25 fevereiro 2010

Começar

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Quando começamos a ter a impressão que o tempo nos falta para o que queremos, estamos a cair na conta de que os compromissos que assumimos, juntamente com os imprevistos de cada dia, nos ocupam a a mente e o coração de uma forma não organizada.

É inevitável que a vida, como a temos hoje, seja marcada pela pressa e pelo acumular de coisas, entre trabalho e descanso, família e amigos, lazer e compromissos. Se é verdade que a determinada altura, teremos de dizer não a algumas coisas, é certo também que muitas vezes não nos resta alternativa senão em fazer o que nos aparece à frente.

Existe uma sabedoria que nasce da consciência de que não podemos viver só em função da agenda, porque a Vida é muito mais que uma série de acontecimentos, é sobretudo a qualidade e a luz pessoal que pomos em todas as coisas. Se não temos o tempo e o espaço para ganhar contacto com aquilo que verdadeiramente interessa, acabamos por nos dispersar. É importante encontrar o ponto de partida de cada dia, que não nos deixe fugir a vida por entre os dedos. 

Porque não, em cada manhã, fazer o exercício de olhar o dia como oportunidade de completar o que sou em coisas pequenas? Em cada dia, eu me manifesto e não deixo que os ritmos me tirem a serenidade.

22 fevereiro 2010

Celibato

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Sugestão de Aprendiz

Depois de algum tempo, e com muitos temas atrasados, retomo as sugestões! Na altura em que surgiu este tema, recordo-me que era a propósito de um acontecimento muito falado nas comunicação social, em que um jovem sacerdote resolveu deixar o seu sacerdócio por se ter apaixonado. É inquestionável que o tema do celibato provoca muitas reacções, quer da parte de crentes, quer de não crentes.

O celibato é entendido pela Igreja como um sinal de consagração. Uma pessoa decide livremente entregar a sua vida a Deus e ao serviço dos outros, renunciando, não à sexualidade, mas sim ao seu exercício. Um consagrado não é um extraterrestre, é um homem ou uma mulher que vive a sua sexualidade e é chamado, como todos, a vivê-la de forma integrada e aberta à relação com os outros. Não se consegue viver sem afectos, nem a ninguém é pedido isso.

Uma coisa que creio que nunca fica clara é que se fala muitas vezes do celibato como uma imposição. O celibato é um convite a um determinado estilo de vida. Quem escolhe ser padre, ou religioso, sabe que o celibato faz parte da sua escolha e, na sua liberdade, opta por isso. Mesmo consciente da própria fragilidade e da possibilidade que não se possa alguma vez ser coerente com esse compromisso, a pessoa que escolhe ser célibe fá-lo com esse desejo. Uma pessoa que claramente vê que a sua realização pessoal e a sua missão não passa pelo celibato, não escolhe este tipo de vida. Do mesmo modo, a quem casa, não se lhe é imposta a fidelidade, mas é o ponto de partida básico da sua opção. Quem casa ou quem namora, quer verdadeiramente ser fiel, como base de uma relação autêntica e verdadeira. O que quero dizer com isto, é que o celibato nasce de uma opção livre e consciente das suas consequências, incluindo uma certa solidão. Tal como no casamento, se casa livremente e querendo ser fiel, consciente das suas consequências, de alimentar constantemente a relação, mesmo no meio das dificuldades, rotinas e cansaços.

Não quero estar a julgar o comportamento deste sacerdote, que só conheço a história por fora, ou de muitos religiosos que não são coerentes com a própria escolha. Importa é reflectir sobre o porquê de estas coisas acontecerem, se se deve à própria estrutura da pessoa ou falta de maturidade, a uma formação pouco atenta a estes aspectos, ou, a meu ver, a questão principal, o não cuidar o centro da própria vocação, que é a oração. Um padre ou religioso que não reze, não se poderá sentir totalmente apaixonado e centrado, enchendo de afecto de Deus o próprio coração. E sabemos todos como o coração precisa de estar preenchido e, se ficamos divididos nos afectos, acabamos por procurar outras coisas que preencham os nossos espaços vazios. 

