30 janeiro 2009

Presença e ausência

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Somos constantemente confrontados com perguntas: isto será bom? o que significa? porque aconteceu? E tantas outras... Fazer perguntas é andar além do mundo que nos rodeia. Desde pequenos, que nos recordamos que os nossos pais tinham que responder a tantas perguntas feitas por nós. Quem pergunta quer saber o que se esconde para além do já conhecido, é uma espécie de aventura no mundo da ausência.

E, pouco a pouco, aquilo que nos rodeia toma forma, faz parte de nós e da nossa história. Um dia seremos nós a responder àquilo que um dia perguntamos. A ausência fez-se uma presença na nossa Vida e, por isso, podemos comunicá-la.

Há, porém as perguntas que nunca gostaríamos de um dia vir a fazer, as que têm a ver com o porquê dos nossos limites, e a experiência da nossa fragilidade. A ausência é ainda maior e é difícil encontrar presença e consolação em zonas escuras de nós. Talvez haja um caminho possível, procurarmos ser nós a habitar esta ausência, e deixá-la falar.

Talvez aí a dor possa falar de paciência e compreensão, a mágoa possa falar de perdão e o limite possa falar de esperança e realização além de todas as surpresas.

27 janeiro 2009

Paciência

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Estes dias têm sido muito ocupados com leituras e preparação de trabalhos e exames. Para além da pressão de ter de apresentar conteúdos, cada vez sinto mais uma espécie de frustração por não poder ter tempo nem espaço para parar e reflectir sobre aquilo que li. Ainda por cima, acredito que este é o objectivo principal de qualquer estudo; o resultado do exame é uma pequena parte do proveito. Mas enfim, datas e prazos são assim e o sistema obriga-nos por si mesmo a olhar a resultados mais que a profundidades.

De todos os modos, mesmo sem passar mais tempo em reflexões do que em leituras, não deixo de me interpelar por algumas questões. E hoje foi precisamente a questão dos resultados.

Faz falta ter presente a questão do facto de as coisas esistirem como são, e não ter pressa em as descrever. Um dos maiores problemas da velocidade dos nossos dias é esta pressa de dar nomes às coisas, num esforço de as tornar parte de mim. O facto de não deixar que elas sejam por um tempo elas próprias, faz perder a luz que irradiam.

Esta é a diferença principal entre contemplação e pensamento. Ao agirmos só com a cabeça e pensamentos elaborados, perdemos o pulsar das coisas e as cores da criação. Os pensamentos feitos por nós podem ser escritos, tinta negra em papel branco... poucas cores para dizer a totalidade da Vida.


26 janeiro 2009

Da amizade

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Da amizade não se pode dizer muito sem correr o risco de perder coisas importantes. Uma amizade é bonita, é das coisas mais preciosas que temos. Quando procuramos olhar apenas para a nossa paisagem, vemos que esta seria um deserto se não soprassem nela ventos de partilha e rios de confiança.

Se podemos considerar a nossa paisagem como um jardim, então veremos árvores plantadas com paciência, frutos que alegram o corpo e a alma. As amizades são sementes novas do nosso jardim, ajudam a tirar as pedras de um terreno a que somos já demasiado habituados, e a transformá-lo em solo fértil onde haja uma esperança muito concreta.

Na amizade, esta esperança está intimimamente ligada à confiança. Porque acredito em ti, confio que serás maior do que alguma vez pudeste imaginar. Tal como conhecer-te me fez ficar maior. Precisariamos recordar isto mais vezes...

PS: Se bem que este texto é escrito por alguém que, na distância, se alegra com a presença misteriosa dos amigos, hoje é dia de agradecer uma vida em especial. Parabéns! =) Aliás, agradeço a vida de todos, todos os dias.

