22 agosto 2006

Para sempre

Ouvia-se a música…. E era tudo tão diferente! Como se um raio de luz de repente tivesse feito chama no coração do mundo. Trouxe recordações tão profundas e já escondidas do quarto da minha memória. Como quando alguém me levava a passear ao jardim e ouvia o canto dos pássaros. No dia em que tudo começou… em que se disse faça-se! Mas hoje era diferente. Talvez porque a luz era outra… ou o som, não sei.
Estava ali presente, a Presença de quem me habita sempre, porque se descobre pouco a pouco, com passos tão sempre inseguros, que chegava a hora de dizer um sim absoluto, sem nada a que me agarrar, a não ser uma esperança muito firme. É estranha, esta Esperança, confiar naquilo que se não vê, como uma mão que me segura e ao mesmo tempo me deixa livre. Esta presença contínua e tão difícil de descortinar, tão próxima e ao mesmo tempo tão difícil de olhar.
Talvez porque dar-me conta daquela presença fosse o primeiro passo de que hoje sou amado e esperado, como sou…. Sempre e para sempre. E, aos poucos, vão-me caindo as escamas dos olhos e as coisas bonitas a que me habituei. Uma a uma, foram desaparecendo… trouxeram medo, angústia, foram-se perdendo dentro de uma luz cada vez mais nova, ao som de uma música cada vez mais próxima.
E encontrei-me ali, sozinho, sem nada, no vazio de um salto de luz, perdido num deserto sem sombras… e continuei o caminho, seguro do Nada, seguro daquela presença invisível, seguro de um fim de caminho sempre possível… No fundo, pensava que o Essencial é tão linear, que não vale a pena estar a gastar-me com questões, de quando, como, a que hora, de que modo… Apenas ser possível dizer Sim ao meu Futuro, dizer Sim à minha Vida, dizer Sim a Jesus. Chegar ao único caminho que é o único que me abre todas as possibilidades. De um caminho feito de liberdade e entrega, de medos e cansaços…
Porque temos medo do definitivo? Porque temos medo de ser verdadeiramente grandes? Quando é que poderemos perceber que não somos daqui? Quando é que somos somente… no mais autentico daquilo que é o mais radical, desde o primeiro grito da Vida? Viver para o único, viver no Amor, para Amar… ser amor, simplesmente… sem mais perguntas do que ir vivendo o dia como a graça mais preciosa que me foi dada… e seguir sempre na confiança…
A fé na esperança de uma Presença de Amor… É difícil chegar a isto… é mais difícil começar a partir daqui… mas o Eterno que nos faz tem todo o tempo do mundo… cada olhar confiante num Futuro tocado com mãos amorosas já é pressentir a luz de que somos feitos, desde o início… para sempre.

2 comentários:

Anónimo disse...

É bonito sentir como a música evolui como inspiradora.
Partilho o texto a seguir da forma que Deus se manifestou através de um adagio de Mozart:

“A Revelação, situada nos antípodas do mágico, constitui o milagre por excelência, pois o Criador vem ao encontro da criatura, e estabelece com esta um diálogo, uma relação eu/tu. (…)
Esta segunda etapa é ilustrada pelo Cântico dos Cânticos, símbolo da relação que Deus quer estreitar com cada homem, e no campo das artes corresponde-lhe à música – hipoteticamente para sublinhar a música interior, que, comunicando-se, se faz escutar e jorra do eu profundo…”

In Brotéria, Uma Leitura de Rosenzweig. Luís Providência SJ

A CONFISSÃO DE DEUS

Mozart, Concerto para Violino nº 3 – Adagio

Esta música revela uma enorme serenidade e compreensão.
Introdução introspectiva.
O solo de violino é Deus a falar connosco, parece que descreve a nossa vida.
E vai repetindo as nossas quedas com amor e compreensão, triste pelos nossos pecados, mas sempre disposto a ajudar, repetidamente…
E a cada frase do violino, a orquestra responde como se fosse a nossa respiração, com pena por ofender a Deus, mas inspirando-se do alento da Graça de Deus.
O ritmo da orquestra é Deus a bater no nosso coração…

Obrigado meu Deus pelo teu Perdão, por me aconselhares serenamente e me preencheres com a Tua Graça...

Luis Sottomayor 2006.03.16

Anónimo disse...

Grande Valerio...
Agora compreendo algum sono nas aulas de italiano! Isto de rezar até tarde tem as suas dores!

Eu que sou de muito falar prefiro, depois de "entrar" no blog, ficar calado.

Um tanto para agradecer a coragem de quem fala o que vive. Outro tanto para também me deixar ir.

Obrigado e cá nos encontraremos!
af

 

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