12 dezembro 2009

Transparência



Porque nos escondemos? Onde está a fronteira entre o que somos e pensamos e o que mostramos e dizemos? Tenho pensado bastante no nosso mundo escondido, os segredos inacessíveis, por vezes a nós mesmos. A prudência exige que não possamos falar claramente de tudo o que nos acontece. Podemos nem sequer ter a capacidade de o expressar. Acredito que há um espaço da nossa intimidade que deve ficar apenas para nós.

De facto, incomoda-me quando alguém se expõe demasiado. Há coisas que não nos pertence saber e é triste quando vemos que revelar a intimidade é uma forma de espectáculo consumista. A televisão mostra-nos isso diariamente e dói tanta falta de respeito. Existe um pudor saudável em relação a nós ou aos outros, aquele espaço que ninguém tem o direito de violar, mesmo com as melhores intenções.

Temos em nós este santuário que condensa a nossa história e a nossa personalidade, o núcleo onde dizemos "Eu". A grande dificuldade está em nos olharmos olhos nos olhos e receber aquela onda de desejos e perguntas que nos deixam desarmados. Seria um óptimo desafio podermos conversar tranquilamente com a nossa história, e deixar que ela se manifeste em paz, na serenidade de quem lembra coisas passadas junto à lareira. Assim, este núcleo é transparente a nós mesmos, torna-nos dóceis e capazes de falar de nós de forma natural e serena.

6 comentários:

Anónimo disse...

A mim também me incomoda e magoa ver essa violação!...
Há umas semanas atrás a leitura do Evangelho era a passagem da viúva que deu tudo o que tinha sem fazer alarido ou espectáculo e Jesus repara nela impressionado(?). É possível dar tudo sem violar nada.

Maria José Rezende de Lacerda disse...

António. Acho que a intimidade do outro é um santuário, que para acessá-la, devemos pedir permissão e entrarmos de joelhos. Bjs e ótima semana.

Isabel Maria Mota disse...

Antonio

E de facto um bem demasiado valioso a intimidade. E realmente triste ver algumas exposições publicas... felizmente, quero eu acreditar quem se expoe dessa forma e visto por uma maioria de pessoas que tambem esquece com muita facilidade... e realmente um privilegio ser convidado a entrar na intimidade de alguem e as vezes ate fico sem jeito perante tanta grandeza... tao grande e a sensaçao que sinto quando me permitem conhecer peças tao importantes de uma vida...
muitos beijinhos, Isabel Mota

p.s. desculpa as falhas e erros, o meu pc esta avariado!
E um grande abraço para ti destas terras, agora muito frias, perto de Mafra e do magnifico mar da Ericeira!

Carl@ Mesquita disse...

O demasiado é sempre o demais, onde o valor do que queremos dar ou demonstrar, de forma imediata ou directamente, faz-se no vazio, e perdem-se... perdem-se o que há de mais precioso: Nós.

Um abraço=)

Gisele Resende disse...

Olá Antônio,

acredito que muitas vezes nos escondemos por medo de passar quem realmente somos. O mundo nos cobra tanta imagem que acabamos entrando nesse jogo!
Por isso devemos sempre estarmos atentos para que não nos corrompamos.

abraços fraternos,

Gisele

Lídia disse...

A falta de transparência é reflexo de quando se fala muito e nada se diz... Talvez, aconteça precisamente quando nos escondemos ou fugimos de nós mesmos. Acho impossível querer dar-me, por inteiro, se não me conhecer e perservar intimamente. Ou seja, estou inapta de dar o que quer que seja com verdade e corro o risco de interferir no "santuário privado" do outro. Em vez de ser amiga, seria uma intrusa indelicada, que incomoda...
Ser transparente requer, necessariamente, uma postura altruísta, totalmente intrínseca a DEUS, para assim acontecer de modo natural, a LIBERDADE... a nossa e a do outro.

Boa semana da ALEGRIA p/todos.
Beijinho

Lídia Ramalho

 

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