25 janeiro 2009

Pensar além do óbvio

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Há determinados modos de pensar a que estamos tão habituados que nem sequer pomos a hipótese de que as coisas poderiam ser pensadas de maneira diferente. Há, por outro lado, lugares comuns que reflectem aquilo que acontece e que também não exigem que nos questionemos. Não é preciso desconfiarmos de tudo o que fazemos, não seria saudável! =)

Os lugares comuns a que me refiro tem a ver com o modo como exprimimos coisas importantes, em relação a Deus, em relação ao amor, à amizade, etc. Pergunto-me até que ponto viver uma relação de modo adolescente, imediato e auto-centrado, ou ter uma determinada imagem de Deus, que possa resolver os meus problemas, acaba por ser uma consequência do ambiente à nossa volta.

Acabamos por pensar num mundo e num deus feito à nossa medida, e como somos nós a olhar, este mundo é bastante mais pequeno que o que realmente é. Quando as seguranças são os meus amigos, uma relação íntima ao estilo do melhor cinema, ou uma busca de paz interior, mais psicologica que espiritual, não estamos a ter atenção à separação radical entre Eu e o Outro, que simplesmente não posso dominar. Também me devo deixar transformar!

Pensar que resolvo tudo sozinho acaba, mais tarde ou mais cedo, por me deixar perceber o óbvio de poder ter pensado um dia de modo diferente.

23 janeiro 2009

Aprender

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Uma das muitas coisas que me fascina nas crianças é a sua vontade de aprender. Por detrás desta vontade está a descoberta de um mundo enorme, que ainda não se conhece. Tudo é novidade! Entretanto, com o passar do tempo, as nossas paisagens repetem-se, mesmo que seja passear por outros lugares. No fundo, pode ser um fugir à rotina, sem, no fundo, acrescentar nada novo ao que se conhece.

Chega também uma determinada altura na nossa vida em que começamos a perguntar-nos acerca do que conhecemos e o modo como o mundo à nossa volta se encostou aos nossos hábitos ou continua a ser fonte de interpelação. A reflexão sobre o que nos acontece ajuda-nos a ver com outra claridade o modo como olhamos a Vida. Mas isso não é suficiente.

Não é suficiente pensar que eu sou suficiente, que o que sei basta para assegurar uma vida calma sem grandes sobressaltos. Creio que aqui podemos ficar a meio caminho, pessoas envelhecidas e que sabem muito, mas que não têm a vontade da surpresa, a verdadeira sabedoria das crianças.

21 janeiro 2009

Porquê perdoar?

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Falar de perdão é um tema aparentemente bonito... talvez porque todos temos a facilidade em falar dele, sem muitas vezes reparar que há conflitos não resolvidos em nós, que vão arrastando situações que acabam por nos desgastar.

Uma experiência de perdão, que certamente já tivémos, tem a característica de ser uma construção extraordinária, um encontrar caminhos perdidos, um fortalecer ainda mais profundo de laços quebrados. Por isso é tão fácil dizer que perdoar é bom. Mas estaremos dispostos a perdoar incondicionlemente?

O perdão faz-se entre o perder e o ganhar . Perdemos o nosso lugar lá no alto de nós mesmos, em que dominamos as situações e as relações, perdoar é inclinar-se para a verdade que sou e quero ser para outro. Uma outra maneira de dizer humildade. Perdoar, por outro lado, é uma surpresa que nos supera, porque implica um abrir de horizontes que dependiam da minha vontade, por vezes bem pequena, mas que acaba por ser uma verdadeira fonte de paz.

20 janeiro 2009

Procurar a alegria

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Depois de algo muito importante ter acontecido, algum momento que nos tenha preenchido a alma de modo quase total, temos dificuldade em regressar ao chão que pisamos todos os dias. Imagino uma festa preparada durante meses, em que tudo está pensado, e chega o momento da alegria de encontros, música, trocas de palavras que tragam o vento e as flores de outros tempos.

E quando termina, encontramos de novo a nossa casa vazia, desarrumada, com os restos de alegria ainda espalhados pelo chão, ou perdidos entre peças de mobiliário. O nosso espaço fica marcado por uma espécie de desarrumação desejada, e já carregada de nostalgia.

E vivemos entre coisas banais e desejos de sublime. Não seria inteligente esperar que a nossa vida fosse uma casa arrumada e programada, precisamos de espaços de festa, os momentos desejados em que arriscamos perder o comum para encontrar a novidade. A maior inimiga da nossa capacidade de nos surpreendermos é a rotina. Por isso, devíamos procurar a alegria que podemos construir, viver dela, antes e depois que aconteça; desejá-la e procurá-la é já uma forma de a viver.

