(sugestão de Princesa)
Este tema é mais específico, para falar de um aspecto da vocação dos jesuítas, talvez não tão conhecido, que é a vocação de Irmão. O mais próprio seria que fosse um irmão a poder explicar melhor em que consiste essa vocação, mas falarei daquilo que sei e da experiência que tenho de contacto com tantos companheiros irmãos.
Ser irmão não é, de modo nenhum, uma semi-vocação. É vocação no sentido mais pleno da palavra, uma vez que corresponde à consagração de uma pessoa a Deus e ao serviço na Igreja, através dos votos religiosos de pobreza, castidade e obediência.
A Companhia de Jesus nasceu com o grupo de primeiros companheiros, reunidos por Santo Inácio de Loiola, e estes, desde o início, tiveram muito presente que o seu modo particular de servir a Igreja e consagrar-se a Cristo seria através do ministério sacerdotal. De facto, quando a Companhia é fundada, todos tinham já sido ordenados. Porém, logo nos primeiros anos, começaram a pedir para entrar na Companhia de Jesus, homens que queriam viver a mesma missão e o mesmo carisma, mas não viam que a vocação tivesse que ser necessariamente ligada ao ministério sacerdotal. Daí que começaram a existir jesuítas que vivem plenamente a sua vocação jesuítica sem serem ordenados sacerdotes.
É certo que, durante muitos anos, os irmãos tinham como parte da sua missão ajudar os sacerdotes a que pudessem desenvolver bem a sua missão, tratando de coisas mais práticas. Por isso, os serviços de casa (cozinha, roupa, etc) eram normalmente confiados aos irmãos. Mesmo que, ao longo da história, não faltassem irmãos que se dedicaram ao acompanhamento espiritual, às missões, a trabalhos relacionados com o ensino ou a arte, etc, a imagem que foi ficando é que seriam uma espécie de vocação para coisas práticas, sem ser necessária muita preparação académica. Com o passar do tempo e, mais recentemente, isso já vai sendo ultrapassado. Quem agora entra na Companhia como irmão, participa da mesma missão de um padre, sem o exercício do ministério sacerdotal, mas com a formação necessária aos diversos apostolados a que pode ser enviado: pastoral, exercícios espirituais, economia, gestão, área da saúde, ciência, arte, ensino, etc...
Com tudo isto, há dois aspectos fundamentais a ter em conta:
- Que um irmão jesuíta é chamado, tal como um sacerdote jesuíta, a viver a mesma consagração a Deus. Ambos são religiosos. É mais fácil associar um religioso ao ministério de sacerdote, pois visivelmente faz coisas que outros não podem fazer. Mas a vocação de irmão consiste num serviço, neste sentido, mais "original" e "radical", uma vez que é chamado a viver, como leigo consagrado, o testemunho da vocação religiosa, que num padre é mais evidente.
- A Companhia sempre se identificou como um Corpo para a missão, no qual convivem unidade e diversidade. Uma mesma vocação a Deus e ao carisma inaciano, mas segundo modos diversos de a viver. Esta diversidade na unidade, não só a nível de vocação religiosa, mas também a nível de culturas, idades, mentalidades, carismas pessoais, faz parte da identidade do ser jesuíta.
Por fim, da minha experiência pessoal, confesso que a maioria dos irmãos que conheci e conheço pertencem a um tempo em que estes se dedicavam a tarefas mais práticas. Com os irmãos mais novos não se passa isso, agora existem programas de formação muito aplicados aos casos concretos que existem. Mas o que sempre me tocou é o seu testemunho de vida, que me ensinaram tanto na minha formação e agora, como padre, me continuam a desafiar. Homens de Deus, que no silêncio do seu trabalho, da sua generosidade, manifestam sempre um amor enorme a Deus e às pessoas. São capazes de relações humanas de uma simplicidade e profundidade que sempre admirei muito. São para mim verdadeiros exemplos e confirmam a minha vocação no que tem de mais fundamental.