Sugestão de Lídia
Apesar de estarem ainda alguns temas para ser tratados, escrevo primeiro sobre o Advento, já que estamos no início deste tempo tão especial. Advento, como se sabe, são quatro semanas que antecedem o Natal. É um tempo forte dentro da liturgia da Igreja e é muito útil que se possa ir ao fundo desta proposta, para que o Natal tenha uma outra força.
Talvez o grande problema da pouca novidade que o Natal nos pode trazer - não só porque há dois meses a televisão e as lojas já se encarregaram de nos lembrar disso - é o facto que a festa pode ser uma rotina. Preparar o Natal é pensar nas prendas e dinheiro para as comprar, os convites e lugares da festa de família, participar nalguma acção de solidariedade, etc etc. Chega o dia, e passa... para o ano há mais.
O Tempo do Advento prepara em nós disposições de outro género. Faz-nos voltar para o interior, as nossas atitudes, mais que as coisas práticas a cumprir. Seria necessária uma consciência de que algo nos falta, para que, quando se celebra o Natal, aconteça uma Presença que ilumine e dê Vida. De facto, se virmos bem no Evangelho, o Menino Jesus não nasceu numa casa, pois estavam todas cheias e teve de nascer num lugar bem mais solitário. Corremos o risco de ter a nossa casa e o nosso coração tão cheio de embrulhos e luzes que o Menino não tem espaço para nascer!
Então, o tempo de Advento pode caracterizar-se por esta dimensão fundamental da espera. Quando esperamos, o que acontece em nós? Esperamos algo que não temos, e é precisamente a espera que dá alegria ao momento em que obtemos o que esperávamos.Todos temos imensas histórias que poderiam dar exemplo disso. Quando se espera, deixa-se o presente para centrar energias num futuro que é uma promessa feliz. Organizamos o nosso tempo para esse encontro, sonhamos com ele. Deste modo, o Advento faz-nos sair de um quotidiano sem muitas surpresas e ajuda-nos a procurar e encontrar aquilo que mais desejamos.
O Natal é a celebração do nascimento de Deus que se faz Homem. Deus que entra na nossa história, não de uma forma espectacular, mas através de uma criança recém-nascida. E não poderia ser de outra maneira, já que a predilecção de Deus por cada um de nós terá de se manifestar na forma mais concreta e próxima possível. É diante do presépio que percebemos a força da fragilidade de Deus, que se põe totalmente à nossa disposição, fazendo-se convite a acolher e adorar.
Podemos acolher esta novidade contínua de Deus, que se renova em cada Natal, de acordo com a nossa situação concreta, porque cada ano acontecem coisas diferentes e Deus entra na minha história com uma promessa e uma alegria diferentes. A grande pergunta é: onde quero que Jesus nasça? Onde quero que Deus esteja na minha história, aqui e agora?
O Advento é o tempo de preparar estas perguntas e, para isso, apresenta-nos duas figuras, que correspondem a duas atitudes:
João Baptista e a atitude de conversão. Olhar para nós mesmos, percebermos onde o nosso caminho se tem desviado do bem que sabemos e queremos para a nossa vida. A conversão não é lamento, mas orientar a nossa vida na direcção certa, comprometer-me com a minha verdade e a minha liberdade.
Maria e a atitude de entrega. Nossa Senhora aceita o convite do Anjo para ser Mãe de Jesus, sem perceber tudo, sem conhecer o que realmente estaria a acontecer. Mas é movida por uma extraordinária confiança. Se é Deus que me pede isto, quem sou eu para dizer que não? Faça-se... é o gesto mais perfeito da humanidade que é capaz de acolher Deus.
Se pudermos viver este Advento a partir destas ideias, o Natal será tudo menos uma rotina. Poderá nem ser a festa extraordinária que tivémos o ano passado, mas se a nossa esperança for completa, então o Natal significará um verdadeiro nascimento para uma Vida mais completa e autêntica.