30 abril 2007

História(s)

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Tenho estado estes dias, aproveitando este fim de semana prolongado, a fazer de guia da cidade com algumas pessoas amigas. E aproveitar os passeios e as visitas para estar num ritmo que, habitualmente, não tenho aqui. E que a maioria das pessoas que aqui vêm fazem.

Contactar com as maravilhas do passado é sempre um tempo de rever o presente. Perceber como eu faço parte de muitos anos de tradições e acontecimentos, bons e maus, que me permitem perceber-me a mim mesmo e ao mundo.

Cruzar histórias de civilizações com milhares de histórias de pessoas que se cruzam connosco na rua. E ver tantos pontos comuns, de como, no fundo, todos somos muito parecidos em algumas coisas... por caminhos diferentes, mas em mundos de experiências interiores e exteriores que fazem com que se sinta o mundo humano com maior plenitude.

É uma rede complexa de línguas e culturas, este mundo em que estamos. Mas há tanto em comum... tudo aquilo que nos faz sonhar com a possibilidade de fazer um mundo mais feliz.

27 abril 2007

Futuro

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O fascínio do futuro. É o mistério do dia seguinte, da hora seguinte, ou o que estarei a fazer daqui a dez anos. Ao mesmo tempo, sementes de desafio, ou o medo de não encontrar o que agora anseio.

De todos os modos, chegará o momento esperado, desejado ou não. O futuro tem duas mãos, uma que me puxa irresistivelmente, outra que me tapa os olhos.

Traz-me a recompensa do trabalho presente, às vezes a desilusão dos sonhos. Surpresas, sobretudo....

Traz oportunidades de Vida, as de sempre, como as de hoje. Não sou proibido de sonhar, nem devo. Sou obrigado a esperar de coração uma realização de caminhos desconhecidos, esses sempre meus.

26 abril 2007

Salvação

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O caminho da liberdade é exigente. Esta manhã, ao abrir a caixa de correio, dei com um mail com fotografias e a história de uma vida difícil. Com a qual tenho tido algum contacto, mas vejo agora que muito menos do que acho que me seria pedido... por várias razões, mas não é isso que interessa.

Fiquei triste, sim, sem perceber, sem conseguir sequer fazer muitas perguntas. Porque não sei dar as respostas. Perante o sofrimento dos outros, encontro sintonia, vontade de ajudar e consolar, sair de mim. Porque esta história, em particular, é incrivelmente bonita.

Mas é este sair de mim, quase espontâneo, que me fez cair na conta de duas coisas: No dom que é ter a vida que tenho. No quanto sou pequeno nos meus problemas. Seria tão mais livre se aprendesse a olhar para além da comodidade da minha janela e não ter medo de me implicar no sofrimento do mundo.

Porque sinto o peso de coisas menos boas minhas, serei capaz de maior liberdade se as viver como caminhos de salvação, minha e dos outros.

24 abril 2007

Leveza

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Há poucas coisas que me façam estremecer por dentro como a contemplação de um espírito livre. Ontem falava sobre isto com uma pessoa amiga. Que um dos grandes desafios que sentimos é poder aproveitar em profundidade os momentos de crescimento.

Porque às vezes não é fácil viver dias mais cinzentos, e não se tem a certeza absoluta que, no fim, vai ficar tudo bem. Como acaba por ficar. O optimismo mais radical perante a Vida nasce, não de um conjunto de facilidades, mas de experiências de confusão e, às vezes, dor.

É fácil dizer que ninguém pode dar o que não tem. E é verdade. Mas começo a acreditar que o que de mais precioso se pode dar, é precisamente a experiência de não ter tido algo.

Isto abre a amar o que se tem sempre. Cria liberdade... tudo aquilo que mais nos fascina.

23 abril 2007

Não retorno

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Há momentos em que não se pode esperar, nem fazer alongar o tempo. Em que a Vida continua a partir de uma viagem, para outros sítios, longe de lugares de sempre.

Um abraço de despedida, um beijo que não ficou completo...

Muitas vezes, as partidas levam-nos para longe, por opções nossas, e outras pelas coisas da Vida. Um caminho que se sabe que continua, porque sempre se decidiu a não ficar parado em desejos que talvez um dia possa vir a realizar.

