22 outubro 2009

Quando a consciência se ilumina

Sugestão de pica

"Quando a luz se apaga é que a consciência se ilumina.
As almas são como os morcegos: vêem melhor às escuras."  
Guerra Junqueiro



O ponto de partida é esta frase. As imagens da luz e da escuridão fazem uma enorme ressonância em nós, vão além daquilo que podemos reflectir. É uma impressão instintiva, percebemos a luz em nós e nos outros, sem saber bem explicar porquê. Fascinam-nos as pessoas de olhar iluminado, e queremos a toda a força conhecer o seu segredo. Um olhar escuro faz-nos desviar o olhar, sem sabermos o que podemos fazer.

Quando nos sentimos iluminados, tudo nos corre bem, temos imensas ideias de coisas bonitas para afaer, crescemos na confiança e na ousadia. O mundo parece pequeno para os nossos desejos. Porém, quando a escuridão é o nosso ambiente, ficamos perdidos, desorientados, o mundo fecha-se até ficar do tamanho do nosso problema, um pequeno canto numa cave, sem grande capacidade para sair dali.

O que quer dizer que a consciência se ilumina quando a luz se apaga? Esta pergunta é um desafio e um confronto com o modo como lidamos com os nossos tempos e situações mais obscuras. Creio não estar errado, se propuser que são exactamente os momentos de escuridão onde encontramos a nossa verdade. Um dos nossos maiores medos é enfrentar a dúvida, a des-esperança e o facto de não nos sentirmos completos.

Querer viver sempre na luz é bom, na medida em que somos continuamente desafiados a alargar os nossos horizontes e a não ficarmos fechados em nós. Mas pode ser um risco, se formos ingénuos ao ponto de querer a toda a força ser iluminados sem aceitar as nossas sombras, e vivemos tantas vezes numa aparência, quando essa luz não passa de iluminação artificial, lâmpadas coloridas e neons publicitários que, no fim de contas, dizem pouco de nós. Fazemos parte do sistema, que evita todo o contacto com a realidade paradoxal da vida.

Nas alturas em que a escuridão é o nosso mundo, temos a oportunidade de partir do que somos: dúvida, incompreensão, fragilidade. A um certo momento da nossa Vida, o confronto com a escuridão é necessário e salutar, poder dizer com toda a simplicidade: "Também sou isto, mas isto não me impede de viver, antes pelo contrário".

A nossa consciência ilumina-se a partir de dentro, e tornamo-nos mais transparentes, olhamos para nós, ao mesmo tempo que uma luz de aceitação vai tornando os limites mais claros, até que percebamos que a fragilidade é a nosso fonte mais autêntica de força. Ser conscientes, não pelo pensamento, mas na intuição, no fundo, amarmos o nosso presente, seja como este for.



1 comentários:

Isabel Maria Mota disse...

Olá Valério

Viajar para dentro de nós poderá ser talvez uma tarefa às vezes desconfortável...
Invariavelmente, haverá sempre sombras com as quais temos que nos confrontar... mas, que poderemos pacificar se estivermos conscientes da companhia de Deus nesse percurso. São tantas as fragilidades que escondemos a custo! É sempre mais fácil disfarçarmo-nos ou distrairmos os outros com as luzes exteriores... mas, acredito que, tal como os silêncios, também a escuridão - que resulta de um gesto tão simples... de um fechar os olhos e nos aceitarmos, pode ajudar. O desafio de crescer, também, através dos nossos degraus mais feios, das nossas portas mais difíceis de abrir culminará, com certeza, numa luzinha brilhante que está no fim do caminho e que aumentará de intensidade com o decorrer da nossa viagem.
Um grande abraço e que Roma esteja cheia de luz esta tarde.
Isabel Mota

 

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