22 dezembro 2008

Desejos

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Esta é a altura de desejar boas festas, trocar felicitações, comemorar em família ou entre amigos. Fico com pena quendo eu próprio me dou conta de que isto faz parte de cumprir uma série de regras sociais. Ficaria mal não retribuir. Já o agradecer e desejar felicidades é muito bom, mas é pouco se se fica só pelos cumprimentos habituais.

Se nos dermos conta, não desejamos pouco às pessoas a quem dizemos que tenham um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de paz, alegria, etc. Tenho-me dado conta que desejar o bem a alguém é também um compromisso. Desejar apenas, sem gestos e intenções mais profundas, fica-se apenas num nível mais superficial. Porque os desejos de bem acabam por significar muito pouco se não vão acompanhados de gestos.

O bem que desejo para o próximo ano e para este Natal é um compromisso. De fazer o que me é possível para que aquilo que desejo realmente se concretize.

19 dezembro 2008

Claridade

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Nem poderia ser de outra maneira. Diziam-me que tenho que ser bom, que a bondade é o que caracteriza as pessoas que acolhem a vida e os outros. Por detrás da bondade, vive a paz, de estar bem consigo próprio, de aceitar o que acontece. Mesmo sem perceber tudo. De facto, o não perceber faz parte de grande número das nossas questões. Talvez seja por isso que o mistério é tão fascinante.

Sabe-se que existe algo, uma dimensão maior, que simplesmente não conseguimos fazer nossa. Quando temos a posse de todo o conhecimento, então não há novidade, e a vida fica monótona. Por isso é que há sábios de olhos apagados, sabem muito de muitas coisas, mas não dizem o que é mais importante.

Os sábios são também aqueles que sabem que não sabem tudo. E sabem como viver com o mistério, alegram-se porque não são monótonos. Por isso são fascinantes. Qualquer cor lhes traz novidade. E a preparação para o Natal é esta sabedoria, de uma claridade escondida, mas que ilumina. O mistério arrasta-nos para acolhe o sempre Novo, Jesus que se faz como nós. Também para Ele esta foi a grande novidade, por isso Ele é tão fascinante.

18 dezembro 2008

Limite ou a falta deles

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É algo evidente que que temos limites. Não conseguimos ser aquilo que sonhamos, acontecem-nos coisas que não esperamos, o nosso corpo simplesmente não está sempre a 100%. E se passamos para a nossa interioridade, aí a confusão pode ser maior. De certo modo, seria mais óbvio que estivesse nas nossas mãos mudar em nós os defeitos em virtudes. Mas isso nem sempre acontece. Ou por preguiça, ou por medo, ou por acomodação...

Há duas faces positivas do limite: a aceitação e o superamento. E duas faces negativas: a ilusão e o desistir. No fundo, está em jogo a nossa verdade e o que somos diante de nós mesmos. Um certo realismo de perceber que há coisas em nós, nos outros e no mundo que não podemos mudar. Mas também uma verdade corajosa que vê mais do que aquilo que está presente. A nossa verdade é este equlibrio e luta entre verdade presente e verdade futura.

Onde eu for mais igual a mim mesmo, no presente e no futuro, é onde os limites são mais ténues e onde as possibilidades de crescer são maiores. E é nesta tensão de descoberta e caminho que me encontro.

15 dezembro 2008

Pequenas peças

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Lá fora, enquanto cai a chuva, permaneço em lugares que procurem alguma luz. Ao mesmo tempo, sementes e árvores, traços e quadros. A Vida faz-se pontos de partida e conclusões, e pelo meio, quantidades enormes de meios caminhos. A ponto de por vezes nem se saber que livros vamos acabar de escrever.

Vivemos entre muitas histórias, nossas e dos outros e os resultados obtidos poucas vezes significam estados acabados. Ou caem no esquecimento, ou motivam novas descobertas. Porque somos assim e não somos simplesmente capazes de parar onde estamos?

É esta a nossa maior inqueitação e ao mesmo tempo o nosso maior sinal de eternidade. Simplesmente, não nos esgotamos, nem hoje, nem amanhã, nem nos próximos anos. Nem no fim da vida. Cada um dos nossos dias são estas peças presentes, pequenas, mas cheias de possibilidade de sermos cada vez mais.

14 dezembro 2008

A espera e a alegria

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Uma dificuldade que sempre tenho é perceber e ocupar os tempos de espera. Se virmos bem, acabamos por passar algumas horas da nossa semana à espera: do autocarro, da consulta do médico, do início do jogo de futebol. E são horas em que acabo por não fazer nada, porque quase nunca vou prevenido, com um livro, ou um pensamento interessante. De facto, nestes tempos acabo por pensar coisas pouco interessantes, ou fazer cuscovilhice do que passa à minha volta.

