(sugestão da Leonor)
O tema do auto-conhecimento é muito vasto, e admito que também é um dos meus preferidos. Tenho pensado e rezado muito sobre o conhecer-me a mim mesmo e como isso tem sido fonte de compreensão, perdão, desejo de me aventurar e de ser melhor. Conhecer-se a si mesmo não é apenas uma questão de fazer uma lista de qualidades e defeitos, ou fazer algum teste de personalidade. Estas coisas ajudam, mas correm o risco de permanecer à superfície e não nos faz cair na conta daquilo que verdadeiramente somos. Cada pessoa é um mundo diferente e estaria a perder-me se quisesse falar de tudo, pelo que resolvi apontar algumas coisas que fui lendo e pensando, e acho que se podem aplicar a cada pessoa, ao menos como início de um caminho para se conhecer melhor.
A própria expressão "conhecer-se a si mesmo" indica que existe uma distância entre o eu que conhece e o eu que é conhecido. Vamos conhecendo partes de nós, sem nunca conseguir conhecer-nos completamente. Acredito que sou um mistério para mim mesmo, e este é inesgotável, perigoso, fascinante, digno de todo o amor. Este mistério encontra-se dentro de nós, o espaço meu onde realmente sou aquilo que sou. E como posso chegar lá?
Uma descrição do homem interior que sempre me interpelou é a seguinte: eu sou homem psiquico, homem racional e homem espiritual. Ou, em termos mais complicados, e mais personalizados, mas que explicam a mesma coisa: animus, anima e spiritus. Estas três coisas não são três partes diferentes, como se me pudesse dividir em estratos, mas são modos de funcionamento daquilo que sou, a minha origem e para onde quero caminhar.
Animus é a parte que conheço de mim todos os dias, como vejo que me comporto, como leio a minha história, os meus defeitos e qualidades óbvias. É o que, de algum modo, me faz agir, a minha parte mais consciente, a que estámais imediatamente em contacto com o mundo à minha volta.
Anima é a parte de mim que responde ao bem, que me move para as coisas bonitas, que me faz sair de mim. Entre animus e anima, existe muitas vezes conflito. Sei o que é bem, e não o faço, sei que estou a fazer mal e não deixo de o fazer. Li num texto que a anima é como a dona de casa que procura cuidar e arrumar as coisas. Animus entra em casa e toma posse dela, é muitas vezes egoísta, e vence anima com palavras bonitas e boas justificações. Temos sempre justificações para fazermos o que queremos, mesmo que saibamos que não é bom.
Spiritus é a parte mais interior de mim, aquela que anima contempla e onde arranja forças para suportar, acolher, cuidar e transformar animus. Spiritus é tudo o que nos arrasta para o amor, que nos faz livres, não esperar recompensa, de nos dar sem medida e encontrar nisso a maior alegria. E é no spiritus que encontramos a parte mais débil e, ao mesmo tempo, mais poderosa de nós. É débil porque o amor não existe sozinho, e quando a anima é incapaz de encontrar spiritus e de o amar e ser amada por ele, perde força para ajudar animus a abrir-se também ele ao amor. E é a parte mais poderosa, quando eu percebo que o amor que tenho é mim é um dom, dado em medida inesgotável. Amo porque sou amado e tenho consciência que nunca poderei dar tanto amor como aquele que recebo. Mas procuro corresponder com todas as minhas forças, no fundo amar é o que há de mais natural em mim. E é neste movimento e neste lugar onde Deus está.
Procurando simplificar: O auto-conhecimento, ao menos como eu o percebo, está em olhar estas três dimensões e ver aquelas que têm mais força. Sabendo que a minha autenticidade está no amor, que passa pelo querer fazer o bem, e fazê-lo de facto. Quando spiritus, anima e animus trabalham no mesmo movimento, sou aquele que sou. Se a determinado ponto se quebra esta corrente, posso perguntar-me onde está a raiz disso. Encontrá-la, percebe-la, ama-la e recomeçar...
PS: Que engraçado ter encontrado esta foto,de Marta Ferreira. Animus e anima de mãos dadas, os corpos a fazer um coração e a olhar o mundo através de janelas imensas.
3 comentários:
Um grande tema e em escrito. Difícil é, de facto, falar do conhecimento e, de nós próprios... complexas janelas que se espelham, mas o maior reflexo no e do "Outro" é a sua singularidade e autenticidade, de serenos gestos movidos à luz do amor.
Bjxxxinhs;)Bom fim de semana**
Eu quis dizer Bem escrito... é, talvez, a dislexia, a falta de descanso. Por isso, tu, eu e nós precisamos de uma "Super Bock" fresquinha, sem álcool, claro!!Para descontrair:) Mas melhor, mesmo mesmo,neste frio, era chocolate quente de Roma... muito fixe!jnhos com saudades=)
Que Belo Tó!!!
Ias gostar do por-do-sol alentejano d´hoje...
Beijitos,
Sandra Raimundo
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