Sugestão de anónimo
Como discernir a paz de Cristo? Este tema necessariamente será dirigido a quem já tem uma vida de fé e oração e pretende encontrar modos e critérios para descobrir esta paz que vem do encontro com Jesus.
Especialmente na oração, não há receitas infalíveis. Tal como, com os nossos amigos, temos um modo específico e particular de nos relacionarmos com cada pessoa, do mesmo modo, o encontro com Deus na oração é extremamente pessoal. Cada um terá de encontrar o seu próprio modo de rezar, de acordo com a sua sensibilidade, carácter, estilo de vida e circunstâncias. Há pessoas que rezam a partir dos acontecimentos da vida, ou a partir das leituras do dia, outras que preferem silêncio sem grandes palavras, outras que pedem luz para algumas decisões que têm que tomar.
Em todas estas circunstâncias, há algo comum que é importante ter em conta. O primeiro aspecto é que a oração consiste num encontro com Alguém que quer estar connosco numa relação de transparência, verdade, intimidade e amor. Não estamos diante de um juiz ou de um mago, mas de alguém que acolhe e ajuda a transformar, orienta tudo aquilo que temos de bom para um horizonte maior. O segundo aspecto é que a boa oração é uma graça que não depende só de nós. O desejo e o tempo que temos à disposição para a oração é essencial, mas os resultados da oração partem de Deus. E Deus tem os seus tempos e modos de se comunicar, que muitas vezes estão além das nossas expectativas. Esperar que a oração nos traga aquilo que queremos corre o risco de transformar o encontro numa espécie de mercado e retribuição, o que tira a gratuidade e a surpresa. A oração, por isso, é um encontro de disponibilidade para aquilo que for, um exercício completo de liberdade.
Um dos frutos da oração é a paz. E como fruto que é, devemos pedi-la constantemente. Não como um direito que temos, mas como disposição total de abertura a recebê-la. Receber a paz de Cristo não é criar um espaço de tranquilidade psicológica, que nos poderia fazer ficar numa ilha desligada da vida, mas receber a paz como dom que transforma o nosso ser e o nosso agir.
Vejo muitas vezes a necessidade que as pessoas têm de um espaço de paz e existem imensos locais que a propõem, do tipo da meditação transcendental baseada em métodos orientais. E isto é bom. Porém, também tenho visto que estas experiências correm o risco de criar o efeito de uma ilha de tempo e espaço desligada do resto. É um processo psicológico mais que um encontro. E quando se sai desta ilha, evita-se a todo o custo confrontar-se com as "más energias" dos outros, quando o óbvio seria que a paz que se tem fosse motor para afrontar tudo e todos num desejo de curar feridas e estabelecer relações de verdade.
A paz que vem de Jesus pode ser encontrada também num tipo de meditação com métodos orientais. É também o meu preferido, mas importa perceber antes que não é uma paz conseguida, mas uma paz recebida. Quais são então os critérios que nos permitem discernir a paz que vem de Cristo?
É uma paz que cura as nossas feridas, porque é voz de perdão e acolhimento total da nossa pessoa. Quem se sente amado sem condições sai transformado, deixa para trás os bloqueios e acredita na própria vida como caminho concreto de bem. Quem tem esta paz não se isola do mundo, mas quer fazer aos outros a mesma experiência de perdão. Não condena facilmente, mas ajuda com verdade. A paz faz-nos estar centrados que as coisas que nos acontecem, por piores que sejam, não nos distraem do essencial, aprendemos a relativizar tudo e colocar cada coisa num projecto de crescimento.
É uma distância que aproxima e faz agir. Perante cada coisa, pergunto-me: e agora? Que possibilidade de amar me é dada? São as pessoas de paz que não desesperam, mas têm a força de encontrar soluções. Isto é um dom enorme, e o centro da qualidade da nossa Vida.
8 comentários:
Bom dia António
A forma que mais gosto de rezar é muitas vezes através do silêncio, do compasso de um instrumento interior, que é nada mais que o meu coração... no entanto, não é assim que rezo com mais frequência. Rezo muito mais com a surpresa, com a coincidência, com os toques de Deus que vejo em muitas situações rotineiras ou, às vezes, em vidas tão diferentes da minha. A minha forma de rezar é grande parte dela feita de... agradecer. E, uma enorme parte da minha oração faz-se do sorriso, constante, que Deus me provoca.
E, como numa relação com qualquer pai, também o Pai e o Filho... na que tenho com Eles também não há lugar a compensações milimétricamente medidas... basta estar atento a tantas surpresas com que Ele nos rodeia.
Ainda hoje, que consegui acomodar as necessidades de uma prioridade que já comecei a trabalhar, perante uma enorme vontade de estar num iniciativa gira, feita pela comunidade. E, na dúvida que me incomodava perante esta escolha... caiu uma enorme chuvada que foi de encontro à minha opção e depois um sol que se mostrou, logo a seguir, que me fez rir... é nestas surpresas que tantas vezes encontro a Paz de Cristo.
Bom fim de semana amigo. Boas previsões metereológicas, a anuncias sol, ai para Roma. Beijinhos, Isabel
Olá António
Mais uma excelente reflexão.
Ter Paz é ter tudo, porque esta paz não tem a ver com um processo psicológico, como diz e veio esclarecer-me.
Fiz no ano passado as Oficnas de Oração e não sei se a meditação a que se refere é do tipo da que se faz nestas oficinas.
Seja como for queria pedir-lhe se um dia podia abordar o tema Meditação.
Um abraço
Obrigado querido padre...
Uma Santa Páscoa!
Cada um pode acreditar no que quiser, mas sem fé ninguém sobrevive...na realidade o Deus é o mesmo para todos, paz.
Boa tarde e obrigado pelos comentários e partilha. A oração é o núcleo da nossa vida cristã, mas tem imensas implicações no modo concreto de estar na vida.
Concha, não conheço as Oficinas de Oração, mas pelo que diz, imagino ser também a possibilidade de rezar através de outros métodos. São muito úteis e podem ajudar muito no encontro com Deus, que depois transforma a nossa vida. Tomo nota da sugestão!
Boa semana!
Antonio
Olá.
Gostei muito da sua reflexão, e ao lê-la sente-se a paz que vem de si, é um sinal que está ligado a Cristo, ao essencial, e deste modo, vive-se em paz, não obstante de encarar a realidade da vida. Pois, acolher a paz de Cristo é um dom gratuito e livre, Ele quer, agora, aceitá-la depende de nós, se estamos disponíveis à transformação que Ele nos convida. Encontrá-Lo, não é, porém, difícil, ELE está sempre intimamente ligado a nós, embora andemos sempre extremamente alienados, quer na oração, quer na nossa vidinha e tornamos tudo um inferno, buscando sistematicamente a PAZ, que está outrora, aqui mesmo ao nosso alcance! A sorte é que Ele é Deus...não desiste de nós.
Beijinhos
Lídia
Boa noite António!
Muito obrigada pela resposta.
Paz na sua vida
A Paz de Deus tem que ser melhor que a paz dos homens... Dou-me por satisfeita quando sinto que esta última não me foge. Nem sempre é fácil, Pe Valério...
Um abraço amigo!
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