16 maio 2010

Entusiasmo


(sugestão de Nise)

Aproveito a visita do Papa Bento XVI a Portugal, para reflectir sobre este tema do entusiasmo, que certamente será um dos sentimentos mais presentes nos fiéis católicos em Portugal, depois destes dias tão marcantes. Entusiasmo tem a sua origem nas palavras gregas en (dentro) theos (Deus), e pode-se traduzir com a ideia de "ter Deus dentro de si". Isto significa aquela força interior que nos acende e nos motiva, que nasce de uma sintonia criada com algum aspecto que nos faça orientar a nossa acção de um modo que nos empenha completamente.

Com muita pena, não estive em Portugal nos dias da visita do Santo Padre, mas acompanhei atentamente, graças à possibilidade das transmissões em directo na internet, todas as celebrações. Senti a profunda comoção transmitida no rosto de Bento XVI e nos milhares de pessoas que o recebiam. Por várias vezes, tive a oportunidade de, aqui em Roma, poder ver de perto o Papa e descobrir nele um homem próximo, afectivo na sua timidez e no seu pouco à-vontade no meio das grandes multidões. Contudo, o que mais me tocava era a sua afabilidade e, sobretudo, a profundidade das suas palavras. É impossível não ficar preso das suas palavras do início ao fim dos seus discursos. Portugal teve a sorte de ouvir em primeira pessoa alguns dos discursos mais profundos e significativos que este Papa dirigiu à Igreja.

Há uma diferença que encontrei entre as celebrações de Roma e o que pude ver em Portugal. Em Roma, o Papa apresenta-se no mesmo estilo, com o mesmo sorriso (apesar de algumas vezes ter notado algum cansaço) e a mesma força de unir as pessoas à sua volta através das suas palavras. Porém, em Roma, tudo é mais organizado, definido, e o ambiente da Praça de S. Pedro e da basílica conferem outra solenidade. Além disso, para além da fé de muitos peregrinos presentes, mistura-se inevitavelmente a sensação de estar diante de mais uma atracção turística, da parte de muitas pessoas que vêm a Roma e para as quais ver o Papa faz parte do programa. Em Portugal, tudo era mais espontâneo, mais "corpo", com maior sintonia. Era uma pura expressão da fé e do desejo de esperança que movia o coração dos portugueses. Isso notava-se claramente, a fé transformou-se numa enorme festa!

É natural que o entusiasmo fosse o sentimento mais central destes dias. Ninguém, mesmo os mais cépticos, terão ficado indiferentes à surpresa desta recepção ao Papa. Especialmente quando, da parte de tantos sectores da sociedade e de alguma comunicação social, se procurava perturbar, desde há vários meses, o ambiente da sua visita, aproveitando a difícil situação que vive a Igreja nestes dias. Esta situação dos escândalos e da descristianização crescente da Europa produz uma profunda dor em todos os cristãos, e um sentimento de desânimo, perguntando-nos como será o futuro da Igreja no nosso país e no mundo. Porém, esta visita, trouxe a todos esperança e uma verdadeira experiência de conversão interior, à qual o Papa se referiu na sua entrevista que deu no avião a caminho de Portugal.

Deste modo, a conversão que marcou o início da sua visita, não pode estar separada do entusiasmo que marcou o seu fim. Converter-se é orientar o coração para um caminho interior, em direcção à verdade e autenticidade do Amor. Só vivendo profundamente a experiência de saber o que é essencial nas nossas vidas, nos dá a força e o espírito de orientar a vida, em todos os seus aspectos, para concretizar algo grande e bonito, sermos realmente "lugares de beleza". O entusiasmo não nasce de uma experiência emotiva pontual, mas é a consequência daquilo que nos toca e constitui mais profundamente. É Deus-dentro-de-nós. É este o entusiasmo que vivemos nestes dias e que nos desafia a continuar, como cristãos convertidos ao Amor, mais Igreja.

1 comentários:

concha disse...

Boa noite António!
Mesmo à distãncia consegue fazer uma análise bem real do que se passou nestes dias em Portugal.Não sei o que acontecerá a seguir mas sinto uma vontade enorme de dizer ao mundo que acredito e sou feliz assim, mesmo se por vezes à minha volta pairam algumas sombras.
Um abraço de gratidão por tanto

 

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