19 janeiro 2009

O Tempo

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É muito comum ouvir dizer que se o dia tivesse 30 horas, seria óptimo. Daria para fazer tudo o que está programado, sem tirar horas ao sono. Eu próprio digo isso muitas vezes e sinto isso quando chego ao fim de um dia longo e vejo que ficaram por fazer muitas coisas urgentes, que se irão acumular indefinidamente.

Uma pergunta que nos poderemos fazer é se estaremos à espera de dar mais do que aquilo que podemos. Se estamos a acertar nas prioridades certas. A pressa é inimiga da perfeição, acabamos por nos gastar com coisas que não são feitas à altura dos nossos desejos.

Qual seria o remédio para podermos ter dias mais tranquilos? Não há receitas mágicas para isso, mas o facto de fazermos esta pergunta devia fazer-nos pensar. Ou então perguntar-me ao início e ao fim de cada dia: hoje, onde quero jogar a minha autenticidade, onde farei frutificar os meus dons, onde cuidarei melhor de mim e dos que estão à minha volta? Três respostas que dariam outra luz ao nosso dia.

17 janeiro 2009

Ainda sobre o amor

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Tentar falar do amor é sempre uma experiência forte, toca aquilo que em nós gurdamos num santuário próprio, é uma exploração de paisagens demasiado belas para as perdermos na linguagem, que sempre tira algo da sua verdade para nós.

Há dois aspectos que ligo a esta experiência de amar e ser amado. Um deles é o alto e o baixo, o outro é o dentro e o fora. De facto, no amor acontece a maior superação de nós mesmos, quando a nossa vida é de tal forma iluminada por outra pessoa, que identificamos os nossos dias e as nossas acções com uma entrega feliz a esta promessa realizada de que não estamos sozinhos. Por ser assim tão sublime, realizamo-nos no mais alto de nós mesmos, aquilo que sentimos, julgamos e decidimos tem uma referência intocável.

Mas o amor, por ser essencialmente estar-fora, é público, faz-me sair de mim, manifesto-me aos outros como presença realizada de algo conseguido. As pessoas que amam autenticamente são verdadeiros exemplos. Todo o amor que se esconde, que é privado, que não se assume, poderá ser uma experiência forte, mas se não espalha dom à sua volta, é porque algo não funciona. Por isso o amor verdadeiro nos faz tão transparentes e autênticos.

16 janeiro 2009

Estar apaixonado

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Li estes dias um artigo sobre o amor que me deixou estarrecido. Amor e violência. A grande questão que aparece é como até que ponto fazemos uma imagem do amor demasiado perfeita, quando este é vivido entre os nossos limites e fragilidades quotidianas. Por sermos de tal maneira inseridos em dinamismos de bem e outros de mal, entre doação e egoísmo, entre promessa e desilusão, o amor tem estes dois lados, e sendo um sentimento que arrasta tanto da nossa personalidade e existência, tem efeitos tão grandiosos como devastadores.

Se uma relação com outro, que chamo amor, começa com um fascínio total que prende cada olhar, cada gesto e pensamento, sendo que a vida de um se refere quase exclusivamente à vida do outro, acontece também que esta promessa luminosa se torne com o passar do tempo um querer limitar o outro ao meu mundo, mesmo naquilo que entendo serem os sentimentos perfeitos. Até que o outro poderá ser o meu objecto, e eu o objecto do outro, conhecido no mais íntimo, explorado em cada detalhe de mim. Até que tal situação se torna impossível, intolerável, e começa a desconfiança, a acusação, a violência...

Muitas histórias pessoais e talvez as nossas próprias histórias nos façam ver que algo disto acontece. E que fazer? Amar é um risco, é ser igual, é ter tudo e não ter nada, um olhar todos os dias novo e cheio de surpresas. Precisamos tanto cuidar o nosso olhar quendo vemos quem amamos...


