30 março 2009

Ideias

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Usamos a palavra ideia para tantas coisas: ter uma boa ideia, ter uma ideia de alguém, ter ideia de alguma realidade. Contudo, este conceito de ideia vem muitas vezes aplicado ao nosso pensar. Um idealista é aquele que não vive neste mundo. As ideias são coisas abstractas. Acho curioso que quando falamos de ideias pensamos em algo que não existe, mas, pelo contrário, ter uma ideia é algo muito real.


As ideias são projecções do nosso futuro e sentimentos em relação a coisas e pessoas. São sobretudo imagens às quais estamos afectivamente ligados. Por isso, cada vez estou mais convencido que não pensamos só com a nossa cabeça, mas são as nossas imagens que nos fazem pensar. Não é possível viver só com a matemática ou deduções muito certas. A Vida mostra-nos exactamente o contrário.


Creio que ter consciência disto ajuda a perceber o quanto somos movidos pelos nossos afectos e desejos. É impossível falar de amor sem ter a referência de um abraço, um sorriso ou um beijo. Ou falar de dor e sofrimento sem antes a ter sentido na pele. Os discursos que contam são aqueles que se fizeram vida, senão estamos a ser idealistas no mau sentido na palavra, falamos bem daquilo que não somos. Mas não transformamos ninguém. Porque não nos deixámos transformar. E esta transformação nasce da imagem que nós temos de nós e do mundo. A partir daqui nos podemos mover criativamente.

29 março 2009

"Carpe diem"

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Qual será o motivo para termos dificuldade em assumir a felicidade presente? Já nos habituámos a dizer e ouvir tantas vezes: "vive hoje como se fosse o último dia". Ou a expressão "carpe diem" que acaba por não significar nada de profundo, a não ser permitir-me fazer tudo o que me apetece. Impressiona-me que se possam usar frases que em si até apelam a um nível de exigência na nossa profundidade e acabar por usá-las para coisas tão superficiais.


Viver o momento presente é difícil. Até porque não há nada tão passageiro como o tempo que estamos a passar, em que um pensamento sucede a outro, ou uma acção segue a outra. Onde poderei encontrar o espaço onde possa dizer que hoje sou este aqui, com todas as minhas memórias e todos os meus desejos? O sofrimento presente faz parte desta tensão de recordar o que foi bom e preparar o que virá a ser melhor. Por isso, somos constantemente empurrados para as duas direcções, e estamos perante imagens pasadas e futuras, mas sem podermos tocar nenhuma carne concreta.


Se o "carpe diem" faz algum sentido, terá de ser feito na verdade concreta do que hoje me acontece e não no fugir à procura de sensações que não têm nada a ver com a minha realidade. E hoje sou história perdoada e agradecida, hoje sou promessa e opção. Hoje choro e rio, desisto e sonho, perco e ganho. Se estiver à espera de vir a ser feliz um dia, é porque não esisto para mim mesmo. Talvez o grande problema seja não acreditar que hoje sou uma paisagem imensa, real e de uma beleza indescritível. Falta-me contemplação.

26 março 2009

Promessas

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Até que ponto construímos o nosso futuro a partir de promessas? Tenho a impressão que há muito poucas coisas na nossa Vida às quais lhes tenhamos dado esta importância. Um contrato de trabalho ou um teste exigem de nós um compromisso e uma série de deveres. Mas nunca nos passaria pela cabeça prometer ao patrão fazer tudo o que ele nos quiser mandar. Quando prometemos, estamos afectivamante envolvidos, voltar atrás seria falhar algo sério com alguém, ou com nós mesmos.


Uma promessa é um risco. E pergunto-me o que estará no fundo de nós que nos torne possível garantir um espaço do nosso futuro a favor de alguém ou de alguma coisa. De certa maneira, alguém toma conta de mim, não pertenço só aos meu desejos, mas faço parte do sonho de alguém, que sem mim não o poderá realizar.


E se tenho tantas dificuldades em, por vezes, prometer a mim mesmo vir a ser melhor, não desisto de arriscar coisas boas minhas. Com todas as consequências, nem que seja para toda a Vida. Isto supera-nos completamente. Prometer é desenhar na areia uma palavra que quer ser definitiva. Que a primeira maré apagará. Mas permanece o movimento da alma que me permitiu um dia ser gigante. E isto é exigente, mas é darmos todo o espaço à eternidade de que somos feitos.

25 março 2009

Faço anos!

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Hoje faço um ano da minha ordenação diaconal aqui em Roma. Parece que foi o mês passado. As memórias ainda estão tão vivas, o dia de hoje está praticamente igual, dia de muito sol com algum frio, de uma primavera que está a chegar pouco a pouco. =)

É um mistério poder explicar o que significa isto na minha Vida. Certeza de caminho feito e consciência de tanto que poderia ter feito e não fiz. Santidade conseguida e fragilidades desconcertantes. Contudo, um Deus que continua a acreditar em mim. É impressionante como os nossos gestos de boa vontade se transformam em atitudes gigantescas. Faz-me cair na conta do pouco que dependemos dos nossos desejos e promessas, se estes não vão acompanhados pela confiança e pela certeza de que temos tesouros entre mãos e no coração que nos impedem de ficar fechados no passado.

