31 outubro 2008

Optimismo

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Acreditar no bem que somos capazes. Uma visão cristã da pessoa humana terá de ser optimista. Sem querer ser com isso ingénua. De facto, na nossa vida pessoal, sentimos a força das nossas fragilidades, a ponto de bloquearem os nossos processos de crescimento.

Ser optimista, sem ser ingénuo, não é fazer de conta que não há partes de nós que pouco têm a ver connosco, são coisas de fora que nos marcam e nos prendem. A nossa parte mais autêntica é aquela que nos pertence desde o início, a que afirma ser cada respiração o mesmo sinal de amor e entrega. Porque é vida e somos vida, somos bem.

E em cada dia este optimismo radical faz-nos sorrir com os nossos gestos concretos de actuação da nossa Bondade. E acontece muitas vezes. Se estivermos radicados nisto, a consequência é uma paz e alegria profundas, confiança total em nós, e não vamos sendo arrastados pelo que não nos pertence, ou porque temos pressa, ou errada fantasia, ou simplesmente medo de amar como deveria ser.

30 outubro 2008

Agradecer

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Quando estamos tão fechados em nós mesmos e em preocupações daquilo que se tem de fazer, perdemos horizonte e nem temos a capacidade de estar abertos a surpresas. Como se os nossos dias ficassem limitados a nível das expectativas, uma espécie de pessimismo que nos faz acreditar que será mais um dia igual a outros tantos, sem aquele brilho que distingue os bons momentos, igual a dar gargalhadas, sem ter muito com que pensar.

E em dias cinzentos aparecem as surpresas de luz que lhes dão mais cor do que esperava. Sobretudo em coisas pequenas. Quando estou debruçado pela janela à espera de ver passar alguém conhecido ou que aconteça algo diferente e, ao mesmo tempo, alguém deixa na caixa de correio uma carta com fotografias de uma viagem distante.

Por vezes é cómodo estar em dias de chuva sentado em casa a curtir monotonias. Mas é inevitável que a luz do sol atravesse nuvens apáticas e encha de cores novas a sala de estar, tornando-a mais quente. E por isso agradeço o que tem acontecido nestes dias, importâncias gigantes em gestos tão simples.

29 outubro 2008

Dar a vida

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Soube-se hoje a notícia do assassinato de dois jesuítas ainda jovens, em Moscovo. Não os conhecia, mas um deles estudou até há poucos anos aqui em Roma e vários daqui contactaram com ele. Por isso, não deixo de sentir a sua morte muito presente, para além do que significa saber que dois companheiros lá longe deram a sua vida deste modo.

E não deixo sobretudo de me questionar sobre a qualidade da minha vocação e da fragilidade da nossa vida. Como de um dia para outro, poderemos acabar a nossa vida aqui, por vezes de forma tão injusta e dolorosa. Estes acontecimentos deviam mexer connosco, como mexem, e fazer-nos perguntar até onde seria capaz de chegar no desafio de entregar a vida. E como a Vida plena merece ser vivida de forma total, comprometida nas pequenas decisões do dia-a-dia.

Não é muito sábio ir adiando com promessas tranquilizantes aquilo que é verdadeiramente essencial e que devemos ter constantemente no centro das nossas energias da alma e do corpo. Se dar a vida completamente como o Victor e o Otto deram é um extremo, ao menos a mesma intensidade de vida devia ser posta em cada um dos nossos gestos.

Peço as vossas orações por eles, pelas suas famílias, pelos nossos companheiros da Rússia e pela paz e fim da violência, para que Deus seja o sentido do que é aparentemente inexplicável.

28 outubro 2008

Construir-me

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Existe um desafio constante ao nosso desejo de ser melhores que constitui algo como um motor das nossas experiências e daquilo que escolhemos fazer em cada dia. Ser completo naquilo que escolhi para hoje. Não é uma tarefa fácil, já que cada dia conta com as suas surpresas e nem sempre estamos à altura dos nossos compromissos.

