26 dezembro 2009

Rumo a...

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Amanhã de manhã parto para um passeio de alguns dias pelo centro-norte de Itália. Regresso a 2 de Janeiro. Até lá, aqui ficam os desejos de boas férias, a quem for o caso disso e boas entradas no Novo Ano. Que seja um ano feliz, onde brilhe a nossa autenticidade. Aqui ficam umas fotos do percurso a fazer!

Até breve!


Bologna



Ravenna



Padova



Venezia

Já lá estive, mas são sítios com uma tal magia onde apetece sempre voltar! =)

Tempo de Natal

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Estes dias de Natal foram cheios e nem deu para ter disponibilidade interior para aqui vir escrever qualquer coisa. Mas situo-me na continuação do que fomos celebrando e vivendo nos últimos dias.

O Natal tem a ver com a seriedade e profundidade da nossa Vida. O que se celebra é o facto de que Deus não é um personagem distante e indiferente ao que nos acontece. Falar da encarnação de Deus significa mostrar a vida como existência marcada e tocada pela eternidade. Faz-nos sair de um modo pequeno de olhar para o mundo, em que aquilo que é importante é o dia-a-dia e as pequenas metas de felicidade. Somos criados e capazes de muito mais, até ao infinito.

Natal é fazer a experiência de uma felicidade já realizada e continuada na medida em que formos livres e capazes de a fazer transparente em nós. Quando Deus toca a nossa história, como já tocou, nada pode ficar indiferente ou na mesma. Um dos grandes dramas da fé é começarmos por não acreditar em nós próprios. Mas quando nos mostramos a nós mesmos como gigantes no amor, sem medo, confiantes, então a vida de Deus acontece e é real. Tudo isto já começou, no dia em que Jesus nos visita. Anunciar isto com a Vida faz de nós anjos que glorificam o que de melhor podemos fazer no nosso mundo.

A todos desejo um Tempo de Natal em que se concretize tudo isto. E agradeço muito os votos natalícios. Até breve! ;)

20 dezembro 2009

Em breve

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Chega o tempo das férias, e estes dias que antecedem o Natal têm uma cor e um movimento especial. É tão bonito que, felizmente, um sol radiante como o de hoje expresse alegrias interiores e esperanças de paz que completam cada momento da vida.

O Natal terá sempre de ser antecedido pela espera, uma preparação da manifestação da nossa própria imagem, de um caminho a fazer mas já tão conseguido. Acreditar naquilo que somos, na bondade do nosso coração, na transparência do nosso olhar é um desafio a tornar tudo isto mais concreto.

Os desejos são muito diferentes dos sonhos. Um desejo tem carne para ser abraçada, palavras que se possam ouvir e cores que se possam pintar. Por isso, um desejo é algo já presente e começado, com oportunidade de ser bonito. O desejo de viver em plenitude está ao alcance de cada um, sorrir para a vida, e tudo é transformado.

17 dezembro 2009

Comprometer-me

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Sugestão de RM

A sugestão vem ao encontro de uma preocupação minha, acerca do compromisso, mais explicitamente o compromisso temporário. O que significa um compromisso?
Compromisso, na sua raiz latina quer dizer: con-pro-missum, isto é lançar, enviar para a frente juntamente com alguém. Missum é também raiz de missão, enviado. Podemos dizer que um compromisso é qualquer coisa que se faz entre duas ou mais pessoas, ou entre uma pessoa e uma instituição, que diz respeito ao futuro e corresponde a um envio, a uma missão ou, mais concretamente, a uma pro-messa.

Um compromisso, por isso, deve implicar a própria pessoa, na medida em que é esperado algo das suas acções e atitudes no futuro. Ela aceita realizar determinada coisa e ser fiel a isso.

Num compromisso, estão em jogo a verdade de uma pessoa, a sua liberdade e o respeito que tem por aquilo que assume. É algo que pede coerência. Mas claro que existem muitos níveis de compromisso. Uma coisa é comprometer-se a ajudar uma vez por mês durante um ano numa instituição de solidariedade, ou comprometer-se a fazer bem um exame, outra é fazer votos religiosos ou querer casar. Aí temos uma primeira separação entre compromisso temporário e compromisso definitivo.

Há porém, alguns aspectos que não é possível fazer compromissos temporários: não é possível ser amigo ou estar apaixonado a prazo. Pelo menos, nas atitudes e desejos iniciais. Porque temos todos experiências de como há amizades e paixões que deixam de o ser, pelos mais variados motivos, mas ao início não seríamos verdadeiros se quiséssemos ser amigos por dois ou três anos. Não faz sentido.

Um compromisso temporário, na minha opinião tem a ver com aspectos que pedem de mim algo durante um tempo específico, mas que não causa dano quando terminar esse tempo. É uma questão de saber e sentir se esse compromisso faz parte de mim e implica outras pessoas de forma irreversível.

Agora, uma coisa que une quer o compromisso temporário, quer o compromisso definitivo, é que devo estar presente naquilo a que me comprometi. Por ser um compromisso temporário, não quer dizer que esteja presente só uma parte de mim, a mais eficaz ou a menos sensível. Em tudo podemos manifestar a nossa beleza e a nossa verdade e é uma pena que vivamos um compromisso como uma tarefa. Se eliminássemos da nossa vida a palavra tarefa e a substituíssemos por compromisso, mesmo que temporário, o nosso tempo oferecido a determinada causa teria uma outra qualidade. Em tudo ser mais, em tudo ser eu mesmo. É um grande desafio ao modo como vivemos cada coisa.


15 dezembro 2009

Para além

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Acabei de regressar de uma aula que tenho sobre cinema e vimos uma das versões de um dos filmes do Decálogo de Kieslowsky, que se chamava "Pequeno filme sobre o Amor".

Um filme sobre o Amor, se este existe verdadeiramente... e sim, existe até ao nível do oferecer a Vida por alguém. Ou talvez, apenas a esse nível. Amar é difícil, mas só assim a Vida aparece com toda a sua força e verdade. Reconciliada, perdoada. No filme existem jogos extraordinários de olhar através do vidro. Ver e ser visto, ser transparente ou distorcido. Procuras constantes. A imagem do outro que fascina ou me esconde de mim mesmo. Quando se rompe o vidro que separa dois corações, então a Vida entrega-se, e Amor existe.

Depois, ouvi isto, de um músico italiano que gosto muito, Ludovico Einaudi: Al di là del vetro (Para além do vidro). Onde tudo acontece... espero que gostem ;)


12 dezembro 2009

Transparência

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Porque nos escondemos? Onde está a fronteira entre o que somos e pensamos e o que mostramos e dizemos? Tenho pensado bastante no nosso mundo escondido, os segredos inacessíveis, por vezes a nós mesmos. A prudência exige que não possamos falar claramente de tudo o que nos acontece. Podemos nem sequer ter a capacidade de o expressar. Acredito que há um espaço da nossa intimidade que deve ficar apenas para nós.

De facto, incomoda-me quando alguém se expõe demasiado. Há coisas que não nos pertence saber e é triste quando vemos que revelar a intimidade é uma forma de espectáculo consumista. A televisão mostra-nos isso diariamente e dói tanta falta de respeito. Existe um pudor saudável em relação a nós ou aos outros, aquele espaço que ninguém tem o direito de violar, mesmo com as melhores intenções.

Temos em nós este santuário que condensa a nossa história e a nossa personalidade, o núcleo onde dizemos "Eu". A grande dificuldade está em nos olharmos olhos nos olhos e receber aquela onda de desejos e perguntas que nos deixam desarmados. Seria um óptimo desafio podermos conversar tranquilamente com a nossa história, e deixar que ela se manifeste em paz, na serenidade de quem lembra coisas passadas junto à lareira. Assim, este núcleo é transparente a nós mesmos, torna-nos dóceis e capazes de falar de nós de forma natural e serena.