PS: Tenho apenas a referência da tradução italiana do artigo: SALMANN, E. – “Amore e violenza”, in : Presenza di spirito, il cristianesimo come gesto e pensiero. Padova, Messaggero di S. Antonio, 2000, p. 466.

14 janeiro 2009

Decisão

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Hoje numa aula ouvi algo que me fez pensar e me marcou muito. Creio que nisto está muito daquilo que se pode dizer e, mais que isso, fazer, na nossa Vida. Que uma decisão parte da nossa liberdade que é interpelada por qualquer coisa exterior. Essa coisa é algo que nos é oferecido como dom e através do qual percebemos, julgamos e decidimos o nosso agir.


O que é mais central na decisão é que esta é situada num momento da nossa história muito preciso. E este momento não pode ser repetido da mesma exacta maneira. Mesmo que determinada decisão acabe por não ter consequências, eu próprio já me pus como presente a esse momento e algo nasceu, cresceu ou morreu em mim.


Numa decisão, por mais pequena que seja, joga-se a minha liberdade de modo completo, mesmo que seja em coisas comuns. Esta é a raiz da seriedade - e seriedade neste sentido, não é o oposto de alegria - que ponho em todas as minhas acções. Sobretudo se o dom que me interpela for beleza, amizade, disponibilidade, aí posso dar ao meu dia uma cor minha mais autêntica.

12 janeiro 2009

Ajuizar

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O juízo tem a ver com a verdade. Ajuizamos normalmente para dizer se uma coisa é assim ou não, se existe ou não existe, se determinada pessoa tem esta ou aquela característica ou atitude. É mais do que um dar-se conta do que é, vai além do que me apercebo, implica já qualquer coisa da minha parte, uma leitura ou uma opinião sobre o mundo e as pessoas. Ajuizar segundo a verdade não significa dizer sempre bem, por vezes implica criticar, que pode fazer doer.

Há algumas coisas que normalmente criticamos nos juízos, e sempre estamos a cair nisso: a pressa e a injustiça. Fazer um juízo correcto, que diga a verdade das coisas, que as manifeste como são, implica paciência e maturação, considerar várias perspectivas, não só a minha, mas também - e às vezes, sobretudo - a do outro.

Um juízo apressado muitas vezes é cheio de preconceitos, acabamos por dizer aquilo que todos dizem, sem dizer nada de próprio. E podemos ser injustos por causa disso, primeiro em relação a nós, porque não fomos autênticos e depois em relação aos outros, porque não lhe demos oportunidade de ser o que são.

11 janeiro 2009

Inteligência

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Normalmente associamos inteligência e cultura. Também é verdade que o saber muito de vários assuntos ajuda a esclarecer e conhecer diversas perspectivas e a pensar as coisas de outra forma. Porém, conheço muitas pessoas que não estudaram muito e, contudo, considero-as muito inteligentes.

A inteligência tem a ver com o modo como tornamos nosso o mundo que está à nossa volta. O que nos acontece é que, durante o dia, somos quase submergidos por cores, sons, temperaturas, cheiros e superfícies. Por vezes de forma tão intensa que acabamos por não sentir nada, e não temos em nós qualquer espécie de eco. Por outro lado, um som ou uma cor pode fazer parar o tempo e deixar-nos ficar suspensos no ar sem podermos acreditar no que nos aconteceu.

Ser inteligente é perceber que aquilo que me acontece, aquilo que ouço, vejo, toco com as mãos e os pés, é o meu mundo hoje, o espaço onde estou e sou. Por isso, nada do que acontece é indiferente, tudo esconde de alguma maneira perguntas e respostas. Saber fazê-las é uma arte...

10 janeiro 2009

À nossa volta

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Aqui apresento uma pequena parte de um filme italiano que vi há tempos e que gostei muito e aconselho vivamente: Il postino, de Michael Radford. Esta cena faz-me cair na conta de como aquilo que está à nossa volta torna as nossas histórias de cada dia cheias de vida, movimento e poesia.





No fundo, aquilo que muitas vezes nos traz insatisfação é não poder ter o tempo para assinalar a eternidade do que somos e do que nos acontece. Seria tão bom podemos escutar o mundo e deixar que ele nos diga os seus sentimentos.

