somos criaturas feitas de terra, mas que isso não significa um humilhar-se gratuito. Aprendemos sobretudo a perceber que é a terra que Deus tomou nas mãos e nos fez. Se é sinal de humildade, é necessariamente também sinal de uma predilecção especial de Deus por nós, que nos faz como sua obra-prima.

Daí que começa hoje um caminho desde a nossa origem, sabendo o que somos, terra, mas em direcção ao que já somos e seremos completamente, Luz.

05 fevereiro 2008

Gratuidade

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Hoje um agradecimento cansado... de ter chegado a casa e ter encontrado conforto. Não um espaço habitual, mas qualquer coisa de novo e ao mesmo tempo esperado. Os caminhos de cada dia vão-nos revelando surpresas, gestos de um rosto que imaginamos ser a nossa mais perfeita beleza.

Há dentro de nós uma sede própria do deserto, mas não aquele que nos leva à solidão. É esta irresistível paisagem de poder estar entre pequenas flores e regatos de água, entre paisagens impossíveis. Para quem deseja unir o que vive com aquilo que realmente quer, faz acontecer um milagre.

Que muitas vezes, de tão grande e conseguido, nos parece gigante para os nossos pequenos abraços. Talvez por isso estamos aconchegados em abraços bem maiores....

02 fevereiro 2008

O que me pertence

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Quando espero alguma coisa ou alguém, vivo o tempo de uma forma muito particular. De certa maneira, não sou dono do meu tempo. Porque está dependente de uma hora marcada, de uma chegada ou de uma partida. Tem a ver com qualquer coisa fora de mim. E isso ocupa-me por dentro.

A esperança cristã tem esta característica de me fazer viver um tempo que me ultrapassa, mas que não deixa de ser aquele que tenho. De algum modo, é esperar uma presença que conheço, mas que não possuo.

Seria uma fonte de tensão pretender marcar corações segundo a minha medida... porque não está em mim decidir a chegada dos outros na minha Vida. Mas aquilo que me pertence é ter o melhor lugar e as melhores flores para dar, quando o que espero se torna Presença e me bate à porta de casa.
 

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