08 dezembro 2009

A amizade

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Sugestão de Di

A amizade é dos dons mais preciosos que podemos ter na Vida. Se todos, mais ou menos, temos um medo existencial muito profundo da solidão, são os amigos que vêm preencher esse espaço. Contudo, os amigos, sabemos bem, não servem só para satisfazer os nossos desejos de termos alguém com quem desabafar e partilhar as coisas mais importantes.

O elemento mais importante da amizade é a gratuidade. Não escolhemos os nossos amigos, as amizades profundas simplesmente acontecem, ficamos ligados a elas, fazem parte de nós. Começamos com pequenos episódios comuns, que fazem nascer sintonias de fundo e algumas certezas de que determinada pessoa é um espaço onde eu me manifesto de forma autêntica.

A amizade não dá lugar a medos e calculismos. É o espaço onde cada um existe como é, com qualidades e defeitos. A determinado momento, os próprios defeitos entram na relação e podem provocar conflitos. É o momento em que aparecemos na nossa verdade e na nossa fragilidade. E é nesse momento que a amizade se purifica. Não há verdadeiros amigos se pelo menos uma vez não se tiverem zangado. Então, aí se faz a experiência que eu te aceito, que quero o teu bem e que não vou desistir de ti. Só o ser amado pode transformar e mudar atitudes menos correctas. E este acolher-transformar acontece de parte a parte, cada um cresce no melhor que tem e integra os próprios defeitos, porque existe por trás uma verdade baseada no amor. É uma experiência muito profunda.

Tenho a sorte de ter amizades assim. E que não são muitas, porque as amizades que verdadeiramente transformam não podem ser muitas. Mas cresci e fiz crescer em aceitação, beleza e transformação da própria bondade num desejo de ser autêntico e feliz. É algo que tenho a certeza que nunca se perde, mesmo estando longe e falando de vez em quando... como se cada encontro tivesse acontecido ontem, é uma vitalidade fresca e feliz.

Há também amizades que chamamos assim, mas que, no fim de contas, não chegam à profundidade do que é a amizade. Ser amigo é algo sério, não é uma necessidade de companhia, é estar disponível sempre e com liberdade. Quando uma relação não nos deixa ser verdadeiros, quando deixamos de ser autênticos, então é um caminho incompleto ou mal começado. Possuímos ou somos possuídos, fazemos papéis que não nos servem e não falam de nós. Há sempre um modo de poder fazer destas relações uma amizade profunda, mas nestas coisas do coração, ou acontece ou não acontece. Nesse caso, a estima e o respeito são uma boa atitude. Mas nunca a mágoa e sempre o perdão. A Vida é complexa =)


06 dezembro 2009

Felicidade

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Quando poderemos afirmar a nossa felicidade? Parece que sempre a associamos a momentos fugidios e pontuais, em que tivémos a sorte que todas as circunstâncias se combinassem em momentos perfeitos e completos. Mas se passa, quer dizer que seria um completo aparente, um relâmpago de paraíso sonhado e perdido. Ou então não tivémos a capacidade de ir além do momento e perceber a sua eternidade.

A felicidade é uma conquista livre e quotidiana. É uma persistência num olhar que se mantém igual em diferentes paisagens.

A felicidade completa é um futuro e um presente. Sempre a buscamos e encontramos quando descemos em nós e percebemos experiências que nos definem desde sempre. A grande experiência da vida é a sua capacidade de surpreender e desafiar os nossos fundamentos. Põem em questão o material de que somos feitos, entre incapacidades e realizações que nos deixam perplexos do quanto somos capazes quando existimos em confiança e serenidade. Aí nada nos poderá tirar a paz.


05 dezembro 2009

A Trindade

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Sugestão de Nise

No meu primeiro ano em Roma fiz um curso de um semestre só sobre a Trindade. Daí que é um tema tão complexo que não é fácil, em poucas linhas, falar dele. Contudo, deixo algumas ideias de como entrar neste mistério, que de isso se trata. Como é mistério, é algo que, por mais que se explique, fica sempre por dizer algo. É nada mais, nada menos, que dizer quem é Deus, um só Deus que é três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Além disso, se se fizesse um questionário à porta das nossas igrejas, perguntando o que é a Trindade, estou certo que poderiam ouvir-se muitas "heresias". Espero que fique mais claro o que significa este mistério tão essencial da fé cristã.

A formulação do dogma da Santíssima Trindade tem uma evolução lenta, desde o início do Cristianismo. Desde os escritos do Novo Testamento que os cristãos estavam familiarizados com este tipo de expressões por parte de Jesus; "Quem me vê, vê o Pai", ou "Baptizai todos os povos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", ou "O Verbo se fez carne e habitou entre nós", entre muitas outras. A grande questão que se punha é qual a natureza de Jesus: se Jesus, que viveu entre nós, morreu e ressuscitou, é o Filho de Deus, então Jesus é Deus. E se Jesus continua presente no mundo através do seu Espírito, este é o Espírito de Deus, e também é Deus.

Vindos de uma religião monoteísta, os cristãos continuam a afirmar a sua fé no Deus Único. O mesmo Jesus expressa a sua fé neste Único Deus. E pouco a pouco, foi ficando mais claro que o Deus dos cristãos era estas três pessoas. Um único Deus, que é Pai, que é Filho e que é Espírito Santo. Na Trindade as Pessoas não se confundem nem se distinguem. Daí que o modo mais apropriado para falar deste mistério é de modo negativo: sem confusão e sem distinção das três pessoas divinas.

Não vou entrar em muitos pormenores mais teológicos difíceis de explicar, mas faço uma abordagem que talvez seja mais fácil perceber. Jesus, segundo o Evangelho de João é o Logos de Deus, ou seja, a Palavra, a Razão, tudo o que Deus exprime e deseja. Por isso, o Logos não está separado do Pai. Do mesmo modo, o Pai só é Pai porque tem o Filho e o Filho só é Filho porque tem o Pai. O Pai dá-se totalmente em Amor ao Filho e o Filho dá-se totalmente em amor ao Pai. De tal modo este Amor é forte que é ele próprio uma Pessoa, o Espírito Santo.

Assim, a Trindade é um Deus de relação, em que o Pai e o Filho são um Único amor recíproco, e esse amor de comunicação um ao outro é o Espírito. O Espírito Santo não fica limitado apenas a esta relação, mas da Trindade comunica-se o Amor de Deus ao mundo, através da criação, e a cada um de nós. Na Encarnação, o verbo de Deus assume a nossa natureza e a nossa história, como Deus não poderia deixar de fazer. Apenas um Amor tão absoluto consegue fazer com que Deus viva a nossa própria história, para nos fazer participar, pelo Espírito, da sua mesma Vida.


03 dezembro 2009

Ouvir

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Um dos cinco sentidos que mais aprecio é o ouvido. Entre o silêncio e o ruído ensurdecedor, passamos o dia com sons constantes. Temos vozes que nos despertam sentimentos diferentes, umas que nos acordam e outras que fazem adormecer. Temos momentos privilegiados em que deixamos que o ouvido toque sentimentos concretos e nos traga à memória lugares e pessoas. Histórias que são verdadeiras sinfonias.

Existe um som difícil de ouvir. O do próprio coração. No silêncio esconde-se uma obrigatoriedade de estar com o Vida no seu próprio ritmo e na sua própria respiração. A Vida, tal como ela é, na sua simplicidade e grandeza.

