15 janeiro 2010

O preço da caridade



Sugestão de Lídia

Vou centrar este tema naquilo que se entende por Caridade. É uma das três virtudes mais importantes, para além da fé e da esperança. Uma não se entende sem as outras. A caridade tem como seu fundamento o amor que se vive em Deus, na Trindade, que expliquei num outro tema. Este amor é a entrega de toda a vida a quem se ama. Na nossa vida concreta, temos exemplos disso, quer no matrimónio, quer nas nossas relações mais profundas. O outro é de tal modo importante que pautamos a nossa existência de acordo com o bem e a felicidade de quem amamos.

Talvez tenhamos uma ideia da caridade que não é adequada, que é sermos bonzinhos. Daí que pensemos muitas vezes nos Santos como pessoas ingénuas ou incapazes de fazer o mal a uma mosca. Quando, das histórias que conhecemos, surgem-nos modelos de uma fortaleza interior e coerência de vida que nos devem desafiar. Muitas vezes, corremos o risco que, em nome da caridade, façamos silêncio ou nos desviemos de confrontos. Mas a caridade tem uma face de grande transparência e frontalidade. A caridade é verdade. Por isso, não podemos deixar de ser críticos em relação à injustiça e ao mal.

É impossível que nas nossas relações mais profundas não haja um momento em que confrontemos as pessoas, ou essas nos confrontem, com a própria fragilidade. Mas o que está por detrás não é um sentimento de superioridade, mas um desejo de autenticidade nossa e do outro. Quem ama, não tem medo das consequências, porque sabe que o amor tem a última palavra. Quem ama acredita (tem fé) e confia (tem, esperança) no outro.

O discernimento segundo o amor está numa fronteira entre olhar o outro como um mundo de bem a realizar ou como alguém a transformar à minha medida. Ao acreditar que determinada pessoa pode mudar as suas atitudes, quando este é amado, a forma de o expressar nunca será um ataque, mas um apelo à própria verdade. Na caridade existe esta transparência e esta paciência. Não se desiste à primeira, mas procura-se de todos os modos, e no tempo que for necessário, que haja alguma transformação.

Não desistir é a atitude de quem ama. Só estes podem mudar o mundo e as pessoas. Quando desistimos, fazemos do outro uma parte do nosso mundo que já não vale a pena estar atento. Mas não é este o modo de amar de Deus. Tudo é importante, e na sabedoria do coração, devemos respeitar os ritmos e sobretudo acreditar que o outro tem um valor inestimável. Daí, que o amor seja coerente, paciente e profético, no sentido em que não instrumentaliza o outro segundo as minhas expectativas, mas o aceita como é e, sobretudo como pode vir a ser.

Este será o preço da caridade, sair do comodismo e entrar num mundo de acção que verdadeiramente transforma. Muitas vezes sem resultados evidentes, mas no mundo das relações nada é previsível, só o amor pode dar alguma continuidade ao que pode vir a acontecer.


3 comentários:

Lídia disse...

Olá P. Valério

Agradeço ter aceite a sugestão e, na verdade, agradeço muito mais a excelente reflexão que nos concede.
Vai ajudar-nos a pensar, a discernir e, quem sabe a AMAR, com um coração livre, preenchido de Espírito... Viver em Caridade, viver ao estilo de Jesus...

Tudo de bom...
Beijinhos
Lídia Ramalho

Carl@ Mesquita disse...

Contruir-TU-Acção... uma boa reflexão sobre um olhar e uma atitude sobre a [nossa] realidade [sociedade].
Lindo!!Grande Beijinho=).
Feliz Domingo*

An@ disse...

"...Quem ama, não tem medo das consequências, porque sabe que o amor tem a última palavra. Quem ama acredita (tem fé) e confia (tem, esperança) no outro. ...só o amor pode dar alguma continuidade ao que pode vir acontecer."

Concordo mesmo com isto. lembro-me de quando me disseram que, quando pedimos perdão deve ser sempre pela falta de amor, pois tudo o que fazemos de errado acaba sempre por ser falta de amor nas coisas que fazemos... é bem verdade! *

 

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