O dom maior de Deus é a sua Vida. Entregá-la a Ele não é simplesmente um dar de volta. É assumir o que se é, ser levado em braços pela felicidade de ser pequeno e grande ao mesmo tempo. Ter tudo presente nas minha decisões e ao mesmo tempo não ter nada para dar de meu, a não ser eu próprio. Quando Deus nos toca, não ficamos indiferentes... acontece aquilo que sempre desejámos: ter diante de nós os caminhos mais eternos e divinos da Vida, profundos e superficiais, mas que são os nossos, feitos na nossa verdade.


23 março 2009

Na corda bamba

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Estes dias tenho andado a pensar numa coisa, sem ter chegado a nenhuma conclusão. Estamos constantemente è procura de pontos de equilíbrio, entre trabalho e descanso, acção e contemplação, ócio e criatividade. Ou em gerir relações complicadas, procurando não explodir, ou deixar passar o tempo sobre as coisas, afastando-nos delas.


Buscar este ponto de equilíbrio é muito importante, e acho que estaremos toda a vida à procura dele, porque cada tempo tem as suas tensões e decisões. Quer isto dizer que a nossa condição é estar na corda bamba, a procurar alguma corda que caia do céu e nos segure quando tudo está mal? Assim não teríamos descanso, e a Vida não nos daria a alegria que habitualmente nos dá.


O equilíbrio também não é buscar soluções de compromisso, ou politicamente correctas. Poderá ser útil para ganhar algum tempo, mas não resolve as questões de fundo. Sem uma boa conversa, com verdade e desejo de bem, os silêncios comprometidos entre dois amigos magoados não ajudam muito. Entre amigos, entre colegas, com nós próprios, etc, etc.


Daí que estar equilibrado não é fugir, nem agarrar a milagres feitos de propósito para a ocasião. É por os pés no chão. Que maior equilíbrio há do que estar em terra firme? E vou percebendo como é preciso coragem para estar no sítio certo e da maneira certa. Só assim conheço o meu mundo, porque não estou preocupado em agarrar o que aparece, mas tenho um olhar tranquilo para ver tudo o que está a acontecer.


20 março 2009

Contemplação na vida de hoje

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(sugestão de Bento Oliveira)

O nosso dia-a-dia é demasiado cheio e o tempo não chega para aquilo que queremos. Estamos sempre a queixar-nos disso, porque é que o dia não tem mais horas. O grande problema da contemplação está na consideração de uma série de pressupostos que é essencial termos em conta. Há muitos conselhos práticos sobre modos de fazer oração, escrevem-se todos os anos imensos livros sobre isso. Mas há aspectos que devemos ter presentes antes de colocar essa questão, e aos quais me vou referir:



- Temos uma concepção utilitarista do tempo. O tempo serve para fazer qualquer coisa, obter um resultado. A velocidade das nossas acções e das nossas expectativas exigem uma resposta rápida e imediata. Mas o tempo de Deus é diferente. Ele é infinitamente mais paciente que nós, e nós não somos pacientes. Uma imagem do tempo de Deus vem expressa, como há tempos ouvi um professor dizer - que me abriu imensos horizontes - numa expressão de S. Paulo. Ele escreve assim: "Digo-vos,porém, irmãos, que o tempo é breve" (1Cor 7,29). A expressão "é breve" no original grego, não quer dizer que demore pouco tempo, ou faltem algumas horas ou dias para algum acontecimento. S. Paulo usa um verbo utilizado na navegação, que significa amainar ou recolher as velas de um barco. Quer dizer que o tempo se recolhe, se dobra sobre si mesmo, e a eternidade de Deus, como uma vela infinita, condensa-se no momento presente. O tempo de Deus no nosso tempo é esta eternidade oferecida à nossa contemplação. Este é o tempo da oração, segundo o tempo de Deus.


- Por isso, a oração não é um tempo contado, tirado a ferros à nossa disponibilidade, mas é o tempo entregue. É estarmos presentes em profundidade, indo além de nós próprios. Não é regatear minutos e esperar paz de espírito ou comunhão com o mundo e os outros. É um momento de verdade, em que a eternidade está presente com uma força ao mesmo tempo doce e devastadora. Não se encara este tempo com um relógio a servir de escudo, mas de peito aberto a todos os ventos que surgirem. Deus joga-se todo em cada momento do nosso dia, mas na contemplação é quando estamos totalmente disponíveis a perceber isso.


- A contemplação não é uma coisa exclusiva de padres e freiras. Aliás, todas as religiões, e o cristianismo não foge à regra, privilegiam o tempo de contacto com a divindade. Em orações e momentos do dia mais ou menos estruturados, mas que é uma espécie de respiração vital da própria religião. Não existe um cristão no sentido mais forte da palavra, se não tem este contacto único e pessoal com Deus. Rezar a partir da Bíblia, ou ir à Missa, são partes essenciais da fé, mas estou a falar do nível mais profundo, a minha Vida diante da Vida de Deus.