A plenitude traz consigo aquela carícia antes de começar a andar e não se olha para trás. Passei por momentos assim, em que fui eu que parti, e deixei ficar, ou outros que partiram e era a minha vez de regressar a uma casa mais vazia.

E isso faz-me pensar no quanto se é incompleto quando se perde algo ou alguém. E quanto se pode ser ainda mais incompleto, quando não se tem a coragem de assumir o que se perdeu. Porque... será que se perde alguma vez o que se teve desde sempre?

22 abril 2007

O Mundo à Lupa

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O que vejo no mais profundo?


Fotografia e título de Ana Red.

21 abril 2007

Sopro leve

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Memórias de casa. No terraço de minha casa, em pleno coração da Beira Baixa. Um dia de muito calor, mesmo à sombra, em que se espera o momento da primeira brisa. Que vem tarde, quando desapareceram os rumores da estrada.

Aparece para quem esteja à espera, como quem sai de casa e sente o vento a acariciar os cabelos. É uma brisa suave e quente, que traz ainda o calor das pedras e os cheiros dos campos depois do pôr do sol.

O corpo não precisa de mais nada naquela altura, senão deixar-se levar no encanto deste mistério. Porque a alma se fez mais transparente e resolveu explicar ao corpo o que significa ser acariciado e levado nas mãos, por uma Vida tão mais absoluta.

Hoje um companheiro disse-me no corredor de casa, que acordou muito mal disposto. E que lhe bastou um minuto a meio da manhã, e disse: salva-me!. De repente, vi-me ali, no terraço de minha casa, à noite, no coração da Beira Baixa.

19 abril 2007

Estados de alma

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Não desanimes. Deixa de te sentir hóspede quando entras na tua casa. Há coisas demasiado bonitas em cada coração para as poder apreciar com toda a profundidade.

Contemplar verdadeiramente uma obra de arte leva pelo menos, dizem, meia hora. O que será estar no meu espaço sempre, como quem aceita descansar no que já está feito desde sempre?

Há medos de nós próprios que nos bloqueiam, por causa de coisas pequenas que desviaram o olhar. Coisas boas e coisas más. Estar em si mesmo, de alma e coração, é uma necessidade, corajosa e feliz. Não é ficar fechado, porque quem ama o que tem, precisa de o mostrar. Ninguém esconde belezas.

A Natureza está toda aí para ser descoberta e percorrida. E levamos sempre os amigos especiais aos nossos lugares especiais.

17 abril 2007

Auto-retrato

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Aprendi a ser sensível depois de uma peregrinação e da primeira "chamada de atenção" mais à séria. Há tesouros que se deve estar sempre pronto para os receber e agradecer da melhor maneira possível.

Gosto de planícies amarelas, com poucas árvores e um céu muito azul com castelos de nuvens de algodão. O mar assusta-me e descansa-me. Gosto muito de vestir roupas claras e apanhar sol durante horas. Ficaria dias inteiros com os amigos a falar, numa esplanada.

Vejo-me uma pessoa reservada e tímida, adoro ouvir histórias e sinto-me pequeno quando as partilham comigo. Sinto-me simples, quando estou com pessoas simples e me rio das pequenas coisas. Gosto de viajar em mundos de fantasia, a partir dos livros, uma hora antes de dormir, quando já estou deitado. Preciso de me sentir útil e ver que faço bem aos outros, quando consigo ser mais simples e mais original.

O meu maior descanso é trabalhar num jardim. Gosto de tocar guitarra e andar descalço. Gosto de ler aquilo que escrevo e dar-me presentes em dias de sol.

Realizo-me só em pensar que pertenço a Jesus. Sou feliz? Sim... muito.

16 abril 2007

Ser agradecido

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Tive há dias uma experiência de querer agradecer a alguém muito especial algo muito importante. Não era um favor, nem uma coisa em particular, era já uma história. Em que me dei conta que já tinha acontecido tanto, e fazia parte de mim.

