01 março 2009

Amor próprio vs Egoísmo


(sugestão de Tiago)

É um tema muito sugestivo. Normalmente, penso que o amor-próprio é uma versão do egoísmo, relacionado com o orgulho. Quando nas nossas relações algo nos fere, é o nosso amor-próprio que se revolta com a injustiça ou a falta de respeito. Atacaram a nossa dignidade, fizeram-nos sentir menores. E isso é desconfortável e faz-nos reagir. Tenho sempre a impressão que as motivações que nascem de sensações desagradáveis não são boas, e as acções que pomos em movimento através delas acabam por magoar e romper qualquer coisa.

Pode-se também pensar em amor-próprio como uma versão da auto-estima (um amigo meu disse-me um dia que esta palavra lhe causa arrepios e eu, pensando melhor sobre isso, também concordo com ele). Este amor-próprio nasce do desejo de nos afirmarmos naquilo que somos, de termos uma palavra a dizer, de nos sentirmos úteis. E quando isto não acontece, quando não somos reconhecidos, surgem de novo feridas e reacções desagradáveis.

Creio que pode haver um ponto de equilíbrio entre todas estas sensações. O amor-próprio está ligado a algo natural em nós, uma espécie de instinto de sobrevivência, para não desaparecer no mundo das relações. O grande segredo está no modo em como usamos esta nossa energia, em que somos felizes com aquilo que somos, temos e fazemos. No fundo como gostamos de nós e nos mostramos aos outros, como nos fazemos reconhecer e amar.

O egoísmo não é bom, o centro do mundo sou eu, e isso é uma fonte de tensão e desolação, porque simplemente a Vida e as suas circunstâncias, as minhas relações, não funcionam com interesses de ilhas isoladas, de querer controlar tudo e todos, mas segundo modos de comunicação e partilha, de ganhar e perder. Fico doente, os outros não fazem o que quero, o patrão não reconhece o meu valor, não tenho tempo para o que quero... e tudo isto estraga o meu mundo imaginário. Terei de viver o que sou de outra maneira.

A energia do amor-próprio deveria ser usada num dinamismo de humildade e simplicidade. Ser humilde não é apagar-se, mas é reconhecer a própria bondade e beleza, que é algo fundamental em cada um de nós e que nunca desaparece. E comunicar o que sou com simplicidade, com vontade de ser melhor e estar disponível. Um professor meu usa muitas vezes uma frase de Shakespeare que gosto muito: "Readiness is all". Estar pronto para tudo, para o que acontecer, sabendo que a minha capacidade de fazer o bem em todas as circunstâncias não desaparece.

Isto implica uma coragem gigantesca, que vive em perfeita harmonia com a humildade de saber que não posso dominar tudo, e a simplicidade de aceitar a Vida como oportunidade de me questionar e ver que coisas estou pronto para fazer. Este amor-próprio é extremamente criativo e corajoso, forte, e pode trazer muitos frutos àquilo que vivo com os outros.

4 comentários:

Carl@ Mesquita disse...

Imagens!!histórias, gestos, palavras... há permanentes coincidências inesperadas. Mesmo em distâncias há encontros e pensamentos. Achei giro:)encontrar-te desta forma=)

Carl@ Mesquita disse...

Quando falamos em Relações HUMANAS entra-se num jogo de coragem e de forças, que nos afastam ou aproximam com o complexo de cada um de nós.

O egoismo 'desloca casas sem abrigo de valor'.

(Re)conhecendo a energia de gestos humildes e simples, na vivência de valores essenciais,... assumindo a diversidade como factor de enriquecimento mútuo. O amor-póprio completa-se no amor-comunitário.
Boa semana pa ti tb. Xi-abraço;)

susana disse...

as relações, o amor-próprio, o egoísmo e a auto-estima... muito boa reflexão mesmo. Eu concordo contigo: o amor-próprio é isso de sabermos que a capacidade de sermos bons, de realizarmos o bem não desaparece em nenhum momento, é algo que nos é inerente. Penso que muitos são os que disso se esquecem e acabam por se perderem no caminho, porque se perdem de si mesmos. Nós seres humanos somos seres naturalmente criadores. Potencialmente criadores de coisas positivas, quando não o somos... é porque desistimos de nós, desconfiamos de nós, desamamo-nos porque deixamos de acreditar que somos capazes de criar bem, seja em nós, seja nos outros. Gostei bastante desta reflexão. Queria dizer-te que o teu ultimo comentario fez-me muito sentido porque talvez seja o meu dom esse de olhar para as coisas em profundidade. O teu talvez seja o plantares nos outros a capacidade de cogitarem sobre si mesmas. De reflectirem sobre si mesmas.É isso que potencias em mim de cada vez que aqui venho. E acabo por te deixar estes testamentos...perdoa-me. Partilhas-me comigo essa responsabilidade ( viste como não falei de culpa?), pois entusiasmas-me para tal, incitas-me a escrever mais e mais. Obrigada por existires. Aqui e algures pelo mundo fora.
Um abraço forte.
Su

António Valério,sj disse...

Olá Susana! Obrigado pelo que dizes... de facto, admiro-te muito. Olhar para nós em profundidade é o único meio de descobrirmos o nosso poder. E a escrita tem o dom de o revelar. Obrigado por existires também! è bom conhecer-te ;)

 

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