- Por isso, querer contemplar, em qualquer estado de vida, solteiro, casado, ou religioso, é uma opção de fundo. Acredito que é a opção mais autêntica e que expressa mais a nossa força de vontade e o querer alargar os nossos horizontes além do impossível. A base da contemplação é a convicção que Deus está e trabalha em nós, independentemente se rezamos meia-hora ou cinco horas. O tempo de Deus, como disse, é muito diferente do nosso. A Deus basta tocar, na sua eternidade, um minuto do nosso tempo para mudar toda a nossa Vida. Não sei até que ponto acreditamos nisto... Jesus diz no Evangelho que a fé move montanhas. Porque não havemos de acreditar nisto?


- A contemplação, finalmente, não pode ser um tempo para esquecer o mundo e os seus problemas. É, pelo contrário, o momento por excelência para os tornar presentes. É o desafio de não buscar raciocínios e desculpas, classificar-me a mim e aos outros e não chegar a nenhuma conclusão existencial que seja capaz de transformar. Quem vê a sua verdade, pode amá-la, percebendo como esta é amada. E amando,aceitamos e perdoamos. E aceitando e perdoando, temos um coração capaz de coisas muitos grandes. O outro lado da oração é a acção do amor. E Jesus diz, mais uma vez, que pela árvore se conhecem os frutos. Aquilo que fazemos fora, mostra a qualidade das nossas raízes. Sem a contemplação, nunca teremos a possibilidade de amar radicalmente. Ficaríamos ao nível de uma filantropia de circunstância - o que em si é bom - mas não estaríamos todos naquilo que estamos a fazer.


Para resumir. O que tenho reflectido e vivido acerca da contemplação é que é um tempo que não me pertence, que não posso dominar. Que tenho que escolher ter isto como o modo de estar na Vida, aquilo que me define radicalmente. Sem uma profunda vida interior, corremos o risco de tudo ser mais um número, um obstáculo, ou um prazer efémero. Não me transformo, nem transformo. E isto está ao alcance de todos.


Finalmente, depois de ter todos estes aspectos presentes, é o tempo de começar a realizar isto concretamente. A atitude de confiança e disponibilidade inicial é o mais importante. Então, com o realismo das minhas possibilidades escolho um tempo do meu dia para esta eternidade. Quinze minutos, meia-hora, uma hora. Pessoalmente, aconselharia pelo menos meia-hora, que, sinceramente, acho muito difícil que não se tenha durante o dia. Temos sempre tempo para o que verdadeiramente queremos.


E o que fazer este tempo? Simplesmente estar, ou repassar o meu dia e o que foi acontecendo, ou meditar alguma passagem da Bíblia, ou de um livro que me ajude. Nesta altura, um bom livro sobre oração pode dar muitos bons conselhos e cada um poderá encontrar o seu modo próprio. Todos os modos de rezar são bons. Mas o que é mais fundamental é o estar presente. E certamente a nossa Vida muda, de forma imperceptível, com avanços e recuos. Mas aí está... o tempo de Deus não é o nosso tempo e os resultados d'Ele não são os nossos resultados. Estaremos toda a Vida a perceber isto e a entusiasmarmo-nos cada vez mais.


19 março 2009

Pessoas grandes

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Ontem, foi para o céu o P. Amadeu Pinto, jesuíta português, que estava neste momento a desempenhar as funções de director do Colégio S. João de Brito, em Lisboa. Para além de muitos anos dedicado ao trabalho de direcção em colégios, fez ainda bastante trabalho na área social, após a sua ordenação, e foi também o superior dos jesuítas portugueses, entre 1999 e 2005. O meu contacto com o P. Amadeu deu-se sobretudo a nível das conversas que fui tendo com ele, e dos destinos que me deu, como Provincial, quer para o trabalho do magistério, quer para a teologia. É, por isso, um companheiro que marcou muito aquilo que sou hoje. As suas decisões marcam o rumo da formação, as relações que encontrei, os modos como fui crescendo como pessoa e como jesuíta...


A morte de alguém que é importante para nós traz sempre uma sensação de vazio, uma experiência de vida que deixa de ter uma referência física, visível. É também o desafio a ir além do que vemos e tocamos e passarmos para o nível mais profundo do agradecimento e da saudade. E, porque não, da alegria e da coragem. Quem conheceu o P. Amadeu, certamente não poderá deixar de sentir que esta é a melhor atitude perante a Vida e o que acontece, mesmo a fragilidade, a doença e a morte.