Muitas vezes a grande causa de ruído nem são gritos exteriores, ou o movimento da cidade. O ruído pode ser a velocidade dos meus pensamentos e a força deles. O pensamento também precisa de algo que o acalme, que o faça andar ao ritmo dos desejos e dos sonhos. Podemos criar uma sintonia entre ouvir o coração e pensá-lo de forma bonita. Estamos menos divididos e mais concentrados em nós.


PS: A propósito de uma música que ouvi ontem à noite e me fez recordar uma história bonita. Obrigado :)*

01 dezembro 2009

Tempo de Advento

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Sugestão de Lídia

Apesar de estarem ainda alguns temas para ser tratados, escrevo primeiro sobre o Advento, já que estamos no início deste tempo tão especial. Advento, como se sabe, são quatro semanas que antecedem o Natal. É um tempo forte dentro da liturgia da Igreja e é muito útil que se possa ir ao fundo desta proposta, para que o Natal tenha uma outra força.

Talvez o grande problema da pouca novidade que o Natal nos pode trazer - não só porque há dois meses a televisão e as lojas já se encarregaram de nos lembrar disso - é o facto que a festa pode ser uma rotina. Preparar o Natal é pensar nas prendas e dinheiro para as comprar, os convites e lugares da festa de família, participar nalguma acção de solidariedade, etc etc. Chega o dia, e passa... para o ano há mais.

O Tempo do Advento prepara em nós disposições de outro género. Faz-nos voltar para o interior, as nossas atitudes, mais que as coisas práticas a cumprir. Seria necessária uma consciência de que algo nos falta, para que, quando se celebra o Natal, aconteça uma Presença que ilumine e dê Vida. De facto, se virmos bem no Evangelho, o Menino Jesus não nasceu numa casa, pois estavam todas cheias e teve de nascer num lugar bem mais solitário. Corremos o risco de ter a nossa casa e o nosso coração tão cheio de embrulhos e luzes que o Menino não tem espaço para nascer!

Então, o tempo de Advento pode caracterizar-se por esta dimensão fundamental da espera. Quando esperamos, o que acontece em nós? Esperamos algo que não temos, e é precisamente a espera que dá alegria ao momento em que obtemos o que esperávamos.Todos temos imensas histórias que poderiam dar exemplo disso. Quando se espera, deixa-se o presente para centrar energias num futuro que é uma promessa feliz. Organizamos o nosso tempo para esse encontro, sonhamos com ele. Deste modo, o Advento faz-nos sair de um quotidiano sem muitas surpresas e ajuda-nos a procurar e encontrar aquilo que mais desejamos.

O Natal é a celebração do nascimento de Deus que se faz Homem. Deus que entra na nossa história, não de uma forma espectacular, mas através de uma criança recém-nascida. E não poderia ser de outra maneira, já que a predilecção de Deus por cada um de nós terá de se manifestar na forma mais concreta e próxima possível. É diante do presépio que percebemos a força da fragilidade de Deus, que se põe totalmente à nossa disposição, fazendo-se convite a acolher e adorar.

Podemos acolher esta novidade contínua de Deus, que se renova em cada Natal, de acordo com a nossa situação concreta, porque cada ano acontecem coisas diferentes e Deus entra na minha história com uma promessa e uma alegria diferentes. A grande pergunta é: onde quero que Jesus nasça? Onde quero que Deus esteja na minha história, aqui e agora?

O Advento é o tempo de preparar estas perguntas e, para isso, apresenta-nos duas figuras, que correspondem a duas atitudes:

João Baptista e a atitude de conversão. Olhar para nós mesmos, percebermos onde o nosso caminho se tem desviado do bem que sabemos e queremos para a nossa vida. A conversão não é lamento, mas orientar a nossa vida na direcção certa, comprometer-me com a minha verdade e a minha liberdade.

Maria e a atitude de entrega. Nossa Senhora aceita o convite do Anjo para ser Mãe de Jesus, sem perceber tudo, sem conhecer o que realmente estaria a acontecer. Mas é movida por uma extraordinária confiança. Se é Deus que me pede isto, quem sou eu para dizer que não? Faça-se... é o gesto mais perfeito da humanidade que é capaz de acolher Deus.

Se pudermos viver este Advento a partir destas ideias, o Natal será tudo menos uma rotina. Poderá nem ser a festa extraordinária que tivémos o ano passado, mas se a nossa esperança for completa, então o Natal significará um verdadeiro nascimento para uma Vida mais completa e autêntica.

30 novembro 2009

Os limites

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O que é um facto é que nunca me dei bem com as mudanças de tempo e agora estou com uma constipação. Mesmo que a febre não seja muita, o incómodo basta para fazer com que o dia se arraste sem fazer muitas coisas que poderia fazer. O corpo impõe-nos os seus limites e tem a sua força.

Sentir determinada incapacidade é uma oportunidade de não ficar no lamento e sem fazer nada. Abrem-se possibilidades de se poder dedicar a outras coisas com outra espécie de paz. Mais serena... curiosamente, a serenidade que tenho vivido nestes últimos tempos ajudam a encarar este obstáculo como algo mais pequeno. Os limites situam-nos num "agora" cheio de promessas. Em que sonhos maiores se calhar não têm lugar, mas em que o concreto pode ser vivido com outra profundidade.

Não é muito agradável sentir-se doente, mas também não há muito a fazer, ao menos há uma possibilidade de um bom dia de descanso amanhã! Do mal o menos =)

26 novembro 2009

Sim, mas...

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Hoje estive a pensar e reflectir sobre as conversas que tenho, acerca de acontecimentos e pessoas. Quer eu, quer outros, temos um estranho hábito de começar por louvar uma situação, que é maravilhosa, óptima, e depois, lá vem a palavra mágica: sim, mas...

E o discurso que vem a seguir é muito mais convincente e interessante.

Os nossos "mas" podem ser a expressão de uma capacidade crítica e desejar o melhor, mas escondem uma armadilha que consiste em não sermos generosos e compassivos nos nossos juízos. Entre as ideias claras e ter um mundo feito à minha medida está uma fronteira muito ténue. Prefiro ser ingénuo algumas vezes, a estar constantemente a olhar os pontos fracos dos outros. Talvez o principal problema esteja em mim e sou eu o ponto fraco do meu mundo.


25 novembro 2009

Deus em nós e nós em Deus

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Sugestão de Lídia
Aprofundamento de Deus em nós. Ir à raíz. 
O lugar de Deus em nós e o nosso n'ELE, à luz da Fé e da Sociedade actual. 
Confrontar a inquietude que consome com a não existência que resiste.



Cada uma destas frases daria para um tema! Mas vou tentar focar os pontos principais que possam unir estas questões. Muito ficará por dizer, mas se for necessário, é só sugerir algum aprofundamento, que o farei com o maior gosto.

Uma das frases que mais me tem acompanhado ultimamente nas minhas reflexões sobre Deus e a Vida é que não servem muitas definições. Deus não se define, não é uma ideia ou um conceito, uma projecção do melhor de nós ou uma simples expressão do divino que não se vê no quotidiano. O máximo que se pode afirmar é que Deus é Amor... mas amor, como o definimos? Quem é capaz de definir o que é amor sem logo a seguir estar a trair a definição, nas incoerências da vida, numa pálida imagem da força que é amar? Amor não se diz, vive-se, estamos nele como uma surpresa que nos invade e nos leva para dentro e para fora de nós. Quando o dizemos, já o perdemos, mas quando o realizamos, quando este acontece, o Amor mostra-se na sua verdade tocada, na vida que Ele próprio dá.