07 janeiro 2009

Encanto

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É uma pena que um dia possamos deixar de estar encantados com a nossa Vida. Também é verdade que há alturas em que as coisas simplesmente não nos correm como desejaríamos, muitas vezes sem termos feito nada por isso. Na teoria, sabemos bem que a bonança sucede a tempestade, e como tantos momentos de crise acabaram por ser essenciais para o nosso crescimento.

Olhar com encanto uma contrariedade parece quase uma utopia. Ou uma ingenuidade acima de toda a razoabilidade. Porém, na nossa própria história e na história de tantas pessoas sabemos que é possível acontecer assim.

Precisamos muitas vezes de ser gigantes no nosso olhar, com um enorme esforço, quando os nossos horizontes são diminutos. Mas este olhar reduzido, sabemos bem, não é o nosso modo preferido de olhar.

06 janeiro 2009

Em frente a luz

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Todas as nossas opções, se um dia, felizmente, são marcadas por uma certeza de que o nosso caminho mais importante se realiza de certa maneira, são iluminadas por uma luz única. Esta mesma luz é que faz ver todas as outras dimensões da nossa vida, as quais, mais ou menos coerentemente, vamos procurando unificar neste único desejo.


Perder o contacto com esta luz fundamental e primeira, faz desviar a nossa atenção para outros brilhos, tantas vezes mais atraentes, mas que nos damos conta que duram pouco. Ou às vezes são apenas ilusões das nossas obscuridades. E não é fácil ir percebendo que luz espelha a nossa autenticidade.


Muitas vezes, damo-nos conta depois de termos errado caminho. Porém há sempre uma maneira de recomeçar, de voltar a um tesouro perdido, de nos alegrarmos excessivamente por estarmos de novo com a Vida entre as mãos. Um modo de poder recomeçar é recordar as nossas histórias longínquas e recentes, e ver que luz as faz brilhar, para escolher as que são verdadeiramente nossas.

04 janeiro 2009

Visitar

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A nossa história pessoal faz-se de momentos, lugares, pessoas, episódios marcantes que hoje iluminam aquilo que somos. Até as próprias sombras podem ser o lugar de nos aproximarmos de nós mesmos. Em todas as dimensões da nossa história, há sempre dois protagonistas: eu e Deus. A minha memória, inteligência, liberdade, por um lado e, por outro, a maravilha, a companhia e o amor.

Muitas vezes temos tendência em ficar apenas pelos nossos passos, sem nos darmos conta do modo como fomos conduzidos. Também porque a acção de Deus na nossa história não é nada evidente e só nos damos conta dias, meses, ou anos depois.

De todos os modos, eu próprio continuo o mesmo e ao mesmo tempo sou diferente. Olhando para trás encontro-me feliz, ou magoado, realizado ou esquecido. É importante ir dialogando com as nossas diversas etapas, a uma nova luz, a de ser conduzido e amado, senão, ficaremos sempre por episódios acabados que não sabemos voltar a ler e a escrever hoje.

03 janeiro 2009

Ondas

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Hoje senti falta de ver o mar... lembrei-me do verão, do som húmido das ondas. O que mais me conforta no mar é o seu ritmo, a diversidade e a sua perseverança. O mar sempre foi um mistério, esconde mais do que mostra, é demasiado grande para caber num simples horizonte. É sempre o mesmo elemento, água verde, azul, turva, mas sempre novo, calmo, agitado.


Será esta a característica que gostaria de ter? De ser imenso e espelhar o céu, de poder mostrar mistérios escondidos, ser caminho para viagens longínquas? Somos pequenos, e ao mesmo tempo capazes de tanto.


Não há duas ondas iguais, nem ondas paradas. O que faz parte do mar é o movimento e a originalidade. Que molha os meus pés parados na areia, mas leva-me ao mesmo tempo com ele... quase como um regresso à calma do mistério e uma partida para a novidade da Vida.