Por estar fora de Portugal, não estive com o P. Amadeu durante o tempo da sua doença. Mas chegavam-me muitos ecos da força e da determinação que nunca o abandonou. Sobretudo da fé e confiança em Deus, de aceitar o fim da Vida com uma serenidade e alegria impressionantes. Quem o conheceu, não estranharia a sua atitude. Sempre foi um homem grande e forte, em todos os sentidos. (os seus firmíssimos apertos de mão e as sólidas pancadinhas nas costas são inesquecíveis!) Nisso foi sempre um exemplo e continua um estímulo a nunca desistir. Será esta a forma que mais me sinto motivado para agradecer a vida do P. Amadeu: ser mais como ele...


Rezemos pelo P. Amadeu e por nós, em agradecimento e atitude de entrega. Por tudo, Obrigado!

18 março 2009

Influências

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"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". É verdade que é normal que nos rodeemos de pessoas com as quais temos mais sintonia e que, de alguma forma, condicionam um certo estilo de estar na vida, de vestir, de frequentar lugares, etc. Mas também existe uma diversidade grande, de ter amigos que não partilham os mesmos pontos de vista, e são muito diferentes de nós. Mas isso não quer dizer que sejam amizades menos profundas, às vezes até é o contrário. A diversidade ajuda-nos a sair dos nossos esquemas.


Porém acredito que é necessário um equlíbrio para saber estar em todas as circunstâncias, sem deixar de ser si próprio. Quando as pessoas com quem andamos dizem mais de nós que nós próprios, é porque não temos muita força. E assim fazemos as coisas como calha, namoramos como se vê nos filmes, trabalhamos porque tem de ser ou passeamos aos mesmos sítios onde vai toda a gente. É pena não estarmos completos no que escolhemos fazer.


É por isso que a diversidade nos deve questionar, mudar paisagens ajuda a descobrir o nosso próprio estilo. E é isso que torna uma pessoa fascinante. Está onde deve estar, mas está como é. Não se vêem capas sociais nem maquilhagem de circunstância, mas a beleza que é a estrutura de tudo.

16 março 2009

Outros mundos

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Hoje, enquanto passeava um bocado pelo Youtube, encontrei isto. Uma orquestra e coro que toca três temas do filme "A Missão". Fiqui sem palavras e, por isso, é o que hoje aqui ponho. Há momentos em que música e a imagem nos dizem coisas que nunca as palavras poderiam dizer.



15 março 2009

É lógico

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Durante a filosofia fiz uma cadeira de Lógica. Ajuda a estruturar o pensamento, e é útil para argumentar, fazer silogismos, tirar conclusões. É importante também para descobrir erros de raciocínio, perceber onde se fez um salto indevido ou se acrescentou algo não previsto que depois conduz a uma conclusão diferente.


Pergunto-me porque é que é mais fácil organizar pensamentos que sentimentos. E o pior é que somos constantemente tentados em estruturar aquilo que sentimos, atribuindo-lhe etiquetas, causas e resultados a obter. Na nossa cabeça as coisas estão muitas vezes arrumadas. Até demais, quando a Vida nos acrescenta todos os dias novas variáveis que descontroem a nossa lógica certinha. E aí estamos de novo a procurar re-estabelecer o raciocínio. Não admira que andemos cansados!


Os sentimentos não são ideias escritas em papel, que possamos escrever e guardar em pastas e gavetas numeradas. Um papel diz pouco do que se faz com as mãos e o coração. Escrever não é pintar, nem esculpir, nem fazer música. Se não ponho o meu corpo na minha experiência, se não deixo que o mundo me diga a minha e a sua verdade, então fico um livro de prateleira, esquecido e com pó.


Lidar com os sentimentos é não ter medo deles, é poder deixá-los entrar em casa e ouvi-los falar. São coisas importantes, mesmo importantes. Não merecem uma lógica apressada, fria e racional. Merecem a guerra e a paz que trazem.



14 março 2009

Pensar positivo

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É uma expressão que ouvimos um bocado por toda a parte. É uma tábua de salvação, para evitar depressões, pânico ou levar demasiado a sério problemas que não são tão sérios. E nisto vejo que é um conselho muito saudável, eu próprio o digo a mim mesmo várias vezes.


Há algo que sempre me fascinou nos nossos processos humanos de seres complexos. E muito complicados. Que há coisas que vamos aprendendo a gostar, a experimentar de vez em quando, até que comece a ser algo habitual. E um hábito começa depois a fazer parte de nós, de modo a que, no fim, um hábito acaba por ser uma atitude. E uma atitude vai sendo tão repetida e encarnada na própria Vida que depois já faz parte de nós. É um estado de Vida.


Um exemplo disto pode ser um mau hábito. Tirar coisas sem pedir licença, ou querer ser sempre o centro das atenções. Se não se estiver atento, pode acontecer que, depois de uns anos, estejamos è frente de alguém corrupto ou de alguém que usa os outros como quer. Casos extremos, mas que não é estranho que aconteça.


Se isto pode acontecer no mal, acredito que, no Bem, existe uma força maior. E é aí que uma experiência de pensar positivo possa ser um hábito, um hábito uma atitude e uma atitude um estado de Vida. É uma questão de irmos percebendo o quanto nos faz bem iluminar o nosso olhar.