Daí que o Amor, Deus, é um ambiente, a expressão profunda e verdadeira da Vida, na Bondade, na Alegria, na Compaixão, na Entrega, na Humildade, na Esperança. Deus é a realização já conseguida, desde sempre e para sempre, de juntar toda a nossa experiência da Vida e transcendê-la além do egoísmo e dos pequeninos horizontes. Toda a nossa Vida, pelo simples facto de ser, é já tocada e provocada para rasgar tudo o que é inútil ou sinal de uma vidinha que teimamos em considerar grande. Descer em nós é encontrar esta originalidade, de perceber a vida tal como é, como dom e como promessa. Por isso se diz "criados à imagem e semelhança de Deus", com a mesma potência do amor, e nunca conseguida totalmente.

Não somos divinos, e é ilusório o discurso de que Deus é o melhor de nós, que é o bem que fazemos ou que se mostra no mundo. Esta é uma projecção e simplificação banal e fácil de nós mesmos. Não fazemos assim honra à nossa divindade. Somos contraditórios, pouco livres, egoístas. É este o drama de ser imagem do Amor e ao mesmo tempo livres de querer sê-la ou não.

Descer a nós mesmos é subir ao dom que nos foi dado, que acredita em nós apesar de tudo. Podemos ser indiferentes a este dom, mas este  dom não é indiferente em relação a nós. Está e estará sempre, é a nossa luz  por detrás da nossa sombra, o diamante que nunca se apaga, mesmo fechado com mil cadeias. Encontrar esta luz é descobrir-se amado no mais profundo, só porque se tem este Dom, imenso, único, intransmissível, a Vida. Descobri-lo é depois querer, com todas as forças, realizá-lo e expandi-lo. É a verdade de nós mesmos que se manifesta em toda a sua glória, onde nós e Deus coincidimos, onde por um momento fomos capazes de deixar de ser pequenos mundos e amar como quem abraça o universo.

A inquietude actual nasce precisamente de estarmos já fartos de respostas fáceis e imediatas. Procuramos e viramos tudo do avesso, em distracções contínuas, em comprar o ultimo grito da moda e da tecnologia, em horas de consulta psicológica, e busca de harmonia cósmica. Por mais que estas coisas possam ajudar, na medida certa, estamos só à superfície. Enchemos um mundo de coisas que não nos servem e só escurecem a nossa luz, escondem-nos de nós mesmos. Apenas vivemos e existimos verdadeiramente quando nos assumirmos como fragilidade amada, acreditada, perdoada. Quando nos deixarmos abraçar pela Verdade, quando deixamos que Deus seja o nosso ambiente. E vivemos n'Ele, com Ele e para Ele.


23 novembro 2009

Oferecer

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Viver a vida com generosidade consiste em dar importância ao que verdadeiramente interessa. A grande questão está em ganhar distância para poder distinguir o urgente do essencial. Tudo é importante, mas não da mesma maneira. Vivemos cada dia esta tensão de não nos dividirmos em inúmeras coisas a fazer e não termos oportunidade para encontrarmos o pulsar do nosso tempo.

É bom que nos empenhemos em fazer bem aquilo que é suposto, quanto mais não seja para descargo de consciência. Mas corremos o risco de descarregar de tal modo a nossa consciência que acabamos por não ter consciência do porquê de fazermos as coisas. No fundo, sou eu ou as minhas acções.

Ser o que faço, estar no que faço é uma autenticidade ganha à custa de estar atento ao que faço do meu dia. Falta-nos generosidade para encarar cada dia como possibilidade de simplesmente ser. Fazemo-nos autênticos em tudo, marcamos algo por oferecer o que temos de melhor. Sobretudo nas pequenas coisas.

22 novembro 2009

Passos em volta

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Hoje acordei com esta música. E encontrei este vídeo que a acompanha. A liberdade é um voo de confiança e que torna o mundo imensamente grande e bonito. Somos capazes de coisas tão eternas... leveza e beleza.

Bom domingo! =)


20 novembro 2009

Bondade

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Confesso que nos últimos tempos, ou melhor, já nos últimos anos, a palavra bondade me toca especialmente. Tem um toque simplicidade e verdade. Uma pessoa boa é assim, sem fazer muito esforço. E é tão bonito conhecer e encontrar pessoas assim, é um desafio a nós mesmos!

A bondade tem duas faces: a paz e a generosidade. Parece que a realização de uma pessoa boa passa por fazer bem aos outros, fazê-los felizes, e não poupa esforços para sair de si. Mais que isso, não calcula gestos. E essa pessoa transmite paz, está bem, faz bem.

A bondade é um dom, mas que se pode desenvolver a partir daquilo que achamos ser importante para nós e para o mundo. Estar divididos, ser complicados, não é um caminho que ajude. O que queremos verdadeiramente, conseguimos alcançá-lo. É tão bom sentir essa bondade! :) As pessoas são bonitas, muito!


18 novembro 2009

Viagem de Outono

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Fotografia de Teresa Lamas Serra (e saudades destas paisagens)

 Quando hoje saí de casa, encontrei um daqueles dias de outono, com um sol e calor algo raros nesta época do ano. As cores das casas, das árvores e da luz. Roma tem as cores do outono. Sem querer, fui-me deixando levar por pensamentos que desaceleravam e...

Dei-me conta que não existem muitas palavras que possam exprimir a importância que temos no conjunto de tudo o que existe. Como se os nossos pés fossem desenhando linhas vistas desde o céu. Fazemos caminhos confusos e raramente seguimos exactamente por onde uma vez tínhamos viajado. Cada movimento nosso é carregado de uma surpresa que vai sem retorno.

Temos medo do definitivo, apesar de jurarmos amor vezes sem conta. Porque sabemos do que somos feitos, de como não somos nós diante de nós mesmos. Custa-nos deixar cair mentiras e ficar despidos na mais pura verdade. Assim expostos, não nos defendemos, nem temos para onde fugir. Amamos e odiamos as mesmas coisas, queremos perder e ao mesmo tempo agarramo-nos com todas as forças que temos. Como se perder fosse o fim da própria vida.

Porque é que o outono é assim tão fascinante? Quererá a natureza despedir-se no seu maior esplendor, vestir-se de ouro e luz de diamantes só para anunciar um regresso depois do frio? E assim vestimo-nos com a mesma cor do fim, e deixamo-nos andar sem sair do mesmo sítio?

A esperança não desilude. Tal como o amor move montanhas, apaga noites e destrói distâncias. Acabamos sempre, quando assim o quisermos, por dizer amor em gestos concretos. Se somos Beleza de Outono, é porque seremos Vida de Primavera.

17 novembro 2009

Vocação de Irmão Jesuíta

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(sugestão de Princesa)




Este tema é mais específico, para falar de um aspecto da vocação dos jesuítas, talvez não tão conhecido, que é a vocação de Irmão. O mais próprio seria que fosse um irmão a poder explicar melhor em que consiste essa vocação, mas falarei daquilo que sei e da experiência que tenho de contacto com tantos companheiros irmãos.

Ser irmão não é, de modo nenhum, uma semi-vocação. É vocação no sentido mais pleno da palavra, uma vez que corresponde à consagração de uma pessoa a Deus e ao serviço na Igreja, através dos votos religiosos de pobreza, castidade e obediência.

A Companhia de Jesus nasceu com o grupo de primeiros companheiros, reunidos por Santo Inácio de Loiola, e estes, desde o início, tiveram muito presente que o seu modo particular de servir a Igreja e consagrar-se a Cristo seria através do ministério sacerdotal. De facto, quando a Companhia é fundada, todos tinham já sido ordenados. Porém, logo nos primeiros anos, começaram a pedir para entrar na Companhia de Jesus, homens que queriam viver a mesma missão e o mesmo carisma, mas não viam que a vocação tivesse que ser necessariamente ligada ao ministério sacerdotal. Daí que começaram a existir jesuítas que vivem plenamente a sua vocação jesuítica sem serem ordenados sacerdotes.