É preciso saber sonhar alto para termos passos determinados e que sabem onde querem ir. Mas esse sonho vai sendo alimentado em coisas muito concretas. Num dado momento do meu dia, perguntar-me, se o que estou para fazer, me realiza naquilo que me é dado viver nesse momento, como pessoa completa.

E a construção dos meus dias em escolhas acertadas vai fazendo de mim aquilo que quero ser, o que sonhei e o que Deus sonhou para mim. Construir-me como pessoa é ligar as energias de histórias e futuros de forma desprendida, saltando para um gesto infinito que tome conta de mim, aqui e agora.

27 outubro 2008

Emoções

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Ontem fui ver uma exposição muito interessante de um artista norte-americano, Bill Viola, que faz uma apresentação de uma série de vídeos com pessoas. A característica principal é a exploração detalhada das mudanças exteriores associadas aos sentimentos e às emoções. Por isso, o vídeo é feito a uma velocidade muito lenta, onde vamos observando rostos e expressões que mudam pouco a pouco, por vezes quase imperceptivelmente.

É como se fosse um deixar-se habituar a que alguém estranho a nós abra os olhos, a boca, as mãos e nos mostre a intensidade do que vive. É uma intimidade estranha, quase que não devia estar ali. E fui percebendo que o mundo das emoções é, de facto, plausível de ser estendido até à infinidade. Foi quase um contraste violento com a forma superficial com que lidamos tantas vezes com os nossos sentimentos e os sentimentos dos outros.

Seria preciso uma abertura ao ser humano, para descobrir que rasgar um sorriso ou soltar uma lágrima não são coisas que acontecem por acaso e só porque apetece. Têm uma história longa por trás. E isso merece respeito e admiração, a capacidade de se maravilhar.

25 outubro 2008

Por entre as cores

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O Outono é fascinante. É a despedida da energia do Verão, o calor forte passa a ser um quentinho agradável, o contraste de cores de ervas, árvores e frutos vai caindo lentamente em ouro e amarelo. É um tempo de início de morte, uma despedida... e por isso será tão bonito?

Os testamentos e últimas palavras são o desejo de presença através das coisas bonitas, que fiquem para sempre... A nossa vida é, no fundo, um desejo enorme de chegar ao fim e ter muito para contar, ou um álbum de fotografias cheias de paisagens incríveis. Quererá isso dizer que, no fundo, acreditamos que podemos conseguir, no fim de tudo, uma bondade fundamental e essencial da Vida?

Queremos o Bem, trabalhamos em Beleza, conseguimos o Gesto que seja mais autêntico nosso. Por entre penas e contrastes, é um desafio enorme acreditar nisto... muda muito na forma como damos qualidade ao que vivemos.

23 outubro 2008

Verniz

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De facto, é um lugar-comum da nossa comunicação responder brevemente à pergunta: Está tudo bem? com um simplificante: sim, estou bem. A grande maioria destas perguntas um bocado apressadas têm esta resposta. Muitas vezes o faço. E acontece que, raras vezes se ouve dizer: mais ou menos, ou nem por isso. Quebra-se o ritmo de repente e somos chamados a parar para saber como poder ajudar e o que se passa.

Talvez o dizer que está tudo bem é uma forma cómoda de não incomodar ninguém com os meus problemas, ou até pode ser uma forma de afirmar a verdade que gostaria de viver e que não vivo. Assumir estados mais tristes obriga a quebrar a velocidade do dia-a-dia, gasta-se energias e é mais prático ir adiando e não pensar muito nisso.

Mesmo que o afirmar que está tudo bem possa ser positivo, porque relativiza problemas com pouca importância, acredito que muitas vezes isto tem a ver com um desejo incontido de auto-suficiência, sobretudo se são questões que se preferia não ter de afrontar. Há uma certa humildade em reconhecer fragilidades. E coragem para pedir ajuda. De alguma forma, a nossa comunicação de estados de espírito devia ser mais transparente, sem uma máscara bonita de aparência, que só acaba por nos esconder de nós mesmos.