12 março 2009

O Divórcio

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(sugestão de António)

A questão do divórcio é, sinceramente, um tema que não me deixa muito confortável, por dois motivos principais: o primeiro é que eu próprio, como futuro padre, estou a referir-me a um assunto do qual não tenho experiência pessoal, a não ser através de casos com quem contacto ou de histórias que vou ouvindo. O segundo motivo é que, ao falar deste tema, corre-se o risco de generalizar e não ter a noção de que cada caso é único, e requer uma apreciação particular. Se certos casos de divórcio podem ser caracterizados por alguma "ligeireza", acredito que a esmagadora maioria envolve situações de muito sofrimento e desilusão: um sonho em comum que não está a ser possivel realizar, e as quais respeito profundamente.


Por isso, procurarei fazer uma reflexão sobre o que poderá ser mais essencial, para estar atento e cada um poder tirar também as próprias conclusões.


O casamento, ao menos na nossa cultura ocidental, mesmo para a Igreja, tem um elemento de visibilidade social. É uma instituição social, pois, perante uma sociedade, duas pessoas realizam um compromisso (ou contrato) de viver em comum, criar família, partilhar os bens, etc., e esse compromisso tem os seus direitos e as suas obrigações, que os vários códigos civis ou religiosos prevêm. Há porém, o elemento mais interior desta união, que é o facto de duas pessoas se amarem e desejarem viver a sua vida em comum uma com a outra. Não há lei que possa aferir a qualidade ou a quantidade deste amor, simplesmente se toma como pressuposto, ao menos razoavelmente. Sobretudo agora, que já passou o tempo dos casamentos por conveniência ou desejo dos pais.


Estou a dizer o óbvio se afirmar que o Amor é a base do casamento, mesmo que depois este assuma exteriormente a forma de um acordo entre duas partes, com uma projecção social. E é sobre isto que quereria reflectir.


Quando duas pessoas se amam verdadeiramente, vêem claramente que a sua vida faz sentido se for partilhada em todos os momentos, descobre-se o lugar da própria existência mais central, onde é impossível estar sozinho: onde tu e eu precisamos um do outro, para sermos quem somos e realizados nas nossas maiores aspirações, onde se entrega a vida mutuamente. E esta relação de amor não é fechada, porque todo o amor é fecundo e gera vida. Quando ouço falar da família como a célula da sociedade, penso nisto: como é maravilhoso que os homens e mulheres de amanhã nasçam a partir de um amor incontido, que se comunica em nova Vida. Isto é tão bonito como extremamente exigente, é uma responsabilidade tão grande dar filhos ao mundo...


Fazer um caminho em direcção a esta consciência é o que, a meu ver, decide muito do resultado e do "sucesso" de um casamento. Estou a fazer a minha preparação para ser padre há 12 anos, com pessoas especializadas e preparadas para me ajudarem a ter consciência da minha opção de Vida. Não há nenhum casal no mundo que faça um percurso idêntico de mútuo-conhecimento para poder amadurecer a relação, sonhar com ela, etc. Nem isso seria viável, mas é para fazer cair na conta de como uma opção de casamento requer uma maturidade muito grande e um caminho de exposição da própria verdade, das próprias intenções e, sobretudo da energia de amor que liga duas pessoas, no presente e no futuro.


Uma preparação mal feita e à pressa, não é o único problema, nem creio ser o problema principal. É necessário ter consciência, de inteligência, alma e coração, da profundidade do amor, e como só este é capaz não só de dar Vida e entregá-la, mas também de perdoar, perceber, cuidar, ser fiel, ganhar e perder, sempre na maior alegria. Desejar amar com todas as suas consequências é o grande motor do casamento. Quando duas pessoas casam a ver o que depois dará, algo não está a funcionar... Se bem que podem surgir dificuldades tão grandes que não se podem resolver senão com a separação, é preciso ser consciente de que não é primeira dificuldade que pôe tudo em questão. Como disse, cada caso é um caso....


Quer a legislação civil, quer a legislação do direito da Igreja prevêm casos de divórcio, ou anulação do casamento. Bem sabemos que é mais fácil obter o divórcio civilmente do que na Igreja. O casamento na Igreja, para além do aspecto do consenso e do contrato social, é uma união abençoada por Deus. Não como um elemento mágico, mas como a expressão da divindade do amor, presente na vida de duas pessoas que se unem. No fundo cada um dos esposos diz sim à capacidade de amar até ao limite, sem "ses" ou "mas". Quem casa assim, com-promete a própria Vida com o outro, e o amor total é eterno, dura toda esta vida, até sempre.


A dificuldade em haver divórcio na Igreja deve-se ao facto de querer salvaguardar este acontecimento fundamental. No direito da Igreja são previstos muitos casos que se poderá anular o casamento, por razões muito fortes, que tenham a ver com a verdade, a integridade, e outras situações que possam vir a ser apreciadas, tão variadas quantas as circunstâncias e as pessoas. Mas pela razão de apelar à profundidade humana e espiritual de quem casa, não se pode quebrar um laço tão forte por motivos débeis. No fundo, é preciso ser também responsável das próprias opções e o casamento, a meu ver, não é algo que se possa decidir levemente.


