26 maio 2010

Procura

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Procurar exige movimento. Por dentro, somos tocados pelo desejo, que nos faz cair na conta de espaços vazios que temos necessidade de preencher. Procuramos muitas coisas, alcançar metas, virtudes nos outros, coisas que nos fazem falta. No fundo, acredito que estamos constantemente à procura de algo.

Faz parte de nós sermos incompletos, mesmo quando atingimos êxtases de realização ou quando nos deparamos com a nossa cara-metade. Vivemos, por isso, em constante sensação de ter já conseguido e ainda faltar algo. Isso não quer dizer que tenhamos desejos insaciáveis, simplesmente somos abertos ao mundo e à história do que nos acontece.

Cada dia nos traz qualquer coisa mais completa, crescemos de forma invisível, mesmo quando perdemos algo ou nos perdemos. Por vezes, é saudável percebermo-nos como não tendo tudo. Aliás, quem pensa que tem tudo, já não vive com surpresa.

21 maio 2010

Motivação

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Nem sempre encontramos a motivação certa para nos dedicarmos de alma e coração àquilo que é mais importante em dado momento da vida. No fundo, ficamos com uma sensação de ficar aquém do esperado, por não vermos resultados imediatos, ou porque as coisas têm sempre algum imprevisto.

A motivação nasce de uma certeza que queremos fazer determinado caminho. As metas do nosso esforço, por mais longínquas que sejam, exigem-nos perseverança. É fácil motivarmo-nos a curto prazo, mas quando é algo mais distante, damo-nos conta que o entusiasmo tem altos e baixos.

O mais importante é podermos ter, em relação a nós mesmos, uma espécie de confiança e fé. Acreditar que algo se constrói diariamente quando cumprimos a pequena parte do esforço de cada dia. Não vivemos apenas de grandes realizações, aliás, estas são bastante raras... a qualidade joga-se em coisas bastante mais pequenas.


17 maio 2010

A nova Missão!

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Chegou a altura de ser conhecida a minha missão, quando, em Julho próximo regressar a Portugal, depois de ter terminado os meus estudos aqui em Roma.

Para quem não conhece bem os procedimentos da designação de uma missão para um jesuíta, passo a explicar. A missão é dada pelo superior Provincial, superior dos jesuítas em Portugal, depois de um tempo de discernimento, em que o jesuíta é consultado sobre aquilo que sente que poderá ser o campo onde vê que poderá dar maiores frutos. É um dado importante no discernimento, mas não o decisivo. Por detrás de uma decisão está a disponibilidade de quem se oferece para o que for preciso segundo o voto de obediência. Assim sendo, a última decisão cabe ao provincial, que escolhe um jesuíta para fazer determinado trabalho, de acordo com as necessidades que a Companhia de Jesus tem nesse momento. Depois deste tempo, foi-me então comunicada a minha missão, que acolhi com imensa alegria!

Regresso à cidade de Braga, onde estudei por quatro anos Filosofia e Humanidades e irei viver na mesma comunidade em que estive, a Comunidade Pedro Arrupe, com os jovens jesuítas que estudam Filosofia. E irei dividir o meu apostolado em dois campos:

Vou começar a trabalhar no Apostolado da Oração, que é uma obra levada pela Companhia de Jesus e que tem uma grande tradição em muitas paróquias e grupos espalhados pelo país. Para além da editorial e da publicação de várias revistas, o Apostolado da Oração tem como principal missão o dar instrumentos a todos aqueles que queiram aprofundar a sua relação com Deus, através da oração, e de crescer no seu compromisso com a Igreja. A minha presença nesta obra será a de colaborar com aquilo que já se faz e ir descobrindo e aprofundando novos modos de comunicar a experiência de Deus às pessoas, mais novas e menos novas, que o desejam. Nesta linha, o Apostolado da Oração lançou esta Quaresma o Passo-a-rezar, um verdadeiro sucesso no modo de usar as novas tecnologias para proporcionar momentos de oração.