22 outubro 2008

Fascínio

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O nosso dia-a-dia é sempre uma espécie de pequena parábola da nossa vida. Cada dia aparece como um novo nascimento, caminhos conhecidos a percorrer, cheios de rotina e novidade. Com altos e baixos, momentos de realização surpreendente e consoladora e outros momentos de perda, cansaço, às vezes desilusão.

Não é fácil viver todos os dias entre coisas contrárias. Talvez seja este o grande mistério que vem associado ao facto de respirarmos, de nos movermos, de existirmos e de relacionar-nos. Há um desejo que tudo fosse cem por cento eficaz e conseguido. E como não acontece, o desejo traz consigo um peso de frustração. Porque o nosso mundo somos nós, aquilo que decidimos, aquilo que fazemos. O nosso mundo são os outros e as marcas que fazem na alma. Perfeição e fascínio, perda e desânimo.

A aceitação do nosso facto quotidiano vem vestida com a roupa que lhe quisermos vestir, ou a luz com que a podemos iluminar. Não quer dizer que a aceitação da vida seja relativa a momentos de bom ou mau humor ou à sorte ou azar do que acontece. Assim, viveríamos constantemente atirados para um ou outro lado, conforme o vento. As raízes são a nossa parte mais sábia... percebe-las, amá-las, cuidá-las e fazê-las crescer é a nossa missão mais autêntica.

20 outubro 2008

A tranquilidade

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A tranquilidade não é a ausência de problemas... de outro modo, estaríamos grande parte da vida sempre inquietos. A tranquilidade também não está associada à dimensão do problema, porque diante do mesmo obstáculo, alguns desesperam por verem uma montanha, outros vêem um pequeno muro. A tranquilidade também não está ligada a fases de altos ou baixos da existência ou do que acontece à nossa volta, seria mais ou menos o assumir que somos levados por uma espécie de destino que não nos perguntou antes se queríamos ou não que acontecesse determinada coisa.

A tranquilidade é uma consequência. É o que vem a seguir a um passo começado e decidido. O que mais nos pode tirar a paz é o facto de olharmos mil vezes a toda a velocidade à nossa volta, para ver se apanhamos o mundo todo... quando afinal, já fomos levados neste vento de pressas e desassossego. É saber voar sem saber para onde ir, mas saber que se voa porque se quer.

Aí, não há número, nem dimensão, nem acasos de problemas. É a Vida que temos entre mãos e escolhemos amar como ela acontece, porque se decidiu assim.

18 outubro 2008

O que há para receber?

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Estou a ler as obras completas de Teresa de Ávila... não sei como me poderia exprimir, é uma sensação quase esmagadora de ler algo escrito por alguém de uma potência extraordinária. Não me lembro de ter lido algo assim... enfim, mexe comigo, definitivamente....

Falando da perfeição do amor... o bem que fazemos a quem amamos, de quem somos amigos. Em muitas amizades há tanto de dar como de receber. Outras é mais dar que receber. Talvez na maioria das minhas amizades há mais receber que dar? Onde está o centro do meu amor?

Amar perfeitamente é amar num amor maior, é criar e fazer o bem através de depositar totalmente os seus efeitos no próprio movimento da Gratuidade. Que a recompensa última é o que Deus faz através de mim e da minha amizade. Pensando mais a sério, não há nada mais simples que o Amor. Tal como ele é. Mas como diz Teresa: este amor muito poucos o têm... e se o tiveres, agradece, é um dom enorme.

16 outubro 2008

Na amizade

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O que pode definir a amizade? Aquilo que vejo na minha história são acasos e surpresas, nascem sintonias, que não aparecem à força. É-se amigo porque sim, às vezes de pessoas com mais defeitos do que qualidades. Talvez porque se vê mais facilmente o outro lado do defeito. Porque se gosta de alguém, há compaixão.

Já seria outra coisa falar de verdade. O outro lado dos defeitos de alguém é uma promessa e um acreditar na bondade já vista e conhecida. Implica dizer o que custa dizer normalmente. Seria outra coisa falar de verdade, mas assim não há amizade.