Há tempos, li no último número da revista Brotéria (revista de cultura publicada pelos jesuítas portugueses) um artigo sobre a nova legislação do divórcio em Portugal. Esta facilita o divórcio de uma forma que pode abrir caminhos a grandes injustiças, sobretudo quendo pôe em questão os direitos da parte lesada ou dos filhos. Fiquei muito preocupado e perguntei-me, como na reflexão final do artigo aparece, se a nova lei do divórcio acaba por pôr em crise o casamento como instituição de estabilidade social; e se estas leis acabam, no final, por dar maior relevo ao casamento religioso, por este alimentar mais a coêrencia de vida e de amor e, por isso mesmo, vem mais protegido.



11 março 2009

Mudanças

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Já não é pouco pensarmos que em determinados momentos da Vida somos desafiados a mudar coisas importantes, quem em nós próprios, quer nos ritmos de vida, lugares e relações. É um abrir de um mundo novo, alegria e esperanças misturadas com medos e sensação de estar perdido. Somos obrigados a certas ansiedades, fazem parte da vida, se não queremos ficar sempre iguais e adormecidos.


Contudo, existem mudanças que podem preparar o coração para coisas maiores. Cada dia é um dom enorme, em que posso escolher acrescentar algo de bom ao mundo, dar uma cor diferente à minha paisagem, nem que seja uma flor pequena e escondida no meio de uma planície cheia de pedras. Mas é a que chama mais a atenção a quem passe por ela. Fizémos algo bonito hoje e isso não é indiferente, pode até mudar tudo!


É uma mudança suave, passos pequenos e simples, que toquem a profundidade do dom que é ser eu próprio. Rezo sempre descalço, porque é o momento em que decido caminhar em terreno sagrado, transformo o mundo, deixo-me ser transformado. Mudo por dentro e faço mudar por fora.

09 março 2009

Dócil

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Hoje numa conversa que tive, surgiu a palavra docilidade acerca do modo de estar na Vida. A pessoa que a referiu falava disso como a coisa com que mais se identificava. Fiquei a pensar nisso. Talvez porque tenha mexido mais comigo, e tocado num dos meus medos principais, uma daquelas coisas que nos assustamos só de pensar que possa vir a acontecer connosco.


Ter a docilidade como modo principal de estar na Vida desperta em nós a sensação de simplicidade, aceitação e acolhimento. Os doces são a alegria de uma refeição, dá a nota de festa, surpreende e causa elogios e bem-estar. Uma pessoa dócil tem esta mesma alegria como ponto de referência. E não quer dizer que seja ingénua, ou afastada da realidade, ou alguém que esteja continuamente a ser ultrapassada. Tem uma força especial... e fascinante.


O contrário do doce é o amargo. Uma pessoa amarga está continuamente desiludida, critica tudo e todos, nada está bem. E alguém que critica continuamente não ajuda a construir, parece que é o único que tem todas as soluções e, no fundo, é um incompreendido. Acredito que isso deve ser uma enorme fonte de tensão. Mais tarde ou mais cedo, acaba por não ser levado a sério. Já se sabe o discurso que virá... Uma pessoa dócil, pelo contrário, dá mais importância ao que a vida oferece, para a fazer própria e bonita, não destrói presentes logo à partida. E para isso é preciso coragem, coração e olhar grandes e alegria.

06 março 2009

O sentido da dor

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(sugestão de Helena)

Lembro-me de ter lido, já há vários anos, um livro de François Varillon, onde ele falava deste tema. O episódio passava-se entre ele e uma jovem que estava já em fase terminal de cancro e que lhe dizia: "Não percebo e não consigo aceitar". O padre respondeu: "Eu também não percebo e não consigo aceitar". Foi uma revelação para mim, porque diante de questões tão difíceis, o melhor é estar calado e não fazer discursos fáceis que acabam quase sempre, na minha opinião, por ser um insulto a quem sofre, como se alguém falasse de fora e desse uma solução irreal ao sofrimento.


A pergunta é se a dor é necessária para significar a Vida, ou se é uma necessidade do homem. Sim, é uma necessidade, simplesmente não nos podemos iludir e pensar que a Vida poderia ser perfeita, que estamos livres de todos os perigos e protegidos por uma espécie de mão divina que evita o mal. Não é fácil falar destes temas, sem nos perguntarmos o porquê, se no fundo a criação é má, se Deus abandonou o mundo, se estamos a ser castigados. É o drama que vemos todos os dias nas notícias, o sofrimento causado e a dor que atinge aqueles que não têm culpa. Estamos tão habituados a isso que não nos choca o terremoto nas Filipinas ou a guerra no Congo. É pena que aconteça, mas não podemos fazer nada. Já nos questionamos mais com a doença de alguém conhecido ou um familiar. Finalmente, não suportamos e ficamos aterrorizados com ideia de confrontar a própria dor na primeira pessoa...