E na hora de agradecer, faltam palavras, e ainda mais os gestos. Talvez por ver que, no fundo, não muda muita coisa, mas que é uma alegria e um dom enormes poder contar com essa pessoa e com essa amizade.

Na hora de agradecer, basta uma pequena imagem, e percebe-se. Um pedaço de alma e história que não partilharia com mais ninguém. São coisas do Céu vividas aqui.

14 abril 2007

Coisas pequenas

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Quando a Vida regressa às horas normais, em que os corredores da casa e as pedras da rua dizem de novo bom dia aos passos-de-cada-dia. Sair da rotina como se fosse possível viver uma realidade diferente. No fim de contas, há cores e sons de todos os dias.

O que me maravilha nas crianças é que elas não conseguem fazer repetições. Se algo é já conhecido, a fantasia entra no Mundo. Constroem-se histórias a partir de um lápis, uma folha de árvore, ou uma pedra que brilha.

Os meus brinquedos nunca ficavam arrumados na estante. Cada dia tinham uma missão nova, muitas vezes iam salvar o mundo. Quando cresci, ficaram a fazer parte do museu da nostalgia, quando os vejo no quarto de casa dos meus pais.

Os gestos meus de cada dia são esta vontade de querer ser pequeno, sem ser diminuído nem nos horizontes nem nas possibilidades de amar. O mundo de cada dia é todo o Universo do que se pode ser e fazer, quando se decide simplesmente ser eternamente criativo.

13 abril 2007

A alegria

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Há uma coisa muito interessante que tenho experimentado estes dias aqui na Comunidade. Foram dias intensos de celebrações e preparação para as festas. Desde ensaios, a transportar mesas e cadeiras, a fazer limpezas, foi uma semana em que estivemos todos em grande movimento.

Resultado: cansaço, mas uma alegria muito genuína. E vontade de estarmos juntos a rir, a passear e a conversar. Depois de tudo, fica uma recompensa, que nasce do facto de se ter feito algo em comum.

Quando há união num mesmo propósito, em que verdadeiramente nos sentimos na teoria e na prática como companheiros, tudo o que nos poderia causar distância desaparece.

Por alguma razão o esforço do trabalho vivido na festa a uma mesma mesa é o sinal mais cristão. A alegria mais simples e mais autêntica. E é mesmo bom estar aqui... E isto tem tanto a ver com o ir à Missa, onde se joga ao mesmo tempo o cansaço, a alegria e o eterno.

12 abril 2007

Toque de eternidade

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Com o toque das mãos. É impossível explicar o que se vê. Vejo 13 companheiros jesuítas a ser ordenados diáconos. Não imagino o que pode ir no coração de cada um deles.

Sinto que será um toque que agarra a Vida no mais fundo. Um não poder voltar atrás no amor. Como quem sabe que não perde nada, e chega o momento de dizer sim, e deixa-se levar até ao mais fundo.

Em qualquer caminho que se faça há paragens indicadas, onde se espera recuperar forças e continuar a viagem. Sem rumo certo, só com a certeza do vento. Mas, uma paragem que é mais que descanso, é como se tudo começasse de novo.

Parabéns pela vossa eternidade, amigos! Em especial a ti, Pedro, a ti, Gonçalo e a ti, Fernando.

09 abril 2007

No fim do dia

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Depois do deserto de uma espera sem sentido. Faz sentido o deserto. Para poder tocar com as mãos uma realidade nova, uma nuvem de luz que me envolve.

As mãos transformadas por um olhar que as tomou. E a alegria indescritível de ter chegado ao fim, de ter percebido que valeu a pena a sede e o calor.

Era o tempo de estar sentado a mesa, com música no máximo volume, com a melhor louça da casa. Com os risos e os olhos com lágrimas de quem ainda não acreditava que era possível estar vivo. Sem poder dizer nada, deixar o coração voar num sonho cantado com duas vozes que nunca mais se separarão.

Sonhar os meus sonhos contigo. Viver a minha morte na Tua Vida. O mundo torna-se de repente, pequeno de mais para acolher a Notícia. Tudo é tão maior. Mais que a Terra. Mais que o Céu.

Dreaming My Dreams...