E já seria outra coisa falar de liberdade. Somos responsáveis para sempre por aquilo que cativámos, diz Saint'Exupery. Se cativei, fui cativado, estou ligado para sempre com um compromisso. Mas este compromisso tem a mesma cor da liberdade, que consola e magoa com a mesma força. Quando não são essenciais presenças constantes.... aquilo que se diz que o tempo e a distância não apaga... A única coisa que no fundo, apaga a amizade é o não cuidar dela. E isso vai muito além das pequenas intenções, são espaços próprios da alma, aquela flor para aquela parte do jardim.

15 outubro 2008

Observação

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Olhar o mundo à nossa volta terá de ser uma tarefa apaixonante. Quem não mete as mãos totalmente na matéria de que são feitos os nossos dias, acaba por estar distante, ou sentado numa cadeira acima do universo, cheio de ideias boas, mas sem raízes onde possam crescer. Talvez seja esse o grande problema de um idealismo às vezes arrogante e pouco misericordioso.

Começa por haver uma verdade pessoal que se reconhece feita das mesmas contradições. Só compreende quem é compreendido, só perdoa quem é perdoado. E amar as minhas contradições é um passo para as iluminar desde dentro e ser capaz de colocar os meus passos num rumo certo.

Quem sou eu para julgar? Já que nunca me senti julgado, ganhei um coração capaz de acariciar fragilidades e torná-las verdadeiras fontes de força. Por isso, amo o mundo à minha volta, sem querer ser ingénuo... mas a última coisa que gostaria de ter era estar decepcionado com ele.

14 outubro 2008

Novidade

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Há já algum tempo que queria mudar o aspecto do Blog. Como ainda não tenho muito que fazer, fui gastando tempo em fazer experiências... Fica sempre estranho, esta página acaba por ser uma parte importante do meu dia e do que passo aqui de dentro para lá dentro. Como se algo de mim mudasse de roupa. Enfim, uma novidade tem sempre um sabor a qualquer coisa luminosa, certas esperanças que puxam por nós.

Além do novo aspecto - espero que gostem :) - Incluí mais alguns blogs que tenho visto e ainda não tinha tido oportunidade de pôr e que tive sintonia com o que li: o de um companheiro de comunidade catalão punt cardinal, o confessionário dum padre, pegadas da vida e pequenos acasos.

E hoje fico por aqui... já foram algumas horas bem passadas =)

13 outubro 2008

Divisões interiores

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Por diversas circunstâncias, tenho andado à volta da questão sobre o querer fazer o bem e o conseguir fazê-lo. E, por caso, tenho até tido várias conversas sobre isso. Há uma frase de S. Paulo que sempre foi misteriosa para mim: "Não faço o bem que quero e faço o mal que não quero".

Chega a ser exasperante esta situação, de não conseguir ser simples no amor. Porque fazer o bem é tão óbvio, há uma espécie de mapa interior em cada um de nós que sabe perfeitamente para onde podemos andar nos gestos concretos de cada dia para poder alcançar as nossas metas de bem. E perdemos tempo, gastamos energias, perdemo-nos a nós mesmos em tantas coisas menos importantes e que acabam por nos fechar em ciclos pouco virtuosos.

Não somos máquinas, super-homens, totalmente perfeitos. Há que aceitar sem desanimar, mas esta situação às vezes é mesmo difícil de levar com serenidade. Por outro lado, o desejo do Bem é um dom enorme. Há muitas pessoas que nunca põem esta questão... Teria de caminhar na confiança, e dar-me conta de que são mesmo poucas as coisas que dependem exclusivamente de mim.

11 outubro 2008

A Vontade

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Qualquer esforço de organização, quer do tempo, quer dos nossos assuntos interiores têm por base a força da nossa vontade. A vontade está ligada a decisões e consequências. Uma decisão vem sempre num bom momento, é um caminho começado, novos horizontes, uma esperança capaz. O dia-a-dia faz o teste à nossa constância.

Uma vontade forte tem de nascer de um fascínio por qualquer coisa de absoluto. Se não for assim, vamos ficando enrolados no que vai acontecendo e na urgência dos nossos compromissos e acabamos por chegar àquela desconfortável situação de que ainda não foi desta, mas amanhã será melhor.