É certo que, durante muitos anos, os irmãos tinham como parte da sua missão ajudar os sacerdotes a que pudessem desenvolver bem a sua missão, tratando de coisas mais práticas. Por isso, os serviços de casa (cozinha, roupa, etc) eram normalmente confiados aos irmãos. Mesmo que, ao longo da história, não faltassem irmãos que se dedicaram ao acompanhamento espiritual, às missões, a trabalhos relacionados com o ensino ou a arte, etc, a imagem que foi ficando é que seriam uma espécie de vocação para coisas práticas, sem ser necessária muita preparação académica. Com o passar do tempo e, mais recentemente, isso já vai sendo ultrapassado. Quem agora entra na Companhia como irmão, participa da mesma missão de um padre, sem o exercício do ministério sacerdotal, mas com a formação necessária aos diversos apostolados a que pode ser enviado: pastoral, exercícios espirituais, economia, gestão, área da saúde, ciência, arte, ensino, etc...

Com tudo isto, há dois aspectos fundamentais a ter em conta:

- Que um irmão jesuíta é chamado, tal como um sacerdote jesuíta, a viver a mesma consagração a Deus. Ambos são religiosos. É mais fácil associar um religioso ao ministério de sacerdote, pois visivelmente faz coisas que outros não podem fazer. Mas a vocação de irmão consiste num serviço, neste sentido, mais "original" e "radical", uma vez que é chamado a viver, como leigo consagrado, o testemunho da vocação religiosa, que num padre é mais evidente.

- A Companhia sempre se identificou como um Corpo para a missão, no qual convivem unidade e diversidade. Uma mesma vocação a Deus e ao carisma inaciano, mas segundo modos diversos de a viver. Esta diversidade na unidade, não só a nível de vocação religiosa, mas também a nível de culturas, idades, mentalidades, carismas pessoais, faz parte da identidade do ser jesuíta.

Por fim, da minha experiência pessoal, confesso que a maioria dos irmãos que conheci e conheço pertencem a um tempo em que estes se dedicavam a tarefas mais práticas. Com os irmãos mais novos não se passa isso, agora existem programas de formação muito aplicados aos casos concretos que existem. Mas o que sempre me tocou é o seu testemunho de vida, que me ensinaram tanto na minha formação e agora, como padre, me continuam a desafiar. Homens de Deus, que no silêncio do seu trabalho, da sua generosidade, manifestam sempre um amor enorme a Deus e às pessoas. São capazes de relações humanas de uma simplicidade e profundidade que sempre admirei muito. São para mim verdadeiros exemplos e confirmam a minha vocação no que tem de mais fundamental.

15 novembro 2009

Motivados pela esperança

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Impressiona-me cada vez mais o facto de a Vida ser um desafio constante a superarmo-nos a nós mesmos e a encontrar em pequenas coisas a força para fazer um caminho autêntico baseado na própria verdade. Tenho a certeza que o ser amado é o motivo principal que nos leva a querer sempre ser mais.

Ser mais consiste em corresponder a um dom. Não existe reconciliação ou passagem do erro para a verdade sem antes termos feito a experiência de um dom que nos supera totalmente. Este dom percebe-se em momentos privilegiados da Vida, em que o tempo teve a ousadia de nos fazer levantar das coisas comuns em direcção a alturas que não nos sabíamos capazes de atingir.

Estas alturas são toques de eternidade em cada momento do presente. Transformam o tempo em qualquer coisa além do tempo, e transformam o espaço em qualquer coisa que vai além do espaço, uma paisagem de sonhos e memórias que dizem quem somos e para quê existimos. Acordar cada dia é um compromisso com o limite e o andar além dele, é a esperança que se pode concretizar, o existir em amor, na simplicidade e no acolhimento.

13 novembro 2009

Além do desconhecido

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O horizonte fascina-me. Não há nenhum lugar que mais me impressione interiormente que a planície. É um lugar ao mesmo tempo desértico e completo, com uma energia pacífica que consola e faz viajar além do que se vê. A montanha traz curiosidade, faz perguntar o que estará depois dela. A planície, pelo contrário mostra o conhecido, mas é um horizonte imenso que se vê, mas não acaba.

O caminho por entre a planície é uma metáfora de uma vida que sempre procurou alargar os próprios horizontes. Por entre poucas novidades, mas na confiança de que cada passo acrescenta um olhar novo ao que se conhece. E é tão importante ver quanto caminhar, são pequenas certezas construídas e nunca acabadas.

Não ser perfeito desgasta quem se arrasta incoerentemente por um  caminho que é obrigatório fazer. Aquilo que conhecemos não é suficiente para ficarmos instalados sem querer saber coisas novas. Um excesso de conhecimento é uma fantasia, fala apenas da parte mais pequena da vida. É o desconhecido além do horizonte que motiva o caminho livre e desprendido. Se formos capazes de alguma perfeição, então o grande sinal está na vontade com que ultrapassamos os próprios limites. E acredito que nisto somos perfeitos.

11 novembro 2009

O passo a dar

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Se estamos parados a meio caminho significa que estamos a ponto de partir nalguma direcção. Não nascemos para ficar habituados ao que sempre aconteceu, nem sequer a boas memórias. O encanto da Vida está nesse querer, por si mesma, ser tempo que passa e nos leva consigo.

É maravilhoso quando temos a experiência de arregaçar as mangas e dar-se ao trabalho para conseguir realizar o melhor de nós. Entra a coragem e a falta de certezas fazemos nascer o que somos já a partir de hoje. Damos valor a tudo sem querer que todas as coisas fiquem imóveis a contemplar-nos. Antes pelo contrário, acrescentamos Bondade e Alegria ao que está à nossa disposição.

Quando existe dúvida, então é sinal que temos entre mãos um dos desafios mais bonitos que podemos ter: o de fazer da nossa história um livro cheio de cores e desenhos, quase recordando os tempos em que, como crianças, desenhávamos um mundo de fantasia que era mais verdadeiro que o que vivíamos. Era uma fantasia de um sonho bem real, e o desejo de o conseguir ver presente.


09 novembro 2009

A tranquilidade

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As agitações são tempos incómodos, é como se a poeira estivesse levantada e nos impedisse de olhar para os detalhes. Envolvidos numa nuvem que não conhecemos, que é prevista e imprevisível. Sempre me perguntei o porquê de nestas situações encontrarmos força para fazer caminho, seja aquele que for. E fui-me dando conta que não foram boas decisões.

Não é preciso assustarmo-nos com o que sentimos, quando o mundo se nos apresenta de forma confusa e os acontecimentos são avassaladores, sem tempo de os termos na mão e levarmos pacientemente connosco.

A sabedoria passa por uma ausência de decisões imediatas, ou as nossas precipitações, e deixa-nos num espaço paradoxal de saborear a própria confusão. E é bom que assim seja. Estou cada vez mais convencido que o nosso presente, claro ou confuso é um dom. Uma nuvem que não nos deixa ver claro é a oportunidade de nos sentarmos, escutarmos. De trazer ao hoje a alegria de cada momento da nossa Vida.


08 novembro 2009

Imortal

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Hoje deixo uma música. Imortal, de Rodrigo Leão, cantada ao vivo.



Nalguns momentos, é preciso deixar-se levar na confiança e no sonho, tomar consciência do dom que somos na vida das outras pessoas e como a nossa marca é imortal, quando feita com amor e entrega.