PS: Proponho esta música "Le onde", de Ludovico Einaudi. E ver-me reflectido neste espelho. Boa viagem =)

02 janeiro 2009

Agradecer

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Somos tantos dons! Às vezes pergunto-me porque somos tão privilegiados por podermos ter amizades profundas, pessoas que são espaços vitais onde encontramos o melhor de nós. Porque algumas pessoas têm verdadeiramente o dom de nos fazer mostrar de modo transparente aquilo que somos.

Se há alturas na vida em que parece que nada acontece de especial, é porque não estamos atentos aos pequenos sinais. E os da amizade e da estima são muito contínuos, mais do que imaginamos. Nem o tempo, nem a distância nos faz des-agarrar as relações fundamentais. E isso cria liberdade e ao mesmo tempo um afecto muito especial.

Somos dons reconhecidos, porque fazemos bem na vida uns dos outros. Isso também é uma grande responsabilidade. Por isso, agradeço cada dia tantos sinais, fazem-me melhor pessoa, e querer sê-lo da forma mais autêntica.

01 janeiro 2009

A Novidade

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O início de um novo Ano aparece sempre acompanhado de bons propósitos, sonhos e promessas. E acho isso fantástico, é um generoso sinal de vitalidade e vontade de querer agarrar a Vida e torná-la melhor segundo os nossos desejos.

Mais cedo ou mais tarde, as contrariedades, medos, desânimos e cansaços vão pôr em questão aquilo que agora fomos prometendo a nós próprios. Então porque insistimos em querer novidade, no fundo, que coisa nos move e nos faz desejar?

Temos no fundo de nós uma certeza grande no optimismo da Vida. Seria um triste sinal se não víssemos possibilidades de crescer, a todos os níveis. Se por um lado, precisamos de ser realistas, por outro, não temos alternativa em ser sonhadores. Pensar o nosso sonho de forma optimista não é, de modo nenhum, ser pouco realista. É cada dia ser capaz de conduzir as nossas energias para o que de belo e bonito temos na Vida. E tudo isto acontece, precisamos estar atentos e gostar mesmo muito do que somos e temos.

PS: E aqui ficam os votos de um Bom Ano de 2009, carregado de gestos felizes, largos e na certeza de que é possível tocar os sonhos com as mãos. =)

Florença

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Estes últimos dias estive em Florença. É um previlégio viver perto destas cidades e ter a oportunidade de visitar com calma um dos espaços que ultimamente mais me tocou. Apenas uma ideia muito simples, a partir de dois pormenores de dois quadros que aqui ponho.







A "Madonna con il Bambino" ou "Maestà di Ognissanti", de Giotto (1300-03), e a "Primavera", de Botticelli (1478). Mais de 150 anos separam estes dois quadros, que agora se podem ver a poucos metros um do outro. Chama-me a atenção o modo de representação da beleza. Desde a solenidade do mistério e da santidade è perfeição da beleza. Apesar de movidos por contextos, épocas e intenções diversas, há algo em comum. A Beleza surpreende na sua eternidade e no modo de aparecer "tocável" e visível onde quer que estejamos.


A arte tem este dom de manifestar as coisas que não se explicam. Talvez por isso cada um de nós é tão misterioso e fonte de tanta bondade.

Nascimento

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Andei um bocado afastado estes dias, ainda por cima em época especial! Mas não foram dias perdidos, antes pelo contrário, tempo de passeio, diversão, contacto com História e histórias. Normalmente vemos a nossa Vida como um sequência de momentos e pessoas que aparecem, acontecem, marcam e seguem o seu rumo. Mas continuo firme naquela ideia que cada dia nos deitamos como pessoas diferentes.

E um ano que passa é uma história encerrada até certo ponto, estamos tão diferentes depois de tantas coisas... nem temos noção do que pudemos ter feito pelo Universo. Nada fica igual depois de gestos amorosos, autênticos e agradecidos. Sobretudo aqueles que recebemos e que nos convidam a dar da mesma maneira, ou ainda melhor.

Não é indiferente para nós que o Natal seja ao fim do ano. É um nascimento feito de uma história de conquistas e presentes surpreendentes. E é tão bom poder ter consciência disso, ficamos prontos para abrir caminhos novos e autênticos.
 

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