Um bom caminho para evitar estas pseudo-promessas de uma pequena boa intenção é um contacto contínuo com aquilo que nos enche a alma, um amor enorme por uma qualidade de vida acima do previsto... algo parecido com o que se poderia chamar santidade.

10 outubro 2008

Porquê ficar fora?

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Far far, there's this little girl
she was praying for something to happen to her
everyday she writes words and more words
just to spit out the thoughts that keep floating inside
and she's strong when the dreams come cos' they
take her, cover her, they are all over
the reality looks far now, but don't go

How can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
how can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
oh oh oh oh

Far far, there's this little girl
she was praying for something good to happen to her
from time to time there are colors and shapes
dazzling her eyes, tickling her hands
they invent her a new world with
oil skies and aquarel rivers
but don't you run away already
please don't go oh oh

How can you stay outside?
there's a beautiful mess inside
how an you stay outside?
there's a beautiful mess inside

Take a deep breath and dive
there's a beautiful mess inside
how can you stay outside?
There's a beautiful mess
beautiful mess inside

Oh beautiful, beautiful

Far far there's this little girl
she was praying for something big to happen to her
every night she hears beautiful strange music
it's everywhere there's nowhere to hide
but if it fades she begs
"oh lord don't take it from me, don't take it"

She says, "I guess i'll have to give it birth
to give it birth
i guess, i guess, i guess i have to give it birth
i guess i have to, have to give it birth
there's a beautiful mess inside and it's everywhere

Just look at yourself now
deep inside
deeper than you ever dared
there's a beautiful mess inside
beautiful mess inside





Porque há beleza que existe dentro de cada um de nós.
E é tão bom fazê-la nascer e crescer!


PS: Música de Yael Naim, far far. Para tantas pessoas bonitas que querem fazer voar a sua própria beleza.



09 outubro 2008

Amanhã

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Amanhã deixarei de me queixar ou, pelo menos, fazer o esforço de pensar se antes fui agradecido. Amanhã serei capaz de cumprir um calendário com todas as coisas essenciais, excepto as que não têm lugar para aquilo que o dia me pede. Amanhã sairei de casa com uma paleta com todas as cores para pintar um mundo à minha maneira, mas com a certeza que farei um risco azul no chão, para que alguém o possa seguir e encontrar-se num momento de verdade.

Amanhã seria o dia perfeito se soubesse o que ia ser e acontecer. Seria menos perfeito por ter surpresas? Ou menos perfeito por ter só certezas? O que custa na arte é não saber o que a fantasia esconde. O não saber é nada mais do que a certeza de que a surpresa acontece.

Amanhã terei mais certezas assim...

08 outubro 2008

Entregar-se

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A entrega é já uma palavra habitual... como tantos desafios fundamentais da alma, custa ouvir chamar entrega - e por vezes sou o primeiro a dizê-la - a muitas experiências que têm a pretensão de significar isso, mas que não passam de emoção à flor da pele ou simplesmente o encontrar uma palavra profunda que dê um toque especial à ocasião.

A entrega é algo sério... e como todas as coisas sérias, é simples e é profundamente alegre. A entrega é uma espécie de compromisso para toda a vida. Significa que à minha frente tenho uma pessoa ou uma situação que merece o meu respeito. E mais que isso, que merece que se dê a vida por isso.

Quando alguém descobre um motivo para derramar o sangue e a alma, com todas as consequências, é uma pessoa profundamente feliz. Aí sim, poderei dizer o que é entrega, quando é uma felicidade entre Eu e Tu, duas mãos que se dão para não se largar mais, dois passos que começam a andar sem olhar para trás.


07 outubro 2008

É estranho

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É estranho que nos movamos simplesmente ao som de uma música que acontece sem esperar. A grande riqueza do quotidiano é a capacidade que tem de esconder mundos que irrompem inesperadamente e nos trazem cores e sons de surpresas.

Uma mudança de luz durante o dia, enquanto se caminha distraído, traz de repente com o vento um som vindo do fundo e de dentro que afirma sem espaço para dúvidas a certeza de sermos amados.