Uma outra questão é sobre o porquê de a Igreja católica romana pôr o celibato como fazendo parte do sacerdócio. Esta indicação não é um dogma, nem algo impossível de poder mudar. Sabe-se, que nos primeiros séculos do cristianismo, existiam sacerdotes e bispos casados. Com o passar do tempo, por diversas circunstâncias da época, começou a crescer esta ideia de que o sacerdote devia ser célibe. Não existe uma data concreta em que isto se decidiu, foi um processo longo que a Igreja foi estabelecendo. Teria de escrever muito para explicar todas estas razões e, por isso, aponto-as brevemente e deixo a cada um a curiosidade de poder aprofundar.

Começa a desenvolver-se na mentalidade eclesial a consciência da consagração total a Deus, cuja modelo estaria sobretudo na vida eremítica e monástica, isto é, pessoas que deixavam as cidades para se retirar no deserto e nos campos para se dedicar à oração. Este modelo foi passando, pouco a pouco, também para o clero secular. Uma outra questão começou a ser a preocupação dos bispos nos casos de mau exemplo dos seus padres casados e também, numa altura em que a Igreja tinha poder político sobre diversos territórios, havia o problema da dispersão do património da igreja, por causa dos descendentes dos padres. São estes aspectos, misturados, que pouco a pouco criaram uma mentalidade de que o sacerdote teria de ser célibe e assim se estabeleceu a regra. Porque a Igreja não existe fora da história e experimenta, como todas as instituições humanas, a necessidade de se adaptar aos tempos e configurar o modo como se apresenta, mantendo o que lhe é essencial. 

O celibato, para além do aspecto central da consagração a Deus, tem, na Igreja, um carácter jurídico, isto é, o celibato faz parte do sacerdócio. Mas apenas na Igreja católica de direito romano. Na Igreja católica de direito oriental, em união com o Papa, os padres diocesanos podem escolher casar ou não. Os Bispos, porém, terão de ser célibes. Para poder aprofundar esta questão da igreja católica de rito bizantino (oriental), aconselho a leitura de um texto publicado há tempos, por um companheiro jesuíta, no essejota.net. Por outro lado, os religiosos vivem sempre o celibato, porque professam os votos religiosos de pobreza, castidade e obediência. Os padres diocesanos prometem viver a castidade, mas não tem o mesmo valor jurídico de um voto. Contudo, o essencial da castidade é vivido seja por padres diocesanos, seja pelos religiosos.

Uma última coisa, sobre a possibilidade de que os padres - diocesanos - possam vir a casar. Poderá ser, mas ainda é necessário um tempo de amadurecimento da questão e sobretudo ver se a mentalidade eclesial vai nesse sentido. Uma coisa que é óbvia na mentalidade ocidental, pode não o ser numa outra cultura. Uma lei da Igreja terá de ter em conta a diversidade das culturas onde está inserida, e uma mudança do género teria de vir acompanhada de uma aceitação pacífica e desejada por todos. Se, neste momento, o celibato dos padres fosse abolido, seria aplaudida por muitos, mas também não aceite por muitos. A meu ver, não seria uma questão pacífica na igreja universal, e é necessário que uma mudança sirva para congregar a todos numa única direcção e não para dividir e criar roturas. Mas certamente é uma questão que importa ser repensada e aprofundada.

21 fevereiro 2010

Superação

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Temos em nós fronteiras e limites que estabelecem a diferença entre o nosso espaço e aquilo que está fora de nós. Uma fronteira é um espaço de passagem ou de defesa, dependendo do modo como olhamos o que está fora do nosso horizonte.

É importante cuidarmos o nosso espaço, o santuário onde podemos contemplar e adorar a maravilha que somos e a nossa eternidade, aquele espaço ao qual só nós temos acesso. Algo que é verdadeiramente importante e não ganhamos nada se não cuidarmos, embelezarmos, visitarmos muitas vezes. 

Acredito que a beleza da nossa paisagem interior é aquilo que nos torna fascinantes e não precisamos de ir buscar continuamente fora de nós as coisas que nos fazem felizes, poderíamos correr o risco de sermos algo diferente do que somos, e é pena que isso acontece.

