26 junho 2009

Férias

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Regressei ontem a Portugal para as minhas férias, que até nem vão ser muito, com as várias actividades de verão, a ordenação, mas já estar aqui, regressar, mudar de ares, rever família e amigos é algo que descansa muito. =)

Por isso, durante os próximos meses, o blog irá tendo a actualização possível, mas procurarei ir estando presente.

Ontem, enquanto estava na viagem para cá, fui experimentando estes sentimentos que sempre me acompanham quando chego a Portugal depois de alguns meses de ausência. Que é bom termos uma história, e o contacto próximo com as nossas origens é um momento de reconciliação. Porque Re-Conciliar é voltar a pôr junto coisas que estavam separadas.

Estarmos distantes das nossas próprias histórias e das relações que nos contruíram, ou porque nos descuidamos ou porque fugimos, acaba por não nos trazer paz, porque nos arrancamos partes importantes de nós. Mesmo que não sejam acontecimentos felizes, são os acontecimentos que somos.

O facto de hoje percorrermos os caminhos que percorremos e encontrarmos as pessoas que encontramos, acontece porque a Vida nos foi trazendo até aqui. Por isso, a Beleza que a Vida hoje manifesta é o fruto de uma história conseguida e realizada.A melhor maneira de cumprir os nossos sonhos não realizados e as nossas desilusões passadas é reconciliarmo-nos com a alegria do presente.

Este é um regresso que nos faz mais nós próprios, porque atingimos uma conciencia alargada e feliz de tudo.

22 junho 2009

Construídos na verdade

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Regressei hoje dos Exercícios Espirituais, e ainda estou a aterrar, como é normal nestas ocasiões. Passeava hoje à tarde pela cidade para comprar algumas coisas que precisava e já não estava habituado ao ruído. Voltar ao dia-a-dia é sempre um momento de cair na realidade.


Faz bem poder ter distância dos nossos cansaços, porque ajuda a cairmos na conta do valor que tem cada um dos nossos esforços. Ficámos sempre muito aquém de nós próprios quando não temos nem o tempo nem o espaço para perguntarmos o porquê daquilo que fazemos.


E assim, fazemos as coisas porque têm de ser feitas e estamos longe e tantas vezes alienados da nossa actividade. O nosso esforço merece mais de nós, e nós merecemos também a recompensa do nosso esforço. Aquilo que fazemos serve à nossa construção. E essa construção mostra-nos a nossa verdade.


Verdade que estes dias descobri em cores de simplicidade e em perfumes de floresta. Verdade pacífica nascida de tempestades interiores. Verdade reconciliada com histórias passadas que somos desafiados a amar, por serem as nossas. O facto de sermos amados, porque vivemos aquilo que vivemos oferece-nos a possibilidade de termos consciência do quanto possuímos quando damos valor à Vida. Ela merece todo o nosso respeito e adoração, porque é preciosa, é de Deus, é o próprio Deus.


14 junho 2009

Algumas coisas

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Tenho andado muito ausente de escrever aqui como é habitual. Tenho tudo para dizer e ao mesmo tempo, tenho dificuldade em traduzir aquilo que sinto. A cabeça cheia de coisas, agora que chega o final do ano e estou a menos de um mês da minha ordenação sacerdotal. Coisas práticas de organização, muitíssimas, mas coisas interiores de me ir dando conta, pouco a pouco, do grande milagre que está para acontecer!

Amanhã vou sair de Roma para fazer uma semana de Exercícios Espirituais, um retiro em silêncio, para poder arrumar a casa por dentro e alargar os espaços que sinto necessários. Para isso, agradeço muito a oração nestes dias. =) Um retiro é sempre o tempo privilegiado do ano, em que o silêncio fala de um modo tão poderoso que não me deixa indiferente. A transformação interior naquilo que Deus quer da nossa Vida exige uma enorme liberdade, que neste caso é significado de querer aquilo que me é dado e sinto que nunca poderei merecer devidamente. Mas enfim... é bom ser acreditado.

Por fim, verão que do lado esquerdo, pus uma imagem com um link para a pagina do AfterPaul, que é um encontro realizado pelos jesuítas portugueses, para jovens do 11ºano aos 30 anos, de 4 a 6 de Setembro, no colégio perto de Coimbra. Celebra-se o final deste ano sobre a figura de S. Paulo e o programa apresenta momentos de oração, reflexão, workshops, espectáculos e várias actividades. Aconselho vivamente!

Até breve! Depois vou mantendo a regularidade possível, mas prometo que conto como foram estes Exercícios. Para me acompanharem mais vivamente, vou estar estes dias por aqui. =)


07 junho 2009

O último tema

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(sugestão de Missé, sj)

Se eu fosse enviado para um país onde não houvesse internet e tivesse que fechar o Blog, qual seria o tema que deixaria para o final.

Deixei ainda alguns temas para trás, mas que irei tratar logo que possa, porque exigem mais algum conhecimento e reflexão, mas este trata do que me move agora e por isso é mais fácil. Ou não... Especialmente porque estou a pouco mais de um mês da minha ordenação sacerdotal e os sentimentos são complexos e intensos. Por isso, escrevo sobre aquilo que sempre me tocou mais: o Acreditar contra tudo o que pode suceder. Isto é um testemunho muito pessoal.