07 novembro 2009

Reencontro

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Passamos algumas vezes por tempos de resumo da nossa Vida, onde criamos espaço para descobrir rumos de acontecimentos e resultados de escolhas. É bonito quando se encontra paz naquilo que hoje somos. A paz é terreno fértil onde nascem futuros carregados de sonhos que se começam a cumprir.

O grande desafio da nossa Vida é que dificilmente tudo estará completo. Então resta-nos um esforço diário de construir aquilo em que acreditamos. A violência não é amiga dos nossos passos mais profundos, é necessária uma enorme paciência e um gosto na descoberta de pequenos pormenores que iluminam o sentido do que fazemos.

A vida em plenitude requer um optimismo grande perante o futuro, sem mais cálculos necessários do que a fidelidade de cada dia à nossa perfeição. Juntar o que somos e o que seremos, re-encontrar Belezas tão esquecidas que parecia impossível que tivessem resistido a tantos descuidos. No fim, somos privilegiados por viver, é a Beleza maior que temos para cuidar.

05 novembro 2009

Transformação

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Tenho andado há dias com uma pergunta que li. Porque será que, mesmo mantendo uma vida regular de oração, vamos percebendo que esta não nos transforma? Em muitas coisas não nos faz mais pacíficos, mais humildes ou mais tolerantes. E mais felizes.

Acredito que a questão do passar a oração para a vida não é nada linear. Talvez porque não acertamos com o mais importante e pensamos que a oração é um espaço de pensar coisas sobre Deus e sobre as nossas decisões. Parece que é importante falarmos de nós, pensarmos e rezarmos a vida. Isso também faz parte, mas falta algo.

O tempo de oração é também a possibilidade de Deus se dar exclusivamente. É um espaço aberto à confiança e a deixar que Ele faça o que entender. Não são os nossos desejos e os nossos objectivos, mas deixar que aconteçam os desejos e os objectivos de Deus. Oração é silêncio, e este é o que mais transforma, desde dentro, sem muitas palavras.


03 novembro 2009

Disposições

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Os nossos pontos de partida em relação ao futuro têm para trás histórias longas, por vezes pouco conhecidas por nós mesmos. Daí que seja fácil que sintamos medo ou confiança diante de um desafio, dependendo de como fomos capazes de ler o que foi acontecendo.

As nossas disposições abrem-nos ou fecham-nos a determinadas opções de acordo com o modo como lidamos com a nossa história. Daí podem nascer preconceitos ou falsas seguranças que não nos deixam confiar. Noutras alturas, um caminho feito bastante às claras ajuda-nos a encarar o futuro com outra consciência, muito mais realizada e feliz.

Um horizonte é um reflexo do nosso olhar, é tão grande como o quisermos contemplar. Ao ficar fechados, perdemos oportunidades de ir mais longe, tanto quanto nem possamos imaginar. Ficamos maiores. Iluminar sem medo a própria Vida é um meio de caminhar luminosamente no futuro. É um desafio, pode ser exigente, mas é muito autêntico.


02 novembro 2009

Amar tem muitas caras

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Hoje fiz uma visita por vários blogs amigos e confirmei uma coisa. Parece que há alturas em que há um maior número de temas recorrentes. E é curioso que seja também o tema que mais me ocupa interiormente. Talvez seja porque, em determinada altura do ano, o tempo nos faça frutificar diferentes sentimentos. E o sentimento de hoje é especial.

O amor é um apelo grande à verdade da nossa Vida. É ter consciência, e uma consciência mais afectiva que racional, que nos sentimos movidos por uma energia que faz com que cada coisa tenha um rumo. Em direcção a algo ou alguém que amamos. Não nos sentimos perdidos, mas por vezes quase que arrastados. É uma força pacífica e reconciliadora e, ao mesmo tempo, com uma violência que não nos deixa tomar o pulso à situação.

O amor tem a extraordinária capacidade de nos fazer "deixar andar", sem pensarmos muito nas consequências. Confiamos ingenuamente, perdemos tempo com tesouros que não custam ganhar. É felicidade e exigência. Quando a verdade do nosso bem faz bem, estamos entusiasmados. O amor é esta extraordinária capacidade de não sermos donos do tempo, nem de nós e, sobretudo, dos outros.



31 outubro 2009

Passagens

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Estamos continuamente em passagem. De um lugar a outro, de um coração a outro. De tempos passados esquecidos e nostálgicos, a futuros que trazem anseio e medo. O presente é passagem de mundos e sentimentos, com uma velocidade que é difícil digerir.

Talvez o maior sinal do nosso cansaço seja a simples incapacidade de parar em espaços de passagem. Não deixamos que o coração agarre o tempo e a experiência.

Mas quando isso acontece, a passagem torna-se paisagem para habitar e fazer frutificar. Por não nos deixar ficar parados, paramos no movimento e aceitamos a condição de ir mais fundo e mais longe. Podemos ficar perto de nós sempre que a profundidade dos nossos gestos e dos nossos olhares dá alguma unidade às nossas paisagens. Uma cor só nossa, um tempo acima do tempo, ou além do tempo. Onde em tudo somos nós, em tudo fazemos entrega.


29 outubro 2009

Devoções populares

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Sugestão de Nise

Quando falamos, ao menos em Portugal, de devoções populares, imediatamente nos vêm à cabeça imagens dos peregrinos em Fátima, sobretudo os que cumprem promessas de joelhos, ou então procissões com música e bandeiras, ou santos com muitas velas à frente. Imaginamos sempre pessoas de mais idade, ou com pouca cultura. E é quase irresistível dizermos: esta é uma Igreja muito diferente daquela que penso ser a correcta!

Isto em Portugal, mas um bocado por todo o mundo, da Polónia até ao México, vemos multidões que celebram a fé à volta de um santuário, uma imagem, ou uma determinada data. O que é um facto é que as devoções populares, mesmo que actualmente tenham tendência a estar mais ligadas a pessoas mais velhas, são uma expressão da fé de um enorme número de cristãos.


Em tudo isto, há dois aspectos menos positivos ligados às devoções populares: um é a falta de conhecimento teológico catequético, ou seja, uma fé pouco esclarecida e muito ligada a ritos exteriores e cumprimento de determinados preceitos. O outro aspecto, que vem ligado a isto, é a superstição, que é a parte mais "perigosa" de uma fé pouco esclarecida: estas devoções podem assumir um carácter comercial, de pagar favores a Deus ou fazer coisas para obter o seu favor. Como se fosse necessário recordar a Deus que Ele deve amar-nos.

Um aspecto que poderia fazer reflectir, principalmente a quem está mais responsável pelos centros onde tais devoções têm mais força, é se a quantidade de fiéis justifica o deixar passar sem grande problema uma série de hábitos que, no fim de contas, significam pouco para uma vida autenticamente cristã. Pode correr-se o risco de cumprir algo diante de Deus, fazer as contas com Ele e, depois, isso não se reflectir muito na vida concreta, a nível de opções de fundo. Faltaria um maior acompanhamento e envolvimento espiritual das devoções.

Pessoalmente, mesmo tendo consciência destes limites das devoções populares, dou-lhes muito valor , pois também têm muitas coisas que são extremamente positivas:

A devoção é uma expressão da fé muito mais existencial que racional. É um meio, entre muitos, de entrar em oração e relação com Jesus, mesmo através de Nossa Senhora ou de algum Santo. Por consistir normalmente em coisas muito práticas ( uma determinada oração, um gesto)  faz usar na oração o próprio corpo e a própria sensibilidade, podendo rezar de forma mais integral. Uma oração reflexiva e simplesmente meditativa, se tem a vantagem de poder ser mais esclarecida e aplicada à vida concreta, tem também os seus limites. É importante falar, sentir, cheirar e tocar, pois o nosso corpo também entra na oração.