A dor e o sofrimento fazem parte da Vida. É inexplicável e causa-nos tristeza e desespero. De onde vem e para que serve? Há um sofrimento causado pelas nossas más escolhas, que nos ferem a nós próprios ou aos outros. Mais cedo ou mais tarde, sabemos que teremos as consequências da nossa falta de verdade e do nosso egoísmo. A um nível mais global, a liberdade de outras pessoas também causa sofrimento, e quem tem mais poder abusa dos mais fracos. E existe o nível da própria natureza, as células e os vírus que destroem o corpo, ou os fenómenos naturais que destroem em grandes dimensões.


Custou-me sempre entender esta frase: a origem do mal e da dor está na nossa liberdade limitada. Em relação a mim próprio e aos outros, consigo perceber o que isso quer dizer. Tenho mais dificuldade em perceber o porquê do sofrimento causado por outras potências, humanas ou naturais, quando há inocentes que sofrem. A ciência, a política, a economia e a sociologia poderão dar muitas justificações. O mal simplesmente acontece e é na minha vida que o terei de enfrentar. Como, com que intenção? Para perder tuda na mesma, quando chegar o fim? Precisamos de outras respostas.


Não falo explicitamente da resposta da fé e da religião. Prefiro dizer aquilo que qualquer pessoa, crente ou não crente, poderá perceber. A resposta da fé é a que toma este mesmo dinamismo e a formula numa linguagem própria.


Frente à dor, como a condição natural e inevitável da Vida, sou desafiado a dar uma resposta. Que pode ser fugir, ficar indiferente, desistir, lutar, aceitar, amar... Na minha vida passei por todas estas respostas. Há uma atitude que me iluminou mais: Diante da dor e da morte, como poderei estar como sou, como posso fazer a minha casa num mundo que não percebo e me custa aceitar? Falei há tempos da imagem do labirinto. A questão não é tentar uma saída frustrante do labirinto onde nos encontramos, mas sim descobrir o modo de o habitar como sou e com o muito ou o pouco que tenho para dar.


Todos os acontecimentos são uma expressão da Vida. Tal como as alegrias mais contagiantes de ter encontrado o que se quer, de poder tocar com as mãos o tesouro procurado, também a dor nos fala da mesma força da Vida. É nos extremos que a Vida se mostra com toda a sua força e potência. É mais fácil perceber isto na alegria, mas a Vida aparece-nos à frente nua e crua, violentamente, quando vemos que a podemos perder e não podemos consentir isso. É o momento de decidir amar com todas as forças o que me é dado viver. É o dom mais precioso que tenho, e quando este é tão frágil, mais o devo amar. É o amor incompreendido, que vai além de si, que é paradoxal, que pode construir a casa no labirinto escuro em que vivo. É este a única fonte de luz.


Na linguagem da fé, Deus não é a origem do mal, nem Aquele que castiga o nosso egoísmo. A liberdade para Deus é tão importante, que Ele não consegue intervir com milagres, seria tirar-nos as possibilidades radicais da existência, a nossa marca divina no mundo. Deus é a força do amor que nos ajuda a viver o que vivemos. E esta força nunca ouvi dizer que algum dia não tivesse sido dada a quem a pediu. Jesus sofreu e morreu de forma muito violenta e injusta. Deus não fez nada para o ajudar. A humana-divindade de Deus teria de estar identificada connosco em tudo. Mas o Amor do Pai acompanhou Jesus e esteve presente com toda a força, até ao fim. Um Deus que não sofresse connosco não teria nada a dizer-nos sobre a Vida.

04 março 2009

161 - 5

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Resolvi aceitar mais um desafio e mesmo engraçado...! A menina bem comportada passou-me o seguinte desafio:

1 - Agarrar o livro mais próximo
2 - Abrir na pág. 161
3 - Procurar a quinta frase completa
4 - Colocar a frase no blog
5 - Indicar 5 pessoas para continuar a tarefa

Peguei no livro que tenho na mesinha de cabeceira, página 161, quinta frase completa:


"He was gifted the naive vision of the lovelorn and experiencied a simplified view whereby the only significant measure in the world was the straight line between lover and loved."


O livro é um romance de Niall Williams, "The fall of light".

Ainda não tinha chegado a esta página, mas fiquei impressionado. Que a única medida sifgnificativa do mundo é a linha entre o amante e o amado. Como, de facto, o Amor é a nossa medida, e funcionamos em referência a quem amamos e a como somos amados...gostei mesmo de ler isto!


E passo o desafio à Nônô, ao Nelson, à Kita, à Marta e à Ana.


Até ja! =)



03 março 2009

Dizer sim

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Quando aceitamos um pedido que alguém nos fez, ou quando assumimos um compromisso em relação a nós próprios, mesmo em coisas pequenas, dizemos sim. O sim é uma palavra poderosa. Fica-nos mal voltar atrás, significa um imprevisto ou uma incoerência. O sim implica-nos, a nossa Vida passa a contar com uma nova paisagem, que passamos a habitar e transformar.


