05 fevereiro 2009

Dependência



(sugestão de m)

A liberdade nas relações é daqueles temas que mais mexe comigo. Precisar de alguém, querer muito bem a uma pessoa é algo tão natural nas relações que são importantes na nossa Vida. De certa maneira, é o modo espontâneo de dar aquilo que se recebeu. E assim, preocupamo-nos, cuidamos, perdoamos, conhecemo-nos e admiramo-nos naquilo que somos.


O que está na base de uma relação deste tipo é o amor, nas suas diversas formas. O amor é comunicação e gratuidade, damos o que somos e temos por causa do outro, para o fazer feliz. Contudo, há um mecanismo muito escondido em nós que procura receber algo em troca do que dá. Esse mecanismo existe e é importante que sejamos conscientes dele e da forma como pode agir. Sempre que uma relação começa a ter como referência o eu e não o outro, podem surgir problemas.


Começamos a cobrar, a desconfiar, a querer mais atenção, a fazer jogos de silêncios... Obrigando o outro a ter-me no centro do seu mundo. O critério que me pode fazer pensar sobre a liberdade em determinada relação é o que sinto quando penso nela: se confiança, alegria, estima, ou tensão, medo e angústia. Se as últimas coisas acontecem, é porque não estou livre e estou mais preocupado comigo. E isso não é bom.


É possível dar-se com limites? Depende dos limites que são, cada relação é uma história única. Mas quando faz sentido, o dar-se sem limites tem a cor da confiança absoluta e da abertura para falar sem medo. Se não, podemos começar a fazer violência, que é a outra face do amor, como há dias escrevi numa outra reflexão.


8 comentários:

Anónimo disse...

Faz sentido mas... (vou complicar). Dás e recebes, entregas-te e recebes, no entanto, chega a um ponto (o qual nem deveria chegar) que surge um "mais". Mas (para complicar de novo) a pessoa que está do outro lado é um futuro padre. Esse "mais" existe. Como contornar? Desligar? Cortar? Dar com limites (o tal)? Embora todas estas possibilidades, o mal já está feito.. a dependência já está criada..

Desculpa se não fui o mais clara possível.. Mas este tema não é nada fácil nem claro..

Obrigada na mesma por esta partilha.
É sempre bom ouvir-t(T)e.

Berro d'Água disse...

Definitivajmente não gosto das dependências... Sejam elas quais forem...

Bom assunto e tema para muitas palavras ao vento, mas hoje especialmente, meu tempo está curto. Vim apenas te agradecer pela tua visita sempre muito bem vinda e dizer-te que é um prazer te receber.

Voltarei depois para falarmos do assunto em pauta...

Uma ótima sexta feira e um excelente final de semana!!!

Beijo,
Cris

António Valério,sj disse...

Olá m! De facto, o tema das dependências nas relações é tão vasto como o número de situações em que acontece. Falar na generalidade como o fiz, pode ajudar, mas não responde a todas as questões. De facto, quando existe uma dependência de um "mais" que não é possível por causa de um compromisso assumido por outra pessoa, no caso um quase padre, terá de se ver que passos concretos poderão ser dados, para evitar sofrimentos futuros. Mas percebo que este é um assunto pessoal e não acho que tenha que ser exposto aqui. Se quiser, pode escrever-me (avaleriosj@gmail.com), se for mais confortável para si. Obrigado pela partilha...

E é um gosto também receber a sua visita, Berro d'agua, aguardo a sua intervenção. Bom fim de semana!

susana disse...

os limites... porque haode de haver limites... boa reflexão essa... se a nossa liberdade termina quando começa a do outro... se o amor deve ser livre... não estarão esses limites impostos pelo choque de um mundo com o outro? Eu acredito que existe uma questão que é dificil de perceber: a unidade relacional por oposição à liberdade individual. Alternam, fundem-se, são mutuamente exclusivas?
é complexo falar assim... de forma vaga... mas acho que para além de todos os principios que referes de confiança, estima, comunicação por aí além... se prende uma questão de preservação da identidade de cada um, ou melhor, esses limites estão imbuídos ou por excesso de zelo com processos de individuação ou, por outro lado, com a excessividade do desejo de espelho no Outro. É nessa dança de limites/ liberdade que se constróiem relações com equilibrios diferentes, saudáveis ou não, mutáveis ou não, castradoras ou libertadoras.
Mas vou pensar mais nisso. Obrigada pela partilha e pela reflexão que fazes e que me encantam ler.
um abraço apertado
su

Ana disse...

As tuas palavras despertam sp muita atençao da minha parte. Cresco com elas e já tenho aprendido muito!

Um obgd bem grand do fundo do coração!

Caramela disse...

Que bom ler-te amigo... tenho mesmo saudades dos nossos fins de tarde no colégio...
Um abraco

António Valério,sj disse...

Olá e obrigado pelos comentários, saudades! =)

Su, é muito importante aquilo que reflectes. Também acho que ós limites numa relação nascem do facto de serem mundos diferentes. E tenho visto nas minhas relações de amizade que a máxima uniao se dá na máxima diferença. Porque o outro é como é e eu sou como sou é que podemos falar de amizade, algo construido a dois. Há sempre um equlibrio entre processos de individuação e processos de auto-projecção, os dois existem inevitavelmente. Mas é a liberdade que faz amar, e o amor que faz ser livre, obriga a mudar e a respeitar, a propor e a obedecer. É toda uma vida nova que surge numa relação profunda e isso é mesmo bonito de poder agradecer, contemplar e sobretudo viver. Beijinho grande

Rosa disse...

É assim mesmo António
"O dar-se sem limites tem que ter a cor da confiança...
Ao ler o texto fui mentalmente imaginando uma orquestra onde todos instrumentos, mesmo que afinados, tenham que desempenhar a sua parte não se devendo omitir nem serem tão
exuberantes que dominem os restantes "outros" naipes.
Cada um "trabalha" a sua parte, mas todos têm em vista a perfeição final, para que a obra resulte como o "Criador" idealizou.

António, tenha um bom Domingo.
Abraços

 

Cidade Eterna © 2010

Blogger Templates by Splashy Templates