07 junho 2009

O último tema


(sugestão de Missé, sj)

Se eu fosse enviado para um país onde não houvesse internet e tivesse que fechar o Blog, qual seria o tema que deixaria para o final.

Deixei ainda alguns temas para trás, mas que irei tratar logo que possa, porque exigem mais algum conhecimento e reflexão, mas este trata do que me move agora e por isso é mais fácil. Ou não... Especialmente porque estou a pouco mais de um mês da minha ordenação sacerdotal e os sentimentos são complexos e intensos. Por isso, escrevo sobre aquilo que sempre me tocou mais: o Acreditar contra tudo o que pode suceder. Isto é um testemunho muito pessoal.

Sempre vim a dar-me conta, nos últimos anos, do facto que não nos podemos iludir em relação à nossa própria bondade. Porque ela existe, se não, a Vida não faria muito sentido. Não consigo imaginar a minha Vida sem ser orientada para coisas grandes e bonitas. Acreditar nisso faz-me ter a confiança necessária para perceber a minha falta de perfeição e, ao mesmo tempo, a perfeição que sempre tive.

Nada é linear em nós, seja estados de espírito, seja aquilo que acontece na alma por causa de pessoas e situações que nos questionam. A nossa condição é uma fronteira e um limite entre poder e sofrer, domínio e derrota, sonho e desilusão. Aquilo que mais me cansa é saber tantas coisas sobre o Bem e dar-me conta que fico muito longe de o fazer presente. Presente actual em mim, ou dá-lo como presente ao que acontece em cada dia.

A fronteira é lugar de passagem, não nos deixa ficar donos de nós próprios e dos acontecimentos. E sempre que o tentamos fazer, imediatamente nos damos conta que há muitas coisas que deixamos escapar, ou que fogem de nós. Isso exige um esforço e um sofrimento para perceber que a liberdade é um desafio constante. Uma surpresa irritante.

Se a nossa condição é viver neste espaço e neste tempo que passa e não conseguimos controlar, seríamos muito desgraçados se nos resignássemos a deixar andar o relógio e ir cumprindo mais ou menos bem o concreto de cada dia. No fundo, sem termos nada de sólido, nada que permaneça além das mudanças do vento, das mãos que se fecham ou dos caminhos que deixam de esistir. E essa base sólida está em nós e é a bondade do nosso coração.

Nunca conheci uma pessoa má, e acredito que nunca virei a conhecer. Há pessoas, sim, que a Vida as fez defendidas, amarguradas, sem distância para pensar além do imediato. Que as fazem viver em mundos tão estreitos e angustiosos que precisam explodir para sobreviver.

E esta Bondade Universal é um dom. Como se o facto de estarmos vivos resultasse deste magnífico acontecimento de termos mergulhado no Amor, e nunca mais poderemos apagar as marcas que isso nos fez e nos continua a fazer. Temos uma perfeição incompleta, uma liberdade contraditória, mas também temos a perfeição que é dada e que não depende de mim.

Acreditar nesta perfeição faz-me melhor, porque me faz olhar como sou. As nossas experiências de Amor por alguém são fonte de vida para o mundo. E o Amor de Deus será então está fonte mais segura que tudo. Quem gosta de si, ama a Deus. Quem ama a Deus, gosta de si.

Porque para Deus somos os mais importantes, e por isso, acarinhados, sustentados, acompanhados. A marca desta presença é o desejo que todos temos da felicidade. E quando não a encontramos, quando a Vida nos tira todos os motivos para pensar nisso, então é a nossa parte sólida que se revolta. Chega de sermos pequeninos e confusos. Há sempre um ponto de partida um gesto que seja capaz de criar harmonia no caos, e uma luz que parta toda a escuridão. Eu e Presença de Deus, este acreditar que vence tudo e transforma todas as coisas.
PS: Obrigado pela sugestão Missé, fez-me bem escrever isto ;)

10 comentários:

M com versão P ;) disse...

és TÃO bom de ler...
(só falta mesmo ao vivo e a cores..)

Isabel Maria Mota disse...

Este Domingo fico com o eco das tuas palavras que, permanece sempre, durante bastante tempo em mim. Mas as de hoje foram mesmo especiais... obrigada.

Lara Saavedra disse...

Quantas vezes aqui venho, leio, fico sempre com vontade de escrever e nunca o fiz... Hoje, porém, é impossível não o fazer! Obrigada por tanto, porque estas palavras fazem todo e tanto sentido!!!

Missé sj disse...

A palavra 'feliz' não se detém no limite do contentamento, mas, na sua raiz etimológica, quer dizer: 'ser fecundo'. Desejo-te um tempo muito feliz, muito fecundo, para te abrires a mais uma mostra da Bondade de Deus: a tua ordenação. Abraço muito amigo.

Maria disse...

Depois desta leitura, apenas o reconhecimento e uma palavra de incentivo! Que o blog não páre! E que a bondade de Deus continue a enchar a tua vida e a transbordar para os que te rodeiam... e os que te lêem

Nélson Faria disse...

Absolutamente extraordinário!

Anawîm disse...

Sinto o mesmo...

Um abraço para ti... e deixa-me ficar em comunhão contigo neste tempo forte que estás a viver agora.

palmo_e_meio disse...

Fiquei a pensar que as pessoas que "assumo como sendo más", não o serão, de facto... ;)

Thiago Kuerques disse...

Deu uma paz absurda!!!

carolbardi@hotmail.com disse...

É mesmo bonito ver a maneira como falas da perfeição e da felicidade. É mesmo bom reconhecer Deus aqui nas tuas palavras e conseguir organizar os meus pensamentos com a ajuda delas. :) Identifico-me mesmo com o que dizes. Obrigada pela maneira como o fazes! Obrigada pela tua proximidade! :)

Rezo por ti! E espero estar contigo quando vieres celebrar a missa cá! :D Beijinhos e boa semana.

 

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