Em tudo isto, por vezes o tempo de espera é motivo para saborear o que acontece à volta, quando estou atento a isso. E esses são momentos mesmo especiais, por exemplo, quando vejo trocas de sorrisos, simpatia ou boa disposição, além das mil e uma coisas caricatas que acontecem no nosso mundo.

Por isso, a espera tem sempre uma surpresa escondida, e uma fonte de alegria. Não é apenas por estar a preparar o coração para o que vai acontecer, mas é já anticipar um encontro com a vida concreta, que não muda nada, mas torna a vida muito mais presente a mim mesmo. E, por isso, mais amável.

12 dezembro 2008

Não é o muito saber

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Santo Inácio tem uma frase nos Exercícios Espirituais que é fundamental no percurso de quem os faz: "Não é o muito saber que sacia a alma, mas o saborear as coisas internamente". Quando estou em maior fase de estudos e leituras, lembro-me muitas vezes disto, e ajuda-me mesmo muito a centrar aquilo que se está a fazer. E não só centrar, mas até tirar um peso enorme de cima. Porque se aquilo que fazemos não serve para algo que vai além de um resultado concreto, até parece que um objectivo concreto se pode tornar a meta decisiva da vida.

E ficamos a jogar o tudo ou nada em coisas que não merecem tanta importância. O saborear por dentro o que se faz é um meio para encontrarmos a razão de ser das nossas energias pessoais e dos nossos dons mais preciosos.

Mas por outro lado, o muito saber ajuda a iluminar e esclarecer a inteligência. Por isso, não deixo de ser um fascinado pelo que estudo =P. Mas acabo por encontrar mais plenitude num passeio por um jardim do que num raciocínio complicado, apesar de um bom pensamento ajudar a saborear as coisas com outra profundidade de horizonte.

11 dezembro 2008

Excesso

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Há várias formas de poder tocar e experimentar alguma da capacidade de nos maravilharmos. Em certos momentos da nossa vida, temos a impressão que soam em nós demasiados instrumentos e vozes, e nenhum deles é suficiente para expressar o facto de estarmos agradecidos, temerosos, apaixonados, desiludidos.

Sobretudo porque as emoções fortes são muito confusas e não deixam a nossa cabeça pensar em paz, e o nosso coração contemplar devagarinho. Por isso, a experiência de estarmos profundamente tocados, no bem e no mal, pela Vida exige tantas vezes mais do que aparentemente podemos estar dispostos.

E podemos talvez fazer duas coisas: ou ser mais um instrumento ou mais uma voz entre todos e ser arrastado no que me acontece. Ou arriscar um corte, um silêncio, que contraste com a força dos acontecimentos e ao mesmo tempo os conduza à sua verdade. A parte sublime da Vida acontece, quando estou disposto a deixá-la acontecer no meu silêncio, que lhe dê lugar.

09 dezembro 2008

Silêncios

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Há três tipos de silêncio.


O silêncio da cidade, que não é igual à falta de barulho e movimento. Sou um entre muitos, não apelo niguém e ninguém me apela. Uma forma moderna de solidão, uma peça do puzzle.


O silêncio construído, do meu quarto, ou o espaço de uma igreja. Onde posso parar para pensar, rezar, arrumar coisas por dentro e desenhar caminhos na imaginação.


E o silêncio oferecido, o da Natureza, que não é igual à falta de ruído e melodia, onde sou mais escolhido do que posso escolher.


Em tudo isto, gostaria de poder encontrar Presença e motivação. Grande parte dos nossos pensamentos são solitários. Mas é no silêncio onde me encontro com maior verdade, é com o silêncio que posso dizer o que as palavras não fazem soar.

07 dezembro 2008

Consequências

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As decisões que tomamos são sempre marcadas por alguma mudança, pequena ou grande, na nossa vida. Por vezes dá mesmo a impressão que a dificuldade de escolher consiste em dar-se conta que, assumindo algo, se deixa de assumir outra coisa. É uma questão de ganhar e de perder, ter nas mãos coisas maiores e deixar para trás outras menores.


Por isso, muitas vezes a tentação é procurar manter a todo o custo um equilíbrio que não faça doer muito, perder o menos possível. Mas isso nem sempre acontece.


É preciso algum realismo para ter consciência que uma escolha tem uma parte maior ou menor de sentimento de perda, de hábitos ou de comodidades. As chamadas conseqências das nossas opções fazem parte do que acontece em nós quando olhamos para o mais-além. Mas uma consciência destas não é igual a tristeza, antes é uma certeza de que somos feitos para gerar criatividade e gestos mais alargados. Braços muito cheios de coisas pequenas não abraçam coisas grandes.