A outra parte da minha missão é ser Director do CAB (Centro Académico de Braga), um dos quatro centros universitários que os jesuítas têm em Portugal. Este centro é um lugar que acolhe os universitários que queiram vir, e que propõe de uma série de actividades, adaptadas ao mundo universitário. Estas actividades ajudam a crescer e viver a fé de forma mais esclarecida e ter também uma visão do mundo e da sociedade que leve a um compromisso maior e segundo os valores cristãos. Serei ajudado por alguns companheiros jesuítas e um grupo de universitários. As actividades vão desde grupos de reflexão, oração e partilha, a voluntariado, peregrinações, viagens, debates, etc. Sobretudo, o que mais toca os universitários é a experiência de partilhar a mesma fé, que ajude a orientar o rumo da própria vida, para além dos profundos laços de amizade que se criam.

Para aprofundar, deixo aqui alguns links que ajudam a perceber melhor onde estarei nos próximos tempos! Peço desde já as vossas orações, para que consiga levar com generosidade esta missão e partilho a minha alegria! ;)

Apostolado da oração: http://www.apostoladodaoracao.pt/
Centro Académico de Braga: http://www.cab.com.pt/

16 maio 2010

Entusiasmo

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(sugestão de Nise)

Aproveito a visita do Papa Bento XVI a Portugal, para reflectir sobre este tema do entusiasmo, que certamente será um dos sentimentos mais presentes nos fiéis católicos em Portugal, depois destes dias tão marcantes. Entusiasmo tem a sua origem nas palavras gregas en (dentro) theos (Deus), e pode-se traduzir com a ideia de "ter Deus dentro de si". Isto significa aquela força interior que nos acende e nos motiva, que nasce de uma sintonia criada com algum aspecto que nos faça orientar a nossa acção de um modo que nos empenha completamente.

Com muita pena, não estive em Portugal nos dias da visita do Santo Padre, mas acompanhei atentamente, graças à possibilidade das transmissões em directo na internet, todas as celebrações. Senti a profunda comoção transmitida no rosto de Bento XVI e nos milhares de pessoas que o recebiam. Por várias vezes, tive a oportunidade de, aqui em Roma, poder ver de perto o Papa e descobrir nele um homem próximo, afectivo na sua timidez e no seu pouco à-vontade no meio das grandes multidões. Contudo, o que mais me tocava era a sua afabilidade e, sobretudo, a profundidade das suas palavras. É impossível não ficar preso das suas palavras do início ao fim dos seus discursos. Portugal teve a sorte de ouvir em primeira pessoa alguns dos discursos mais profundos e significativos que este Papa dirigiu à Igreja.

Há uma diferença que encontrei entre as celebrações de Roma e o que pude ver em Portugal. Em Roma, o Papa apresenta-se no mesmo estilo, com o mesmo sorriso (apesar de algumas vezes ter notado algum cansaço) e a mesma força de unir as pessoas à sua volta através das suas palavras. Porém, em Roma, tudo é mais organizado, definido, e o ambiente da Praça de S. Pedro e da basílica conferem outra solenidade. Além disso, para além da fé de muitos peregrinos presentes, mistura-se inevitavelmente a sensação de estar diante de mais uma atracção turística, da parte de muitas pessoas que vêm a Roma e para as quais ver o Papa faz parte do programa. Em Portugal, tudo era mais espontâneo, mais "corpo", com maior sintonia. Era uma pura expressão da fé e do desejo de esperança que movia o coração dos portugueses. Isso notava-se claramente, a fé transformou-se numa enorme festa!

É natural que o entusiasmo fosse o sentimento mais central destes dias. Ninguém, mesmo os mais cépticos, terão ficado indiferentes à surpresa desta recepção ao Papa. Especialmente quando, da parte de tantos sectores da sociedade e de alguma comunicação social, se procurava perturbar, desde há vários meses, o ambiente da sua visita, aproveitando a difícil situação que vive a Igreja nestes dias. Esta situação dos escândalos e da descristianização crescente da Europa produz uma profunda dor em todos os cristãos, e um sentimento de desânimo, perguntando-nos como será o futuro da Igreja no nosso país e no mundo. Porém, esta visita, trouxe a todos esperança e uma verdadeira experiência de conversão interior, à qual o Papa se referiu na sua entrevista que deu no avião a caminho de Portugal.