Em segundo lugar, a devoção é também uma expressão simples do coração, sem complicar muito as coisas. Estabelece-se entre o devoto e Deus uma relação afectiva, de súplica, louvor ou agradecimento. Tem uma ingenuidade própria que é muito frontal e transparente na relação com Deus. De coração a coração. Quando esta experiência de encontro pessoal com Deus é forte, seria então necessário o poder acompanhar o seu desenvolvimento, em direcção a uma vida mais cristã a partir de dentro.

Por isso, acredito que as devoções populares podem estar ao alcance de todos, mesmo de quem está mais "avançado" na catequese. A experiência alimenta a fé, e uma fé esclarecida também dá sentido à devoção. No fim de contas, na expressão da própria fé é bastante difícil tirar a devoção, pois faltaria uma parte muito importante da nossa vida espiritual: sermos mais carne e mais coração na nossa oração.


28 outubro 2009

A minha história

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Visitar os nossos lugares torna-nos mais conscientes de origens e caminhos percorridos. Teremos força para acreditar que cada espaço é um pedaço de nós, construído por um motivo? E os espaços que ficam fora do puzzle, que parece que foram feitos para permanecer vazios?

A nossa história também tem espaços vazios. E é importante que os tenha, são as coisas que não conseguimos explicar, algo que perdemos, rompemos ou deixámos de cuidar. Ser completo no hoje que me é dado viver passa também por assumir aquilo que ainda não fui capaz de assumir.

A coragem passa por ser humilde. E ser humilde é ser optimista, conseguir deixar andar, partir e continuar. Insistir no vazio pode ter tanto de desafiador, de ser mais completos, como de paralisador, de não sairmos dos mesmos bloqueios. Porque a nossa história também tem um ritmo e uma paciência própria. Importa não ficar parados.

26 outubro 2009

Essencial ou prioridade?

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Uma das maiores dificuldades que podemos sentir no dia-a-dia é a gestão do nosso tempo. Parece sempre que não tivémos tempo para tudo, e que perdemos imenso tempo com coisas que não interessavam. Por vezes, podemos cair no risco de transformar algo muito importante que temos de fazer, seja a oração, seja uma actividade específica, num ponto a cumprir no calendário. E chamamos a isso prioridade.

Mas uma prioridade está ligada profundamente ao essencial. E o essencial não pode ser reduzido a um tempo ou algo a cumprir. É uma atitude de fundo. Vivo o essencial em tudo, e não só nas coisas importantes. É pouco se vivermos o essencial apenas em momentos privilegiados do dia. Se o essencial é o motor de todas as nossas acções, então é um dinamismo que atravessa o nosso dia.

As prioridades são mais exteriores, toques essenciais mais explícitos da acção. Na gestão do tempo é importante não deixar de os ter e procurar. A dificuldade está em tornar essencial aquilo que não é explícito. Mas aí é que se mostra a qualidade da nossa existência, se estamos todos em tudo.


24 outubro 2009

Gratuidade

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Qual é o segredo ou o bem de ser gratuito naquilo que fazemos? É difícil dar sem esperar nada em troca, pergunto-me se alguma vez somos capazes de dar assim completamente. Quando fazemos o bem, esperamos pelo menos um gesto de reconhecimento. Sentimo-nos ofendidos ou magoados quando, numa atitude de boa vontade, fazemos algo que não teve nenhum resultado, a não ser indiferença.

Por isso, o que pode mover a gratuidade? Não quero dizer que a única gratuidade que interessa seja aquela que não se importa com o mau resultado da iniciativa. Mas há duas atitudes de fundo que podem fazer pensar na qualidade daquilo que damos:

A primeira é o gostar (amar) desinteressadamente. Fazemos o bem porque amamos aquele a quem fazemos esse bem, mesmo que não o reconheça. Não desistimos, dar é a nossa alegria. A segunda atitude é a alegria de dar. Quando a alegria de fazer o bem move as nossas acções, somos mais livres.

Mesmo que não sejamos completamente livres no dar, ter como fundo amor e alegria constrói-nos por dentro.

22 outubro 2009

Quando a consciência se ilumina

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Sugestão de pica

"Quando a luz se apaga é que a consciência se ilumina.
As almas são como os morcegos: vêem melhor às escuras."  
Guerra Junqueiro



O ponto de partida é esta frase. As imagens da luz e da escuridão fazem uma enorme ressonância em nós, vão além daquilo que podemos reflectir. É uma impressão instintiva, percebemos a luz em nós e nos outros, sem saber bem explicar porquê. Fascinam-nos as pessoas de olhar iluminado, e queremos a toda a força conhecer o seu segredo. Um olhar escuro faz-nos desviar o olhar, sem sabermos o que podemos fazer.

Quando nos sentimos iluminados, tudo nos corre bem, temos imensas ideias de coisas bonitas para afaer, crescemos na confiança e na ousadia. O mundo parece pequeno para os nossos desejos. Porém, quando a escuridão é o nosso ambiente, ficamos perdidos, desorientados, o mundo fecha-se até ficar do tamanho do nosso problema, um pequeno canto numa cave, sem grande capacidade para sair dali.

O que quer dizer que a consciência se ilumina quando a luz se apaga? Esta pergunta é um desafio e um confronto com o modo como lidamos com os nossos tempos e situações mais obscuras. Creio não estar errado, se propuser que são exactamente os momentos de escuridão onde encontramos a nossa verdade. Um dos nossos maiores medos é enfrentar a dúvida, a des-esperança e o facto de não nos sentirmos completos.

Querer viver sempre na luz é bom, na medida em que somos continuamente desafiados a alargar os nossos horizontes e a não ficarmos fechados em nós. Mas pode ser um risco, se formos ingénuos ao ponto de querer a toda a força ser iluminados sem aceitar as nossas sombras, e vivemos tantas vezes numa aparência, quando essa luz não passa de iluminação artificial, lâmpadas coloridas e neons publicitários que, no fim de contas, dizem pouco de nós. Fazemos parte do sistema, que evita todo o contacto com a realidade paradoxal da vida.

Nas alturas em que a escuridão é o nosso mundo, temos a oportunidade de partir do que somos: dúvida, incompreensão, fragilidade. A um certo momento da nossa Vida, o confronto com a escuridão é necessário e salutar, poder dizer com toda a simplicidade: "Também sou isto, mas isto não me impede de viver, antes pelo contrário".

A nossa consciência ilumina-se a partir de dentro, e tornamo-nos mais transparentes, olhamos para nós, ao mesmo tempo que uma luz de aceitação vai tornando os limites mais claros, até que percebamos que a fragilidade é a nosso fonte mais autêntica de força. Ser conscientes, não pelo pensamento, mas na intuição, no fundo, amarmos o nosso presente, seja como este for.



19 outubro 2009

Viver com paixão

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A paixão é violenta, arrebata, arrasta-nos para o que se ama. Nunca tive bem claro se isso é bom ou é mau. Quem está apaixonado normalmente é feliz. Talvez seja a falta de discernimento que faz tomar decisões precipitadas mas, em si mesmo, a paixão é algo positivo.

Paixão também implica sofrimento, vem de passio, em latim, sofrimento. E temos disso experiência, não vale a pena alongar-me nisto.

O que é interessante é que quem está apaixonado por alguém, não olha o outro como algo a possuir, é um dom, uma alegria e uma surpresa. Alargando o olhar, estar apaixonado pela Vida não é exigir dela as coisas que quero, como minha propriedade, mas sim aceitá-la como dom, alegria e surpresa.