05 dezembro 2008

Rever o que se faz

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Nos exercícios espirituais, santo Inácio inácio propõe como meio essencial de crescimento humano e espiritual o chamado exame de consciência. Não é uma busca difícil de coisas que vão menos bem na vida, mas sobretudo ir-se dando conta em cada dia das coisas que vão mexendo e movendo as nossas acções.

É sobretudo um desproteger-se de justificações e um esconder-se de coisas maiores, que não significa serem mais fáceis. Acredito que a principal dificuldade em não vermos o que acontece em nós é o facto de, no fundo, ou de forma inconsciente, acharmos que é mais cómodo viver o dia a dia com uma espécie de compromisso cómodo com o que acontece. É bom que se faça isso, mas não é suficiente.


O estar diante de mim mesmo, em cada dia, para ver o que me dá alegria, ânimo, tristeza, medo ou preguiça, é o que me faz ir percebendo as fontes das minhas acções e pensamentos. Até atingir uma linha de fundo daquilo que me caracteriza agora e poder investir melhor em mudar coisas concretas, em ter a vida mais agarrada desde dentro.



03 dezembro 2008

Sintonias

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Temos muitos tipos de relação. Aquela que cada vez acho mais desafiadora é a amizade. Há amizades que surgem com o passar do tempo, por se viver no mesmo sítio, ou fazer a mesma coisa durante um certo tempo. Uma sintonia que vai sendo construída. Há, porém, outras amizades que temos a sensação que surgem porque tinham mesmo que surgir. Por vezes tenho a sensação que as amizades mais profundas não nascem de uma escolha pessoal, de querer à força ser amigo e próximo, mas de um ser escolhido.

O que me faz acreditar na possibilidade de amar com liberdade é o facto de a vida nos escolher para viver partilhas e sintonias com outra pessoa que entra na nossa vida sem que estivéssemos à espera. E assim, começa a existir um mundo de confiança, de antecipações, de surpresas, de acolhimentos. Um mundo que não poderá mais deixar de existir.

Um espaço de abrigo e um lugar de verdade, onde não mostro aquilo que deveria ser -o que penso que deveria ser - mas sim onde sou aquilo que sou. E é porque este mundo me escolheu, é que posso ser perfeito nele. Só aquilo que nos cativa, de facto, nos pode tranformar.

02 dezembro 2008

O que se mostra de nós

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Hoje numa aula, um professor fez algo que me fez pensar...mostrou uma série de imagens de publicidade de roupa e mobiliário, coisas bonitas e sofisticadas. E era um convite a olhar a expressão dos modelos: e de facto, dei-me conta que raramente aparecem caras muito felizes. Aparecem muito mais caras de orgulho, aborrecimento, um tédio elegante, sensualidade, desinteresse, solidão, despreocupação. E tudo isto envolto em roupas de marca ou sofás de pele.


São imagens que me tocaram porque eu próprio tenho um culto da aparência, o mostrar que se está bem por fora e como é importante passar isso para fora através do que visto ou do que faço. E o mais interessante é que estas coisas acontecem não de forma consciente, mas faz parte de uma espécie de código de bem-estar.

Aquilo que se mostra de nós, aparece de forma muito subtil, são cores fantásticas de mundos que, no fundo são bastante irreais e vazios. E muitas das nossas preocupações vão na direcção de ter um mundo de revista completo, mas que quando se vira a página, continua tudo igual, acabamos por não escrever nada de próprio na vida dos outros.

01 dezembro 2008

Re-conduzir

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A nossa vida vai-se fazendo entre momentos de acerto e desacerto. O mais difícil é quando não conseguimos ser muito objectivos e vamos continuando a teimar em justificar aquilo que fazemos com muitos argumentos, utilizando até palavras bonitas e profundas, mas que no fim acabam por dizer pouco do que realmente poderiam significar.


Por exemplo, acontece muitas vezes que temos diante de nós qualquer coisa que devemos resolver, um passo a dar, um perdão a comunicar, ou até uma ruptura a fazer. E vemos que vamos adiando soluções óbvias. Talvez por aquilo que é radical ser tão simples, que não estamos habituados a funcionar sem os nossos esquemas complexos. No fundo, vamo-nos defendendo... até que os frutos vão manifestando a qualidade das nossas raízes.


Por isso, o querer assumir uma coisa importante na nossa vida significa uma espécie de re-condução. Não é simplesmente tomar nas mãos uma decisão e avançar contra todos os ventos e marés. As coisas mais importantes são aquelas que nos escolhem e nos apelam irresistivelmente. Somos conduzidos pela e para a simplicidade. Daí vem toda a certeza...
 

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