Fui ontem entregar a minha tese na Faculdade, fechando três meses de trabalho mais intenso, com a recompensa de ter conseguido terminar a tempo e fazendo algo que me deu gosto, intelectual e pessoal! Para quem seja curioso, o tema sobre o qual escrevi tem a ver com o diálogo entre a fé e a Teologia e o nosso contexto cultural actual. A especialidade que estou a tirar, Teologia Fundamental, dedica-se a estes temas.
O ponto central do meu estudo foi fazer uma descrição daquilo que as pessoas hoje vivem no dia-a-dia, encontrando os espaços onde cada um, na sua história pessoal, pode vir a pôr a questão de Deus, ou se existe algo para além desta vida e dos seus problemas que possa dar uma resposta e uma orientação à própria vida. Sendo assim, peguei nas duas etapas iniciais dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio (Principio e Fundamento e Primeira Semana) e procurei pôr em relação a proposta de Santo Inácio, e as graças espirituais que ele propõe, com os desafios que este percurso pode colocar ao discurso da fé e da Igreja para despertar e promover a disposição interior para a fé.
No Princípio e Fundamento, reflecti sobretudo sobre o modo como olhamos a nossa vida, como nos definimos, o que é a plenitude; o modo como olhamos o mundo e a nossa relação com as coisas que estão à nossa volta; e depois, neste relacionar-se com as coisas, o que significa ser livre. Como me vejo e o que quero da minha vida? Como vejo o mundo, a história e os outros? Que relação de liberdade tenho com as coisas? São as três perguntas a que procurei responder.
Na Primeira Semana, tratei da questão dos nossos limites, da nossa falta de liberdade, das desilusões e do sofrimento. Como estamos metidos num mundo onde há mal, pecado, injustiça e morte. A grande questão é assumirmos a nossa verdade de sermos frágeis e tantas vezes incoerentes com o que sabemos ser o melhor para as nossas vidas. E descobrimos que aquilo que nos restitui a vida e a liberdade é o facto que temos alguém, Jesus, que continua a acreditar em nós, nos perdoa, que é capaz de chegar ao ponto de morrer por nós.
No fundo, o que mais me ficou deste trabalho é que a fé é uma questão de reconhecer uma fronteira que somos chamados a passar sempre e todos os dias: a de viver apaixonados. Não acreditamos só com a cabeça e com aquilo que dizemos, acredita-se porque é algo natural a quem ama.
Claro que o discurso não é assim tão simples, este resumo é uma tradução das ideias principais, para que se possa perceber. O bom resultado do trabalho intelectual é que se possa aplicar à vida concreta, nisto espero ter atingido o meu objectivo. Logo verei os frutos :)