Quando se possui o que se ama, perde-se o amor e a novidade. Quando queremos que a Vida seja o que nós queremos ficamos aquém da fronteira da novidade, as coisas entristecem-nos e perdemos a paixão. Viver com paixão é um dom enorme, e um desafio constante à entrega e à liberdade.

16 outubro 2009

As pessoas

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Hoje perdi algum tempo a ver o que há pela net e encontrei uma série de vídeos que são simplesmente filmagens a pessoas comuns, em várias cidades. Achei mesmo interessante a ideia de realçar o que vemos todos os dias, tantas pessoas em tantas situações. Fica aqui um exemplo e a proposta de fazer uma visita à Vida.






Já me tinha dado conta, quando não faço a asneira de andar a correr pela rua sem olhar à volta, que cada pessoa é uma história. Um tesouro... olhar alguém desconhecido nos olhos dá muito valor a quem olhamos... porque também somos olhados.


15 outubro 2009

Entrevista a um Tuareg

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Um companheiro jesuíta enviou esta entrevista a um tuareg. Está em espanhol, espero que não haja grandes problemas em perceber =). Vale a pena ler, para pormos em questão o modo como vivemos a nossa vida. Por vezes precisamos de um olhar de longe que nos faça cair na conta de como vivemos com tanta pressa e nos passa completamente ao lado aquilo que é mais importante... um olhar cheio de horizonte.




"TU TIENES EL RELOJ, YO TENGO EL TIEMPO"
entrevista realizada por VÍCTOR M. AMELA a: MOUSSA AG ASSARID

No sé mi edad: nací en el desierto del Sahara, sin papeles...!
Nací en un campamento nómada tuareg entre Tombuctú y Gao, al norte de Mali. He sido pastor de los camellos, cabras, corderos y vacas de mi padre. Hoy estudio Gestión en la Universidad Montpellier. Estoy soltero. Defiendo a los pastores tuareg. Soy musulmán, sin fanatismo

- ¡Qué turbante tan hermoso...!
- Es una fina tela de algodón: permite tapar la cara en el desierto cuando se levanta arena, y a la vez seguir viendo y respirando a su través.

- Es de un azul bellísimo...
- A los tuareg nos llamaban los hombres azules por esto: la tela destiñe algo y nuestra piel toma tintes azulados...

- ¿Cómo elaboran ese intenso azul añil?
- Con una planta llamada índigo, mezclada con otros pigmentos naturales. El azul, para los tuareg, es el color del mundo.

- ¿Por qué?
- Es el color dominante: el del cielo, el techo de nuestra casa.

- ¿Quiénes son los tuareg?
- Tuareg significa "abandonados", porque somos un viejo pueblo nómada del desierto, solitario, orgulloso: "Señores del Desierto", nos llaman. Nuestra etnia es la amazigh (bereber), y nuestro alfabeto, el tifinagh.

- ¿Cuántos son?
- Unos tres millones, y la mayoría todavía nómadas. Pero la población decrece... "¡Hace falta que un pueblo desaparezca para que sepamos que existía!", denunc iaba una vez un sabio: yo lucho por preservar este pueblo.

- ¿A qué se dedican?
- Pastoreamos rebaños de camellos, cabras, corderos, vacas y asnos en un reino de infinito y de silencio...

- ¿De verdad tan silencioso es el desierto?
- Si estás a solas en aquel silencio, oyes el latido de tu propio corazón. No hay mejor lugar para hallarse a uno mismo.

- ¿Qué recuerdos de su niñez en el desierto conserva con mayor nitidez?
- Me despierto con el sol. Ahí están las cabras de mi padre. Ellas nos dan leche y carne, nosotros las llevamos a donde hay agua y hierba... Así hizo mi bisabuelo, y mi abuelo, y mi padre... Y yo. ¡No había otra cosa en el mundo más que eso, y yo era muy feliz en él!


- ¿Sí? No parece muy estimulante. ..
- Mucho. A los siete años ya te dejan alejarte del campamento, para lo que te enseñan las cosas importantes: a olisquear el aire, escuchar, aguzar la vista, orientarte por el sol y las estrellas... Y a dejarte llevar por el camello, si te pierdes: te llevará a donde hay agua.

- Saber eso es valioso, sin duda...
- Allí todo es simple y profundo. Hay muy pocas cosas, ¡y cada una tiene enorme valor!

- Entonces este mundo y aquél son muy diferentes, ¿no?
- Allí, cada pequeña cosa proporciona felicidad. Cada roce es valioso. ¡Sentimos una enorme alegr a por el simple hecho de tocarnos, de estar juntos! Allí nadie sueña con llegar a ser, ¡porque cada uno ya es!

- ¿Qué es lo que más le chocó en su primer viaje a Europa?
- Vi correr a la gente por el aeropuerto.. . ¡En el desierto sólo se corre si viene una tormenta de arena! Me asusté, claro...

- Sólo iban a buscar las maletas, ja, ja...
- Sí, era eso. También vi carteles de chicas desnudas: ¿por qué esa falta de respeto hacia la mujer?, me pregunté... Después, en el hotel Ibis, vi el primer grifo de mi vida: vi correr el agua... y sentí ganas de llorar.

- Qué abundancia, qué derroche, ¿no?
- ¡Todos los días de mi vida habían consistido en buscar agua! Cuando veo las fuentes de adorno aquí y allá, aún sigo sintiendo dentro un dolor tan inmenso...

- ¿Tanto como eso?
- Sí. A principios de los 90 hubo una gran sequía, murieron los animales, caímos enfermos... Yo tendría unos doce años, y mi madre murió... ¡Ella lo era todo para mí! Me contaba historias y me enseñó a contarlas bien. Me enseñó a ser yo mismo.

- ¿Qué pasó con su familia?
- Convencí a mi padre de que me dejase ir a la escuela. Casi cada día yo caminaba quince kilómetros. Hasta que el maestro me dejó una cama para dormir, y una señora me daba de comer al pasar ante su casa... Entendí: mi madre estaba ayudándome...

- ¿De dónde salió esa pasión por la escuela?
- De que un par de años antes había pasado por el campamento el rally París-Dakar, y a una periodista se le cayó un libro de la mochila. Lo recogí y se lo di. Me lo regaló y me habló de aquel libro: El Principito. Y yo me prometí que un día sería capaz de leerlo...

- Y lo logró.
- Sí. Y así fue como logré una beca para estudiar en Francia.

- ¡Un tuareg en la universidad. ..!
- Ah, lo que más añoro aquí es la leche de camella... Y el fuego de leña. Y caminar descalzo sobre la arena cálida. Y las estrellas: allí las miramos cada noche, y cada estrella es distinta de otra, como es distinta cada cabra... Aquí, por la noche, miráis la tele.

- Sí... ¿Qué es lo que peor le parece de aquí?
- Tenéis de todo, pero no os basta. Os quejáis. ¡En Francia se pasan la vida quejándose! Os encadenáis de por vida a un banco, y hay ansia de poseer, frenesí, prisa... En el desierto no hay atascos, ¿y sabe por qué? ¡Porque allí nadie quiere adelantar a nadie!

- Reláteme un momento de felicidad intensa en su lejano desierto.
- Es cada día, dos horas antes de la puesta del sol: baja el calor, y el frío n o ha llegado, y hombres y animales regresan lentamente al campamento y sus perfiles se recortan en un cielo rosa, azul, rojo, amarillo, verde...

- Fascinante, desde luego...
- Es un momento mágico... Entramos todos en la tienda y hervimos té. Sentados, en silencio, escuchamos el hervor... La calma nos invade a todos: los latidos del corazón se acompasan al pot-pot del hervor...

- Qué paz...
- Aquí tenéis reloj, allí tenemos tiempo.



 

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