Deste modo, a conversão que marcou o início da sua visita, não pode estar separada do entusiasmo que marcou o seu fim. Converter-se é orientar o coração para um caminho interior, em direcção à verdade e autenticidade do Amor. Só vivendo profundamente a experiência de saber o que é essencial nas nossas vidas, nos dá a força e o espírito de orientar a vida, em todos os seus aspectos, para concretizar algo grande e bonito, sermos realmente "lugares de beleza". O entusiasmo não nasce de uma experiência emotiva pontual, mas é a consequência daquilo que nos toca e constitui mais profundamente. É Deus-dentro-de-nós. É este o entusiasmo que vivemos nestes dias e que nos desafia a continuar, como cristãos convertidos ao Amor, mais Igreja.

12 maio 2010

Bem vindo a Portugal! :)

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"Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura". (Homilia na Eucaristia do Terreiro do Paço)



Ontem foi uma consolação enorme assistir daqui ao que ia acontecendo em Lisboa, num ambiente de festa, fé e alegria :)

10 maio 2010

Descobrir

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Perguntamo-nos muitas vezes sobre aquilo que nos faz falta. Por momentos, temos a impressão que vivemos no meio de uma nuvem que nos faz habituar àquilo que acontece todos os dias. Temos os nossos rituais e as nossas rotinas que vamos aceitando até ao dia em que nos damos conta que vivemos pouco.

Como em tudo, precisamos de um equilíbrio entre o conhecido e a descoberta de outras paisagens. No fundo, acredito que a mesma atitude pode ser fascinante: a de procurar fazer de cada momento um início e uma realização. Mesmo nas coisas comuns e conhecidas de todos os dias, seria óptimo se nos déssemos conta que é naquele tempo e naquele espaço em particular que a nossa bondade pode ter expressão. Fazer as coisas por rotina diminui a nossa paixão.

Quem vive com esta atitude estará aberto àquilo que acontecer. Não cabemos todos inteiros em coisas demasiado pequenas. No fim, teremos tempo e espaço para algo original, que nos faça sair de um certo comodismo que adormenta a nossa capacidade de transmitir alegria e serenidade. 

08 maio 2010

Redenção

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(Sugestão de Nise e Zé Lito)

A Redenção é um tema da fé cristã que toca muitos aspectos. Será difícil explicitá-los todos, mas procurarei tocar os pontos mais importantes. 

Em primeiro lugar, redenção significa, na sua etimologia hebraica e grega, segundo os diversos contextos: "libertar, soltar, resgatar". Redimir alguém seria libertá-lo de alguma obrigação, escravidão, etc, através do pagamento de dinheiro ou de um gesto que desse cumprimento a essa libertação. Em contexto religioso, a redenção era vista como a libertação do pecado, devendo, por isso, ser oferecido um sacrifício que perdoasse os pecados. Era o que se fazia no templo em Jerusalém, em que os sacerdotes ofereciam sacrifícios de animais para redimir o povo e as pessoas singulares dos seus pecados. Deste modo, o termo redenção está relacionado com outros termos que se usam na linguagem teológica, como salvação, perdão, expiação, sacrifício. 

A comunidade cristã, desde a sua origem, viu na morte de Jesus na cruz o sacrifício que o Filho de Deus fez, entregando a sua vida para libertar os homens dos seus pecados. É por isso que os discípulos o chamam Cordeiro de Deus. Além disso, em cada Eucaristia, os cristãos continuam a recordar e fazer presente este mesmo sacrifício e entrega de Jesus na cruz. Na sua morte e ressurreição, são perdoados os pecados da humanidade, Jesus pagou definitivamente o preço da nossa salvação.

