08 maio 2010

Redenção



(Sugestão de Nise e Zé Lito)

A Redenção é um tema da fé cristã que toca muitos aspectos. Será difícil explicitá-los todos, mas procurarei tocar os pontos mais importantes. 

Em primeiro lugar, redenção significa, na sua etimologia hebraica e grega, segundo os diversos contextos: "libertar, soltar, resgatar". Redimir alguém seria libertá-lo de alguma obrigação, escravidão, etc, através do pagamento de dinheiro ou de um gesto que desse cumprimento a essa libertação. Em contexto religioso, a redenção era vista como a libertação do pecado, devendo, por isso, ser oferecido um sacrifício que perdoasse os pecados. Era o que se fazia no templo em Jerusalém, em que os sacerdotes ofereciam sacrifícios de animais para redimir o povo e as pessoas singulares dos seus pecados. Deste modo, o termo redenção está relacionado com outros termos que se usam na linguagem teológica, como salvação, perdão, expiação, sacrifício. 

A comunidade cristã, desde a sua origem, viu na morte de Jesus na cruz o sacrifício que o Filho de Deus fez, entregando a sua vida para libertar os homens dos seus pecados. É por isso que os discípulos o chamam Cordeiro de Deus. Além disso, em cada Eucaristia, os cristãos continuam a recordar e fazer presente este mesmo sacrifício e entrega de Jesus na cruz. Na sua morte e ressurreição, são perdoados os pecados da humanidade, Jesus pagou definitivamente o preço da nossa salvação.

Esta linguagem pode criar alguns mal entendidos, na medida em que podemos ficar a pensar que Deus necessita que alguém morra ou faça sacrifícios pelo pecado de outros; como se a salvação tivesse um preço a pagar e Deus só desse o perdão em troca de algo. O que é importante é reflectirmos sobre o que está por detrás da realidade do pecado e da redenção. O pecado, na medida em que é oposição ao amor e ao bem, rompe o laço que nos une a Deus, a nós próprios e aos outros. Quando pecámos, algo de bom deixou de estar presente no mundo, houve amor que não foi vivido nem comunicado. O pecado coloca-nos numa situação em que estamos afastados do bem e do amor. Para regressar à comunhão com Deus, connosco e com os outros, necessitamos de tomar consciência que precisamos de mudar atitudes e fazer algo que mude o nosso estado de pecado e nos faça passar ao estado de amor. Pedir perdão é já um gesto de redenção, mudar o nosso coração e não querer ficar no mal, é também um gesto de redenção, que muitas vezes implica um sacrifício pessoal de superar feridas, de dar o braço a torcer, reconhecer que errámos, crescer na humildade. Deste modo, podemos dizer que a conversão e a redenção implica necessariamente um sacrifício, a morte do nosso egoísmo e do nosso pecado, para que a vida de Deus-Amor aconteça plenamente em nós.

O que é mais significativo na redenção cristã é que Deus tenha oferecido o perdão gratuitamente e sem medida. A iniciativa de Deus é oferecer o perdão através do facto de Ele mesmo se ter feito um de nós, ter vivido tudo o que vivemos, ter sofrido e, finalmente, ter morrido na cruz. Em Jesus, Deus oferece-se a si mesmo como o preço da nossa libertação do pecado. Poderemos dizer, de forma muito simplificada, que a morte de Jesus na cruz torna o perdão de Deus extremamente acessível, de uma vez para sempre. Então o que se espera da nossa parte? Poderíamos dizer que, se Jesus já pagou o preço do nosso pecado, então estamos já salvos. Isto é verdade, mas não completamente. É um erro presumir que estamos já salvos, fazendo tudo como se o pecado não nos afectasse e vivendo sem responsabilidade. Não é isto que Deus nos pede. Pelo contrário, o facto de sabermos que o perdão nos é constantemente oferecido, faz-nos mais exigentes connosco mesmos, e queremos retribuir com uma vida mais santa aquilo que Deus fez por cada um de nós. Ser amados deste modo transforma-nos, na medida em que queremos ser dignos desse amor e corresponder-lhe com fidelidade e entrega. Por outro lado, ser amados deste modo, também nos faz mais sensíveis à nossa falta de amor, temos uma maior consciência e dor do próprio pecado quando sabemos que estamos a ser pouco fiéis a quem muito nos ama. 

Deste modo, a redenção é o perdão posto à nossa disposição, é o perdão já acontecido, que exige de nós uma correspondência e fidelidade constantes. Por isso, fazer o bem e não pecar não é uma simples tentativa de ganhar o céu, mas uma consequência existencial do facto de sermos amados e perdoados. Se o preço da libertação do nosso pecado está já pago, o que nos resta fazer é viver de acordo com este dom enorme de Deus. Isto é exigente, mas Deus ama-nos deste modo, quer-nos responsáveis e com a capacidade de tomar nas mãos o nosso destino.


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