Nas nossas passagens além das fronteiras, saímos e deixamos entrar e, por isso, a comunhão, a amizade e o amor são pontos altos da nossa Vida. Apenas as pessoas que trazem em si algo de autêntico é que podem sair de si com uma atitude de verdade e simplicidade, sem defender os limites, mas convidando à participação e a fazer juntos algo grande.


17 fevereiro 2010

Quaresma

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Começa hoje um tempo litúrgico importante de preparação da Páscoa, que é a Quaresma. Normalmente, associamos a quaresma à tristeza, ao sofrimento, ao jejum, à cor roxa, mas com isto, podemos correr o risco de deixar passar ao lado outros aspectos também importantes.

A Quaresma tem-me feito pensar na necessidade ou utilidade de conceitos do género: auto-domínio, sobriedade, renúncia. São palavras fortes, para quem já vê todos os dias que a vida é demasiado séria e que é preciso descomprimir de vez em quando. Insistir em austeridades simplesmente não apetece muito.

O que aqui está em jogo não é uma questão exterior, do sacrifício pelo sacrifício, do ser sério só porque não se pode rir. Aliás, isso não tem nada de cristão. O que é importante é cair na conta que precisamos de ter alguma força e estrutura interior, para não sermos pessoas "moles", que não decidem nem fazem nada de importante e se deixam andar ao sabor da maré.

Por isso, a Quaresma abre-nos a uma nova perspectiva: de sabermos aquilo que queremos, de nos darmos conta que não vale a pena gastar energias em coisas que não nos aumentam como pessoas. Saber dizer que não, é também dizer que sim a algo mais importante. É este o sentido profundo que podemos pôr em prática na quaresma, viver mais do essencial, viver de forma mais simples. E assim, quando vivemos conscientes do que somos e do que queremos ser, estamos satisfeitos, e estamos mais abertos aos outros. Deixámos de ser complicados. 



PS: Com o início da Quaresma, a Companhia de Jesus e o Apostolado da Oração (a minha provável futura missão ;)) lançou uma página www.passo-a-rezar.net onde se pode descarregar em formato mp3 um ficheiro para 10 minutos de oração diária. Aconselho vivamente, para poder rezar em todo o lado, com boas propostas e que ajudam a um momento de paragem e encontro com Deus. É uma iniciativa que me traz uma imensa alegria! No lado esquerdo pus uma imagem que leva directamente ao site. Bom proveito e Boa Quaresma!


16 fevereiro 2010

Regresso

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Cá estou de regresso depois de 15 dias fora de Roma. Os dias no mosteiro de Camaldoli superaram as expectativas, não só por o trabalho ter rendido e ter escrito mais de metade da tese, mas também pela magia do lugar, onde regressei para encontrar a mesma paisagem de Junho passado, mas completamente transformada.

Nevou bastante nos dias em que lá estive e a montanha estava coberta de branco. O silêncio era ainda maior. O mesmo branco veste os monges que, por quatro vezes ao dia, se dirigem ao coro da capela para cantarem a liturgia das horas. Sento-me entre eles. O mais velhinho está ao meu lado e estende-me a mão para o ajudar a levantar, enquanto se queixa das dores nos joelhos. 

Viveu 50 anos sozinho numa casinha, no eremitério, 3km acima do mosteiro, até que a saúde o fez vir mais para baixo, para receber outros cuidados. Sinto muita falta, diz ele, com olhos brilhantes. Mas sobretudo a paz, de quem viveu radicalmente a profundidade da Vida, que no fundo, é entregar-se, sem calcular, nem estar constantemente a perguntar se o que se faz é mais importante do que se é... 

Um monge camaldolense lê dentro de um castanheiro com 500 anos, perto do Mosteiro. 
Tirei uma fotografia neste sítio, com neve a toda a volta! =)


A felicidade está muito perto de nós, envolve-nos por todos os lados, e basta viver o que se tem a viver com a mesma entrega dos grandes momentos. Faz bem contactar com estes santos, muda-nos por dentro.

 

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