Sempre vim a dar-me conta, nos últimos anos, do facto que não nos podemos iludir em relação à nossa própria bondade. Porque ela existe, se não, a Vida não faria muito sentido. Não consigo imaginar a minha Vida sem ser orientada para coisas grandes e bonitas. Acreditar nisso faz-me ter a confiança necessária para perceber a minha falta de perfeição e, ao mesmo tempo, a perfeição que sempre tive.

Nada é linear em nós, seja estados de espírito, seja aquilo que acontece na alma por causa de pessoas e situações que nos questionam. A nossa condição é uma fronteira e um limite entre poder e sofrer, domínio e derrota, sonho e desilusão. Aquilo que mais me cansa é saber tantas coisas sobre o Bem e dar-me conta que fico muito longe de o fazer presente. Presente actual em mim, ou dá-lo como presente ao que acontece em cada dia.

A fronteira é lugar de passagem, não nos deixa ficar donos de nós próprios e dos acontecimentos. E sempre que o tentamos fazer, imediatamente nos damos conta que há muitas coisas que deixamos escapar, ou que fogem de nós. Isso exige um esforço e um sofrimento para perceber que a liberdade é um desafio constante. Uma surpresa irritante.

Se a nossa condição é viver neste espaço e neste tempo que passa e não conseguimos controlar, seríamos muito desgraçados se nos resignássemos a deixar andar o relógio e ir cumprindo mais ou menos bem o concreto de cada dia. No fundo, sem termos nada de sólido, nada que permaneça além das mudanças do vento, das mãos que se fecham ou dos caminhos que deixam de esistir. E essa base sólida está em nós e é a bondade do nosso coração.

Nunca conheci uma pessoa má, e acredito que nunca virei a conhecer. Há pessoas, sim, que a Vida as fez defendidas, amarguradas, sem distância para pensar além do imediato. Que as fazem viver em mundos tão estreitos e angustiosos que precisam explodir para sobreviver.

E esta Bondade Universal é um dom. Como se o facto de estarmos vivos resultasse deste magnífico acontecimento de termos mergulhado no Amor, e nunca mais poderemos apagar as marcas que isso nos fez e nos continua a fazer. Temos uma perfeição incompleta, uma liberdade contraditória, mas também temos a perfeição que é dada e que não depende de mim.

Acreditar nesta perfeição faz-me melhor, porque me faz olhar como sou. As nossas experiências de Amor por alguém são fonte de vida para o mundo. E o Amor de Deus será então está fonte mais segura que tudo. Quem gosta de si, ama a Deus. Quem ama a Deus, gosta de si.

Porque para Deus somos os mais importantes, e por isso, acarinhados, sustentados, acompanhados. A marca desta presença é o desejo que todos temos da felicidade. E quando não a encontramos, quando a Vida nos tira todos os motivos para pensar nisso, então é a nossa parte sólida que se revolta. Chega de sermos pequeninos e confusos. Há sempre um ponto de partida um gesto que seja capaz de criar harmonia no caos, e uma luz que parta toda a escuridão. Eu e Presença de Deus, este acreditar que vence tudo e transforma todas as coisas.
PS: Obrigado pela sugestão Missé, fez-me bem escrever isto ;)

05 junho 2009

Vento

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Perguntaram-me no outro dia qual era uma das minhas metáforas preferidas. É difícil, porque normalmente associo imagens a estados de espírito, que mudam consoante o humor e aquilo que tenho presente no momento. Mas creio que uma das mais constantes é o vento.


O vento é mistério, alívio, e originalidade. É algo que passa sem tomar conta de nada. Esquece-se rapidamente. É um momento de toque da Natureza. Para mim tem um significado de recordações. Um vente quente do fim da tarde traz o calor do dia e sua história. Que passou por mim, fez-me e continuou.


O vento traz-me lembranças e desafia-me a ser livre e despojado. Muitas vezes trazemos aos ombros coisas tão pesadas que nunca levaríamos para encontros fundamentais. No encontro connosco mesmo, o vento purifica, torna mais ligeiro, olha mais para o futuro que para o presente. Perde e encontra ao mesmo tempo, porque pôe cada coisa no seu lugar certo.

03 junho 2009

Tempo de qualidade

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Encontrar aquilo que queremos passa muitas vezes por nos perguntarmos acerca do que é mais importante em determinado momento do nosso dia. A fronteira entre o útil e o agradável por vezes não é nada óbvia. Até temos a desculpa de juntar o útil ao agradável. E acontece que seja assim em muitas ocasiões.

Tenho sentido necessidade daquilo que chamo tempo de qualidade. Quando acontecem muitas coisas ao mesmo tempo, sentimos que devemos dar resposta a tudo e, no fim, fica um sentimento que não estivémos à altura do momento. Mesmo que seja uma coisa simples, mas podámos ter estado mais completos e mais inteiros ali.


Não é possível estar constantemente a pensar sobre as consequências das nossas pequenas decisões. Se trouxeram ou não a minha própria bondade ao meu dia, mas acho que fazer de vez em quando este exercício pode ajudar a ter algum treino disto. O discernimento não é só para grandes decisões, porque essas acontecem poucas vezes. A qualidade do meu tempo e do que faço com ele joga-se em pequenos pormenores. Somos, de facto, construídos pouco a pouco, e isso requer paciência e muita disponibilidade para sermos melhores.

 

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