07 abril 2007

À espera

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O momento antes de nascer, antes de ouvir o primeiro grito de Vida. O momento antes do primeiro raio de sol, que surge atrás da montanha. O momento em que o maestro levanta os braços, antes da orquestra tocar.

Não há silêncio mais completo que o instante antes daquilo que se espera. Quanto mais se isso for pensado desde sempre. Quanto mais se o que vier transforma radicalmente o mundo e o que somos. Para sempre.

Não deve ser possível imaginar o silêncio do último instante, o preciso momento em que Jesus volta à Vida. O Universo deve ter caído, completo, no contemplar e acolher aquilo que estava a acontecer.

Hoje, nesta noite....

06 abril 2007

Sentido

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Procurar e encontrar um sentido para a cruz é difícil. Sinto-me movido a não dizer nada, e ficar numa contemplação simples, sem palavras. No fundo é o que todos experimentamos quando vivemos os momentos difíceis.

Fico apenas com o sentimento de saber com que Deus posso contar. Não é distante, porque sabe o que é sofrer, na alma e no corpo, os limites a que estamos sujeitos.

A sabedoria do coração vive sozinha quando não tem respostas. Às vezes nem é capaz de pôr questões. Uma experiência de deserto. É ao mesmo tempo tão árido e tão completo. Quando não há mais nada, é porque há todo o espaço para acontecer tudo. O mais incrível, é que o deserto das emoções e dos sentidos é o que possibilita o conhecimento mais puro.

O conhecimento que só a alma é capaz de ter.

05 abril 2007

Faça-se a Tua Vontade

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04 abril 2007

Um quase Adeus

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Os dias de semana santa são uma espécie de despedida. Pelo menos, para quem conheceu Jesus, foram os dias que mais marcaram a relação entre Ele e os amigos mais próximos.

Não percebiam onde tudo poderia acabar. E foram tendo gestos incompreensíveis... sem perceberem os sinais. Despede-se, parte e dá como memória de Si o pão e o vinho. Lava-lhes os pés.

Seria tanta a vontade de partir como a de ficar? Mas decidiu pelo A-Deus. São estes gestos que, passados dois mil anos, continuam a ser recordados. Não foi, de todo, uma experiência banal para quem a viveu. Arrancou o coração de forma definitiva dos limites da amizade, levou à entrega.

Memórias dos gestos, sinais de Adeus, a eternidade das palavras. São pistas para estes dias =) Boa viagem!

02 abril 2007

As cenas de um filme

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Experimentei há tempos uma coisa engraçada, mas que até prefiro não fazer. =)

Caminhar na rua a ouvir música com headphones. É pena perder os ruídos do que nos envolve. De facto, entrei noutra dimensão. Ver passar diante de mim pessoas a gesticular e a falar, crianças a correr, o sol a iluminar os vidros das casas. E o ar de filme que apenas uma cidade como Roma pode dar.

Senti-me a assistir na minha passagem pelas ruas da cidade. Como se não estivesse lá. Foi estar entre a fantasia e a explosão dos sentidos. Nunca senti tanto a cidade... eliminar a audição com uma música de sonho, faz com que os olhos, as mãos, os cheiros ganhem uma força maior.

Pode ser que os momentos de fantasia nos façam apreciar a Vida de uma forma mais intensa. Como entre o ser-se sonho e o ser-se real, entre o que somos e o que queremos ser. Tudo vivido na mesma luz.

01 abril 2007

Lugares do esquecimento

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Folhas caídas de tempos antigos. Sinais de vida cheia que traz todas as promessas. Num caminho de sol e areia, com mar ao fundo, rostos trazidos em ventos que levam a música para longe.

Uma arca escondida dentro de nós, onde cresceu uma casa, cheia de ouro e espelhos. Ainda lá estão as cadeiras vazias, e ouve-se o estalar da madeira, quando os pés dançavam no salão.

São lugares de esquecimento de mim próprio. Basta-me uma nota e uma cor. De estar só com o Universo e cheio de plenitude. É bom não ter nada que fazer, a não ser deixar-se ser abraçado. No mais fundo.
 

Cidade Eterna © 2010

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