O motor das nossas acções são as decisões. O agir ou o não-agir parte sempre de um sim, afirmado ou renunciado. É por isso que mesmo o não tem como referência o sim, tal como a sombra tem referência à luz, e o mal tem referência ao bem.


A minha questão tem sempre a ver com a qualidade do meu sim, porque também o podemos dizer ao mal ou à sombra. E ficamos menores. Mais tarde ou mais cedo nos damos conta se o sim que dissemos nos criou algo novo, que tenha a ver com o nossos sonhos de realização e felicidade, ou se ficou apenas por um momento imediato. Passou e tudo ficou na mesma, não acrescentei nada e, por isso, não cresci.

02 março 2009

O que precisamos

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Hoje tive uma aula impressionante sobre o tema Literatura e Teologia. Fiquei com a sensação que o mundo da escrita é extraordinariamente potente. E fiquei ainda mais preso à necessidade que tenho de escrever e finalmente pôr em palavras, imagens e sons tantos sentimentos do que acredito ser a Vida e o que ela nos pede.


Dizia este professor que um texto literário nos pôe a viver mundos e situações que nunca viveríamos... talvez nunca venha a estar preso, ou perder-me no deserto, ou amar até à morte. Mas a verdade é que, lendo estas coisas, acabo por as viver, nas mesmas alegrias e nas mesmas angústias. O meu mundo e a minha experiência é ampliada até ao impossível, ao que é ficção, imaginário, mas que se torna real. Numa hora posso viajar a sítios que nunca iria.


O fascinante das palavras é que nos transportam além do quotidiano, sem nos arrancar do momento presente. Explicam de maneira palpável o que sinto, sem o conseguir expressar. E maravilho-me com a capacidade de o Homem se transcender assim, não há abismo nem céu que resista ao poder da imaginação. E como esta é o espaço de certezas e acolhimento daquilo que não conseguimos explicar e daquilo que não queremos ver em nós.


01 março 2009

Amor próprio vs Egoísmo

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(sugestão de Tiago)

É um tema muito sugestivo. Normalmente, penso que o amor-próprio é uma versão do egoísmo, relacionado com o orgulho. Quando nas nossas relações algo nos fere, é o nosso amor-próprio que se revolta com a injustiça ou a falta de respeito. Atacaram a nossa dignidade, fizeram-nos sentir menores. E isso é desconfortável e faz-nos reagir. Tenho sempre a impressão que as motivações que nascem de sensações desagradáveis não são boas, e as acções que pomos em movimento através delas acabam por magoar e romper qualquer coisa.

Pode-se também pensar em amor-próprio como uma versão da auto-estima (um amigo meu disse-me um dia que esta palavra lhe causa arrepios e eu, pensando melhor sobre isso, também concordo com ele). Este amor-próprio nasce do desejo de nos afirmarmos naquilo que somos, de termos uma palavra a dizer, de nos sentirmos úteis. E quando isto não acontece, quando não somos reconhecidos, surgem de novo feridas e reacções desagradáveis.

Creio que pode haver um ponto de equilíbrio entre todas estas sensações. O amor-próprio está ligado a algo natural em nós, uma espécie de instinto de sobrevivência, para não desaparecer no mundo das relações. O grande segredo está no modo em como usamos esta nossa energia, em que somos felizes com aquilo que somos, temos e fazemos. No fundo como gostamos de nós e nos mostramos aos outros, como nos fazemos reconhecer e amar.

O egoísmo não é bom, o centro do mundo sou eu, e isso é uma fonte de tensão e desolação, porque simplemente a Vida e as suas circunstâncias, as minhas relações, não funcionam com interesses de ilhas isoladas, de querer controlar tudo e todos, mas segundo modos de comunicação e partilha, de ganhar e perder. Fico doente, os outros não fazem o que quero, o patrão não reconhece o meu valor, não tenho tempo para o que quero... e tudo isto estraga o meu mundo imaginário. Terei de viver o que sou de outra maneira.

A energia do amor-próprio deveria ser usada num dinamismo de humildade e simplicidade. Ser humilde não é apagar-se, mas é reconhecer a própria bondade e beleza, que é algo fundamental em cada um de nós e que nunca desaparece. E comunicar o que sou com simplicidade, com vontade de ser melhor e estar disponível. Um professor meu usa muitas vezes uma frase de Shakespeare que gosto muito: "Readiness is all". Estar pronto para tudo, para o que acontecer, sabendo que a minha capacidade de fazer o bem em todas as circunstâncias não desaparece.

Isto implica uma coragem gigantesca, que vive em perfeita harmonia com a humildade de saber que não posso dominar tudo, e a simplicidade de aceitar a Vida como oportunidade de me questionar e ver que coisas estou pronto para fazer. Este amor-próprio é extremamente criativo e corajoso, forte, e pode trazer muitos frutos àquilo que vivo com os outros.
 

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