Esta linguagem pode criar alguns mal entendidos, na medida em que podemos ficar a pensar que Deus necessita que alguém morra ou faça sacrifícios pelo pecado de outros; como se a salvação tivesse um preço a pagar e Deus só desse o perdão em troca de algo. O que é importante é reflectirmos sobre o que está por detrás da realidade do pecado e da redenção. O pecado, na medida em que é oposição ao amor e ao bem, rompe o laço que nos une a Deus, a nós próprios e aos outros. Quando pecámos, algo de bom deixou de estar presente no mundo, houve amor que não foi vivido nem comunicado. O pecado coloca-nos numa situação em que estamos afastados do bem e do amor. Para regressar à comunhão com Deus, connosco e com os outros, necessitamos de tomar consciência que precisamos de mudar atitudes e fazer algo que mude o nosso estado de pecado e nos faça passar ao estado de amor. Pedir perdão é já um gesto de redenção, mudar o nosso coração e não querer ficar no mal, é também um gesto de redenção, que muitas vezes implica um sacrifício pessoal de superar feridas, de dar o braço a torcer, reconhecer que errámos, crescer na humildade. Deste modo, podemos dizer que a conversão e a redenção implica necessariamente um sacrifício, a morte do nosso egoísmo e do nosso pecado, para que a vida de Deus-Amor aconteça plenamente em nós.

O que é mais significativo na redenção cristã é que Deus tenha oferecido o perdão gratuitamente e sem medida. A iniciativa de Deus é oferecer o perdão através do facto de Ele mesmo se ter feito um de nós, ter vivido tudo o que vivemos, ter sofrido e, finalmente, ter morrido na cruz. Em Jesus, Deus oferece-se a si mesmo como o preço da nossa libertação do pecado. Poderemos dizer, de forma muito simplificada, que a morte de Jesus na cruz torna o perdão de Deus extremamente acessível, de uma vez para sempre. Então o que se espera da nossa parte? Poderíamos dizer que, se Jesus já pagou o preço do nosso pecado, então estamos já salvos. Isto é verdade, mas não completamente. É um erro presumir que estamos já salvos, fazendo tudo como se o pecado não nos afectasse e vivendo sem responsabilidade. Não é isto que Deus nos pede. Pelo contrário, o facto de sabermos que o perdão nos é constantemente oferecido, faz-nos mais exigentes connosco mesmos, e queremos retribuir com uma vida mais santa aquilo que Deus fez por cada um de nós. Ser amados deste modo transforma-nos, na medida em que queremos ser dignos desse amor e corresponder-lhe com fidelidade e entrega. Por outro lado, ser amados deste modo, também nos faz mais sensíveis à nossa falta de amor, temos uma maior consciência e dor do próprio pecado quando sabemos que estamos a ser pouco fiéis a quem muito nos ama. 

Deste modo, a redenção é o perdão posto à nossa disposição, é o perdão já acontecido, que exige de nós uma correspondência e fidelidade constantes. Por isso, fazer o bem e não pecar não é uma simples tentativa de ganhar o céu, mas uma consequência existencial do facto de sermos amados e perdoados. Se o preço da libertação do nosso pecado está já pago, o que nos resta fazer é viver de acordo com este dom enorme de Deus. Isto é exigente, mas Deus ama-nos deste modo, quer-nos responsáveis e com a capacidade de tomar nas mãos o nosso destino.


04 maio 2010

Cuidar

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Uma das coisas que mais me impressiona na vida de Sto Inácio de Loyola é algo que é testemunhado por aqueles que contactaram de perto com ele. Diziam que qualquer pessoa que saísse de uma conversa pessoal com ele, saía com a impressão que era a pessoa mais importante no mundo para ele.

Penso muitas vezes nisso, quando reflicto sobre o modo como me dedico às pessoas que encontro. Criar esta atitude não é fingir que aquilo que a pessoa diz é importante, mas é sentir verdadeiramente o que está a acontecer. Em tudo o que nos é dado viver somos desafiados a estar presentes diante daquilo que está a acontecer.

Isso implica uma disponibilidade interior e uma consciência que as coisas urgentes podem esperar quando se trata de cuidar de alguém. No fim, não falta tempo quando ajudamos a construir uma paisagem melhor no coração de alguém.

 

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