Não há nada que nos possa construir mais do que a indescritível experiência de alguém acreditar em nós acima de toda a razoabilidade. E isso porque há no fundo de nós algo que merece ser amado por aquilo que é, só porque grita, respira, ri, erra, existe.

05 outubro 2008

Sonhos e incertezas

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Um novo ano de estudos e actividades é uma folha em branco ansiosa por ser escrita. Qual será o resultado de meses de projectos, coisas conseguidas, medos e frustrações? Às vezes parece que um início é quase uma rotina, estamos a começar do zero, porque nem tudo correu da forma como teríamos gostado e agora aparece aquela ingénua sensação de que este ano é que vai ser.

Talvez porque temos a tendência por partir de um lado pessimista da experiência que é o aquém das nossas metas. Contudo, poucas vezes, na realidade,somos capazes de nos superar e surpreender. Mas acho que é o facto de que isso aconteça, por poucas vezes que seja, que nos faz acreditar na possibilidade de recomeçar de forma melhor.

A história de cada um de nós é uma obra de arte escrita com traços bem definidos e muitos borrões pelo meio. Mas não deixa de ser bonita. No fim de contas, ajuda a sorrir. É preciso descomplicar, para ser mais claro no movimento de conseguir ser o que verdadeiramente se é e se sonha ser, a cada momento.

04 outubro 2008

Contemplação

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Um olhar contemplativo vê a realidade para além do sensível. Descobre um elemento de eternidade que liga o Homem à Natureza e o faz perceber-se como parte de um universo levado pelo Amor até à incompreensão. De facto, o grande desafio de um contemplativo é encontrar o dedo de Deus em realidades que não o mostram claramente. Talvez até o escondam.

Sobretudo em realidades de escuridão pessoal, verdades que teimam em não ser postas à luz do dia, porque deformam imagens de perfeição que nada têm a ver, no fundo, com as mãos que as podem modelar.

Um contemplativo não foge do que é, e sonha com o facto de acreditar que tudo tem um rumo que arrasta para coisas bonitas, grandes e cheias de cor e bondade. Por isso, o contemplativo é corajoso, é humilde, é extraordinariamente simples, porque não é ingénuo. Sabe de que matéria é feito.

02 outubro 2008

Ao início

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Um tempo de recomeçar actividades é um exercício de confirmação e originalidade. É sempre uma altura de querer fazer coisas que ficaram por fazer, e ganhar espaço por dentro para começar outras. Joga-se muito do nosso futuro recente na capacidade que temos de agarrar a vida com as mãos e pode-la moldar de forma bonita.

Sinto um chamamento grande à Beleza e ao compromisso. Mais do que noutras alturas. Como se o coração estivesse cansado de fazer as coisas porque sim e resolvesse puxar por ele mesmo para ser concreto nos sonhos.

As mãos são um dom enorme. Transformam a matéria em símbolos espirituais, que trazem eternidade ao corpo e palavras benditas aos gestos. Se fosse esta sempre a atitude deste ano, as coisas complexas ficam marcadas por uma simplicidade muito linear: apenas ser e fazer por ser mais.

01 outubro 2008

Ver

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Uma das coisas que por vezes mais nos consome é que raramente temos certezas absolutas. Ainda hoje falava sobre isso com um companheiro e de como é importante ter aqueles momentos de salto confiado em que sabemos que não há outro remédio senão continuar um caminho ou recomeçar propósitos felizes.

O ver sem certezas também é bonito. Por ser o nosso modo de ver habitual, é também aquele a que devemos dar mais valor. Desafia a nossa coerência, aquilo que pomos nos pequenos gestos e nas decisões fáceis e difíceis de cada dia. E porque vivo assim, confio em mim e no meu poder de fazer as coisas bem... sou orientado para coisas grandes, e isso marca um modo de vida.

Talvez um dia possa ter tudo claro. Talvez um dia olhe para trás e tudo faça sentido. Mas viver sem talvez e escolher viver a partir de motivações fortes é algo mesmo importante. Faz brilhar outro sol em dias de chuva cansativa e monótona.

 

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